A Unidade de Treino Operacional N.º 1 (No. 1 OTU) foi uma unidade de instrução da Real Força Aérea Australiana (RAAF) durante a Segunda Guerra Mundial. Criada em Dezembro de 1941 em Nhill, foi transferida para Bairnsdale em 1942, e depois para East Sale no ano seguinte. A unidade tinha como missão treinar e instruir militares para cumprirem serviço a bordo de aeronaves multi-motor. Durante o seu pico de actividade, em Agosto de 1944, operava 130 aeronaves, sendo a aeronave mais usada o Bristol Beaufort. Os seus aviões e os seus militares também desempenharam várias missões de transporte na Nova Guiné e de patrulha marítima nas zonas marítimas do sul da Austrália. Depois do cessar das hostilidades, a unidade foi dissolvida em Dezembro de 1945.
História
Durante a Segunda Guerra Mundial, a RAAF criou várias unidades de treino operacional para converter pilotos que se haviam graduado recentemente para aumentar as habilidades e os conhecimentos adquiridos, especializando-os em determinadas aeronaves e missões.[1] A Unidade de Treino Operacional N.º 1 foi formada em Nhill, Victoria, no dia 8 de Dezembro de 1941, sob a direcção do Comando da Área do Sul. O seu primeiro comandante foi A. I. G. Carr. A missão da unidade era a de treinar pilotos, observadores e atiradores para o desempenho de missões em aeronaves multi-motor. O primeiro curso teve início no dia 22 de Dezembro. Depois do treino preliminar, os pilotos entravam num período de seis semanas para se familiarizarem com o Lockheed Hudson e o Bristol Beaufort, enquanto os observadores receberiam instrução no Airspeed Oxford e no Avro Anson. O seu treino incluía bombardear posições e alvos, manusear armamento aéreo, navegação, acções evasivas, reconhecimento de embarcações e reconhecimento marítimo.[2]
Nhill esteve sempre intencionada para ser uma localização temporária para a Unidade de Treino Operacional N.º 1, cuja casa deveria ser a Base aérea de East Sale, em Victoria. Como os alojamentos de East Sale não estariam prontos até Outubro de 1942, o efectivo de 1630 militares da escola teve que ficar alojado em Bairnsdale em Junho e Julho.[2] No dia 10 de Dezembro de 1942, a Unidade de Treino Operacional N.º 1 enviou um destacamento composto por 15 aviões Hudson e 108 militares para o Comando da Área Nordeste da RAAF, para ajudar em missões de transporte aéreo urgente para a Nova Guiné.[2][3] Juntamente com onze aeronaves civis de transporte, foi formado o RAAF Special Transport Flight (Voo de Transporte Especial RAAF) que operou a partir do Aeródromo de Wards, entre 14 de Dezembro de 1942 e 11 de Janeiro de 1943. Os aviões Hudson efectuaram 645 voos, transportando cerca de 1100 militares e quase 800 toneladas de equipamento. Dois aviões foram destruídos, um devido a um ataque inimigo e outro por fogo amigável, e vários foram danificados.[3]
Em Abril de 1943 o número de efectivos da Unidade de Treino Operacional N.º 1 havia crescido para 2411 efectivos. Depois de um período de quatro dias, a partir do dia 20 de Abril, a unidade foi transferida para East Sale. A sua frota de aeronaves incluía agora 55 aviões Beaufort, 35 aviões Oxford, 25 Hudson, 14 Fairey Battle e um avião de Havilland Tiger Moth. Os cursos de treino começaram na nova base um dia depois de a transferência estar totalmente concluída. um dos estudantes deste primeiro curso em East Sale foi o futuro primeiro-ministroGough Whitlam. O Capitão de grupo Bill Garing serviu como comandante da unidade entre Agosto de 1943 e Fevereiro de 1944. Ele estabeleceu um recorde australiano no dia 19 de Janeiro de 1944, quando conseguiu aterrar um Tiger Moth no topo do Monte Wellington, para resgatar um civil.[2] Garing também tomou medidas para minimizar as preocupações das tripulações relativamente aos aviões Beaufort construídos na Austrália, depois de este avião sofrer de uma falha misteriosa que começou a causar muitos acidentes.[2][4] Quando a Unidade de Treino Operacional N.º 1 foi transferida para East Sale, a unidade já havia sofrido 47 acidentes envolvendo o Beaufort.[2] Garing organizou um espectáculo aéreoacrobático com o Beaufort para mostrar aos estudantes a capacidade da aeronave, além de organizar um "dia de base aberta" no dia 16 de Outubro de 1943; ao mesmo tempo, ordenou também uma série de testes intensivos à aeronave.[4] Apesar de tudo isto, os acidentes continuaram a acontecer, e foi graças aos esforços do Comandante de asa Charles Learmonth, imediatamente antes da sua morte a bordo de um Beaufort na costa da Austrália Ocidental, que a natureza do problema foi descoberta e reparada.[5]
Além de manter o seu programa de treino, a Unidade de Treino Operacional N.º 1 tinha frequentemente que dispensar instrutores, alunos e aeronaves para a realização de missões de patrulha marítima para proteger as rotas marítimas australianas.[2][6] Em Abril de 1943, seis aviões Hudson foram destacados para o Esquadrão N,º 32 em Camden, Nova Gales do Sul, para realizar a escolta de um comboio naval e levar a cabo missões anti-submarino.[7] Um ano mais tarde, quatro aviões Beaufort foram destacados para o Monte Gambier, na Austrália Meridional, para realizar uma escolta de dois dias ao navio de transporte holandês Van Ruys.[2] Os Beaufort da Unidade de Treino Operacional N.º 1 também foram destacados para localizar e destruir o submarino alemãoU-862, que havia atacado uma embarcação grega perto de Kingston, na Austrália Meridional, no dia 9 de Dezembro de 1944. Embora o submarino não tenha sido afundado, aparentemente ficou com receio da presença dos Beaufort e outras unidades da RAAF nas proximidades.[2] O treino intensivo da Unidade de Treino Operacional N.º 1 também incluía voo nocturno, fazendo com que a unidade estivesse constantemente em operação. Os esforços de pilotagem e instrução chegaram ao seu pico em Agosto de 1944, quando 132 aeronaves realizaram 2479 voos, instruindo assim 221 estudantes. A unidade, por esta altura, já havia ultrapassado as 100 mil horas de voo.[2] Treinou um total de 2150 tripulantes aéreos para os Beaufort durante a guerra, e sofreu 147 acidentes com aeronaves em voos de instrução e operacionais na Austrália e na Nova Guiné, o que resultou na perda de 131 tripulantes aéreos.[2] A desmobilização no pós-guerra fez com que todas as unidades de treino operacional da RAAF fossem dissolvidas; assim, a Unidade de Treino Operacional N.º 1 foi dissolvida em Dezembro de 1945.[1][2]