Nascido provavelmente na Grécia, nos confins do Império Romano ou em Petóvio, que tinha uma população bastante heterogênea em função de sua característica militar. Vitório falava grego melhor que latim, o que explicaria por que, na opinião de Jerônimo, seus trabalhos escritos em latim serem mais importantes pelo conteúdo que pelo estilo em De Viris Illustribus, capítulo 74[2]. Ele foi o primeiro teólogo a usar latim em sua exegese e um dos primeiros padres da Igreja a condenar os pré-milenaristas.
Suas obras foram listadas entre os livros apócrifos no decreto - posteriormente atribuído ao bispo de Roma Gelásio - que os excluiu e anatemizou juntamente com o de muitos padres do cristianismo primitivo mais antigo, o Decretum Gelasianum. Isso significa dizer que suas obras não estão livres de erros [3]. Na linha oposta, Jerônimo o honra colocando-o numa lista de diversos outros escritores veneráveis[2]. Ainda segundo ele, Vitório compôs comentários sobre vários livros da Bíblia, além de tratados combatendo as heresias de seu tempo[1].
Todos os seus trabalhos desapareceram, exceto seu comentário sobre o Apocalipse e um pequeno tratado sobre "A construção do mundo" (De fabrica mundi). Muitos estudiosos concordam que estes textos são realmente autênticas obras dele[1]. A edição de Jacques Paul Migne em Patrologia Latina (livro V, 301-44 de 1844) não deve mais ser considerada como confiável desde a descoberta de um importante códice por Haussleiter (editado no Corpus Scriptorum Ecclesiasticorum Latinorum - CSEL - 49, 1916) e atualizado para a obra-referência atual de M. Dulaey (SCh 421 - 1997).
Comentário sobre o Apocalipse
Por meio de uma visão geral muito breve, em seu Comentário sobre o Apocalipse, Vitorino entendeu as sete igrejas abordadas no Livro do Apocalipse como representantes de sete tipos de cristãos, e os sete selos do Apocalipse 5-8 como uma profecia da dissipação do Evangelho pelo mundo. Ele diz que a segunda vinda de Cristo e o Apocalipse subsequente seriam prenunciados por guerras, fome e perseguição à Igreja. O cavaleiro coroado dos quatro cavaleiros, que está sentado no cavalo branco (Apocalipse 6:1-8), é visto por Vitorino como a Igreja avançando em seu triunfo sobre o paganismo, enquanto os cavalos vermelhos, pretos e amarelos são compreendidos como representações das guerras, fomes e destruições aparentes no tempo do Anticristo. O dragão vermelho de sete cabeças de Apocalipse 12 é interpretado como o Império Romano, que por si só traz o Anticristo no fim dos tempos. O Anticristo aparece na grande batalha no céu e é expulso para a terra onde ele domina após os três anos e meio de pregação do profeta Elias. Elias e Jeremias são considerados o primeiro e o segundo anjos mencionados em Apocalipse 14, e anteciparam o tempo antes da segunda vinda de Cristo. A besta leopardo em Apocalipse 13 é então interpretada como o reino do Anticristo.[4]