Nascida na residência da sua família, situada no número 514 da Rua da Boavista, freguesia de Cedofeita, no Porto, a 28 de abril de 1883,[1] Abigail de Paiva Cruz era filha de Albino José da Cruz, natural de Fajozes, e de Teresa de Castro e Paiva Cruz, natural de Moçâmedes,[2] ambos oriundos de famílias burguesas e progressistas portuguesas. Apesar do pai, capitalista e proprietário, ter falecido a 11 de novembro de 1887,[3] quando Abigail tinha apenas 4 anos, a sua mãe proporcionou-lhe uma educação e formação primorosa desde muito jovem até à idade adulta, mesmo quando à época, não era incentivada a instrução das mulheres nos ramos da medicina, advocacia ou das artes, por estarem associados a profissões estritamente masculinas. Era irmã de Adolfo de Paiva Cruz (1878), que faleceu com apenas 2 meses de idade,[4][5] e de José Albino de Paiva Cruz (1881-1957),[6] empresário e gestor da antiga Fábrica do Pego, em Santa Maria da Feira, durante a década de 1930,[7] sendo a mais nova dos três filhos e a única filha do casal.
Durante a sua estadia em França, nos anos da Belle Époque, a jovem artista inseriu-se rapidamente no efervescente e agitado meio artístico da cidade, travando fortes relações de amizade com pintores, escritores, músicos e até algumas proeminentes figuras da alta sociedade francesa, tais como o escritor e poeta Alphonse Métérié, com o qual manteve por vários anos uma longa amizade por correspondência,[11] após o conhecer em 1910, na clínica La Colline, na Suiça, enquanto recuperava de fadiga. Nesses mesmo ano, Abigail de Paiva Cruz começou a expandir o seu portfólio e a experimentar novos meios, não só com a criação de novos quadros pintados a óleo e algumas estatuetas de estilo naturalista, como também através da arte dos bordados e rendas, onde se destacou nitidamente pelos seus motivos portugueses, urdidos graciosamente à maneira de Flandres.[12]
Exposições e Carreira Artística
Com a ameaça de uma iminente guerra mundial em França, Abigail de Paiva Cruz regressou a Portugal, e em março de 1914 realizou a sua primeira exposição a solo no Palácio de Cristal da cidade do Porto, que contava com quarenta e quatro quadros da sua autoria.[13][1]
Usufruindo do seu sucesso, em 1931, Abigail de Paiva Cruz abriu uma escola de rendas em Lisboa, na Rua das Picoas, nº 9, com o intuito de apoiar não só as artes de cariz mais tradicionais como a proporcionar a instrução de um ofício às mulheres, criando a oportunidade destas ganharem uma forma de sustento e independência financeira. Devido a esta iniciativa, foi convidada pela revista Portugal Feminino a criar nas suas páginas um curso de aprendizagem de rendas de agulha, bilros e croché para as suas assinantes.
Abigail de Paiva Cruz faleceu a 8 de outubro de 1944, vítima de enterite, com 61 anos de idade, em sua casa, situada no rés-do-chão do número 139 da Avenida Miguel Bombarda, freguesia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa. Nunca se casou ou deixou descendência. Foi sepultada no Cemitério de Agramonte, no Porto, onde possuía jazigo de família.[28]