Johannes Nicolaus Brønsted e Thomas Martin Lowry formularam independentemente a ideia de que ácidos são doadores de prótons (H+), enquanto bases são aceptoras destes.
Em 1923, os físico-químicos Johannes Nicolaus Brønsted, na Dinamarca, e Thomas Martin Lowry, na Inglaterra, propuseram independentemente a teoria que hoje recebe o nome de ambos.[3][4][5][6] Na teoria de Brønsted-Lowry, ácidos e bases são definidos pela maneira com que um reage com o outro, o que permite maior generalidade se comparada com o conceito de Arrhenius.[7]
Seja um ácido genérico representado por HA, a reação pode, então, ser representada simbolicamente como
onde o símbolo de equilíbrio (⇌) é usado por conta de a reação poder ocorrer tanto no sentido direto quanto inverso. O ácido (HA), ao perder um próton, torna-se sua base conjugada (A−). A base B, então, aceitaria este próton, tornando-se seu ácido conjugado (HB+). Muitas reações ácido-base são tão rápidas que as espécies participantes estão usualmente em equilíbrio dinâmico umas com as outras.[8]
o ácido acético se comporta como ácido de Brønsted-Lowry pois doa um próton à água, dando origem à sua base conjugada, o ânion acetato (CH3COO−). A água se comporta como base de Brønsted-Lowry pois recebe um próton do ácido acético, dando origem a seu ácido conjugado, o cátion hidrônio (H3O+).[9]
O inverso de uma reação ácido-base também é uma reação ácido-base, porém agora entre o ácido conjugado e a base conjugada da base e do ácido da reação direta, respectivamente.[10] No exemplo acima, o acetato comporta-se como a base da reação inversa, enquanto o hidrônio cumpre o papel de ácido:
O que determina qual das duas reações irá predominar é, neste caso, a constante de dissociação ácida (Ka), que é diretamente proporcional à formação de produtos.[7]
Substâncias anfóteras
A essência da teoria de Brønsted-Lowry denota que um ácido é assim definido apenas em relação a uma base, e vice-versa. A água é anfótera devido à sua capacidade de se comportar como ácido ou base a depender do contexto. Na imagem à direita, uma molécula de H2O atua como base, ganhando um H+ e se tornando H3O+; enquanto a outra atua como ácido, perdendo um H+ e se tornando OH−.[11]
Assim, o cátion de hidrogênio — ou mais precisamente o cátion hidrônio em solução aquosa[nota 1] — é um ácido de Brønsted-Lowry, enquanto o o ânion hidróxido é uma base, o que ocorre devido à autoionização da água:[11]
Nesse caso, o cátion amônio (
NH+ 4) equivale, na amônia líquida, ao hidrônio em solução aquosa, enquanto o ânion amida (
NH− 2) seria análogo ao hidróxido. Genericamente, sais de amônio se comportam como ácidos, enquanto amidas se comportam como bases.[12]
Alguns solventes não aquosos podem se comportar como bases, isto é, como aceptores de prótons com relação a um ácido de Brønsted-Lowry:[13]
onde S simboliza uma molécula do solvente. Uns dos mais importantes solventes desse tipo são o dimetilsulfóxido (DMSO) e a acetonitrila (CH3CN), pois trata-se de solventes amplamente utilizados para a determinação de constantes de dissociação ácida de moléculasorgânicas. Como o DMSO é um aceptor de prótons mais forte que H2O, o ácido, por consequência, é mais forte nele do que numa solução aquosa.[14] De fato, muitas moléculas em meio não aquoso se comportam como ácidos, ainda que isso não se observe em soluções aquosas. Um caso extremo é o de ácidos conjugados de carbânions, nos quais um próton pode ser extraído de uma ligação C–H.[15]
Alguns solventes não aquosos podem também se comportar como ácidos. Um solvente ácido é capaz de aumentar a basicidade de substâncias dissolvidas nele. Por exemplo, o ácido acético (CH3COOH) recebe esse nome por conta de seu caráter ácido em água. No entanto, ele se comporta como base em cloreto de hidrogênio líquido, uma vez que este é um solvente muito mais ácido que o ácido acético:[16]
No mesmo ano em que Brønsted e Lowry publicaram sua teoria, Gilbert Newton Lewis propôs uma interpretação alternativa às reações ácido-base. A teoria de Lewis tem como base a estrutura eletrônica das moléculas, sendo que uma base de Lewis é definida como um composto capaz de doar um par de elétrons, cujo aceptor seria um ácido de Lewis.[17][18]
Lewis posteriormente declarou que "restringir o grupo de ácidos às substâncias que contêm hidrogênio interfere tão gravemente com a compreensão sistemática da química quanto restringir o termo agente oxidante a substâncias contendo oxigênio."[18]
A proposta de Lewis também é capaz de explicar a classificação de Brønsted-Lowry em termos das estruturas eletrônicas das espécies envolvidas:
Na representação de Lewis, tanto a base (B) quando o ácido conjugado (A−) possuem um par de elétrons livres, e o próton, que atua como ácido de Lewis, atuaria como aceptor do par de elétrons.[19]
Na teoria de Lewis, um ácido (A) e uma base (B:) formam um aduto (AB), no qual o par de elétrons é usado para formar uma ligação covalente coordenada entre A e B. Isso é ilustrado pela formação do aduto H3N−BF3 a partir de amônia e trifluoreto de boro (BF3),[20] uma reação que não ocorreria naturalmente em solução aquosa porque o trifluoreto de boro reage violentamente com água por meio de hidrólise:
O ácido bórico é considerado um ácido de Lewis em virtude da seguinte reação:
Neste caso, não é o ácido o doador de prótons, mas sim a base (H2O). A solução de B(OH)3 é ácida pois íons H+ são liberados na reação.[21]
Há grandes evidências de que soluções diluídas de amônia contêm frações desprezíveis do cátion amônio:[22]
e que, quando dissolvida em água, a amônia funciona como uma base de Lewis.[23]
Um exemplo de uma mesma substância ora encaixando-se na definição de Brønsted-Lowry, ora estando fora de seu escopo pode ser visto em substâncias anfóteras como o hidróxido de alumínio [Al(OH)3]:[24][25]
atuando como ácido de Lewis em meio básico, pois não há troca de prótons entre si;
atuando como base de Brønsted-Lowry em meio ácido.
Comparação com a teoria de Lux–Flood
Na teoria de Lux–Flood, reações entre óxidos em estadolíquido ou sólido são comparadas a reações ácido-base, o que não é levado em conta na teoria de Brønsted-Lowry. Nesse caso, um ácido é definido como um aceptor de óxido, enquanto a base seria seu doador.[26] Por exemplo, a reação:[27]
representada genericamente por:
não se enquadra no escopo da definição de Brønsted-Lowry para ácidos e bases. Por outro lado, o óxido de magnésio (MgO) atua como base de Brønsted-Lowry ao reagir com um ácido em solução aquosa:[28]
Dióxido de silício (SiO2 ou sílica) dissolvido em água também pode ser interpretado como um ácido fraco pela definição de Brønsted-Lowry:[29]
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↑ abFrancis, Eden (2003). «Amphoterism» [Anfoterismo]. Clackamas Community College. Consultado em 23 de setembro de 2019. Cópia arquivada em 11 de janeiro de 2019. The self-ionization of water is another example of water being able to react either as an acid or a base. [...] One water molecule can transfer a proton to another water molecule. One water molecule acts as an acid and the other acts as a base. [...] Equal quantities of H3O+ and OH- are made.
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