Uqueba ibne Nafi nasceu nos últimos anos de vida do Profeta Maomé.[nt 2] Acompanhou o seu tio Anre ibne Alas nos primeiros raides e conquistas de cidades no Norte de África, que começou com Barca e depois prosseguiu para a Tripolitânia em 644.[nt 1] Estas primeiras incursões muçulmanas nos territórios bizantinos africanos, como a de 647, na qual foi derrotado o exército do exarca de CartagoGregório, o Patrício em Sufétula (atual Sbeitla) não implicaram ocupação permanente, tendo as tropas voltado às suas bases egípcias. Seria Uqueba que asseguraria a ocupação permanente,[nt 2] atravessando os desertos egípcios e montando postos militares em intervalos regulares ao longo do seu percurso.[nt 1] Uqueba começou por ocupar a Fazânia[4] e depois ocupou a Ifríquia, cujo governo lhe foi confiado pelo califa omíada em 663.[nt 2]
Em 670 instalou o seu acampamento numa planície, cerca de 160 km a sul do que é hoje Tunes e a 60 km da costa ainda dominada pelos Bizantinos e longe das montanhas, bastião da resistência berbere. Este acampamento, na linha de confrontação entre Bizantinos e muçulmanos e usado como base das suas operações, deu rapidamente origem à cidade de Cairuão[nt 2] (Kairouan, Kairwan ou al-Qayrawan; que significa "campo" ou "caravançarai" em persa), atualmente parte da Tunísia.[nt 1] Em Cairuão, Uqueba manda construir a sede do governo e ao lado deste a Grande Mesquita,[5] a mais antiga do Magrebe e ainda hoje uma das mais importantes do mundo muçulmano em termos religiosos[6] e artísticos.[7]
Segundo uma lenda, um dos soldados de Uqueba encontrou uma taça de ouro enterrado na areia, que foi reconhecido como um que tinha desaparecido de Meca alguns anos antes. Quando a taça foi desenterrada, apareceu uma fonte, cujas águas se dizem vir da mesma fonte das da fonte sagrada do Poço Zanzam em Meca. Esta história deu origem a que Cairuão se tornasse um local de peregrinação, depois uma cidade santa (a Meca do Magrebe) e a cidade mais importante do Norte de África.[8][nt 1]
Em 675, Uqueba ibne Nafi foi chamado de volta ao Médio Oriente, mas retomou o seu posto na Ifríquia em 681–682, durante o reinado do califa Iázide I.[9] Com o apoio de algumas tribos berberes lança um raide contra Tingis (Tânger), onde é derrotado. Morre em 683 com trezentos cavaleiros, quando caíram numa emboscada por Berberes e Bizantinos perto de Biskra.[10][11] Segundo o relato de ibne Caldune, foi a líder berbere Kahina (em berbere: Dihya) que ordenou a morte de Uqueba.[12] O túmulo de Uqueba ibne Nafi encontra-se no centro da cidade com o seu nome (Sidi Okba), no que é hoje a Argélia.[13][nt 2]
Segundo outra versão, teria sido Kusaila, também conhecido como Koceila ou Aquecil, chefe da tribo berbere dos aurabas, da confederação dos branês[nt 3] e, segundo outras fontes, líder da confederação sanhaja,[nt 4] quem teria matado Uqueba e este teria morrido ao lado do seu odiado rival Abu Almuajir Dinar.[14][nt 1]
Após serem derrotadas em Biskra, as tropas muçulmanas evacuaram Cairuão e retiraram para Barca. Cairuão seria reconquistada em 688.[14] Os descendentes de Uqueba encontram-se por uma área que vai desde o lago Chade até à costa da Mauritânia. A tribo transaeliana árabe dos Kounta reclama as suas origens a Uqueba. Na Argélia, Tunísia e Líbia, alguns dos seus descendentes são conhecidos por Ulede Sidi Uqueba (Ouled Sidi Ukba).[nt 1][carece de fontes?]
Registos históricos
A maior parte dos registos históricos que descrevem a conquista árabe do Norte de África em geral e das conquistas de Uqueba em particular são pelo menos dois séculos posteriores ao período das conquistas.[15] Embora haja muitos trabalhos académicos sobre a vida e conquistas de ibne Nafi, a maior parte delas só estão disponíveis em árabe, não tendo sido traduzidas para línguas europeias.[nt 1][carece de fontes?]
Referindo-se a Uqueba ibne Nafi como Akbah, o historiador inglês do século XVIIIEdward Gibbon, intitula-o "conquistador de África", iniciando a sua história quando «ele marchou desde Damasco à frente de dez mil dos mais valentes Árabes; a a força genuína dos muçulmanos foi aumentada pela ajuda incerta e conversão de muitos milhares de bárbaros.» Continuou depois para o interior do Norte de África. Gibbon continua: «Seria difícil, nem é necessário, traçar a linha precisa do progresso de Akbah.» Na costa do Norte de África, «os nomes bem conhecidos de Bugia e Tânger definem os limites mais certos das vitórias sarracenas.» Gibbon conta a seguir a história da conquista por Akbah da província romana da Mauritânia Tingitana:[17][nt 1]
“
O destemido Akbah mergulhou no coração do país, atravessou os ermos nos quais os seus sucessores erigiram as esplêndidas capitais de Fez e Marrocos, e por fim penetrou até à costa do Atlântico e do grande deserto [...] A carreira, embora não o zelo de Akbah foi travado pela perspetiva de um oceano sem limites. Ele esporeou o seu cavalo para as ondas, e erguendo os olhos para o céu, exclamou: Grande Deus! Se o meu percurso não fosse parado por este mar, eu ainda iria para os reinos desconhecidos do Ocidente, pregando a unidade do santo nome, e espadeirando os reinos rebeldes que adoram outros deuses que não Alá.[17]
Revue du monde musulman (em francês), 37, Mission scientifique du Maroc, 1918
Coelho, António Borges (1972). Portugal Na Espanha Árabe: Organização, Prólogo E Notas de António Borges Coelho Vol. I. Lisboa: Seara Nova
Conant, Jonathan (2012), Staying Roman : conquest and identity in Africa and the Mediterranean, 439-700, ISBN0521196973 (em inglês), Cambridge University Press
Corradini, Richard; Reimitz, Helmut; Diesenberger, Marx (2003), The Construction of Communities in the Early Middle Ages: Texts, Resources and Artefacts, ISBN90-04-10845-9 (em inglês), Brill Academic, p. 303
Gibbon, Edward (1776–1789), «LI The Conquest Of Persia, Syria, Egypt, Africa, And Spain, By The Arabs Or Saracens. — Empire Of The Caliphs, Or Successors Of Mahomet. — State Of The Christians, &c., Under Their Government.», The History of the Decline and Fall of the Roman Empire (em inglês), consultado em 22 de junho de 2013
Hattstein, Markus; Delius, Peter (2000), Islam: art and architecture (em inglês), Colónia: Könemann
Ibne Idari (1310), Colin, G.S.; Lévi-Provençal, E., eds., Al-Bayan al-Mughrib fi akhbar al-Andalus (em inglês), Leida (publicado em 1949), p. 27