A RTP, desde o início das suas emissões regulares em 1957, emitia breves programas informativos (maioritariamente de propaganda ao regime da altura). Estes programas, porém, não eram diários. Em julho de 1959, estes programas informativos fundiram-se no Jornal RTP[1][2] que, a 19 de outubro desse ano,[3] deu origem ao Telejornal, ainda hoje em exibição e o programa mais antigo da televisão portuguesa.[4] Começou por ter duas edições diárias (no início e no final da emissão), chegando às cinco aos domingos, entre 1969 e 1974 (às 12h30, 15h, 19h30, 21h30 e 23h55).[5] Acabaria por ser reduzida a uma em 1978.
As primeiras duas edições, emitidas, respetivamente, às 20h30[6] e às 23h05,[7] foram apresentadas por Mário Pires e Alberto Lopes, com Fialho Gouveia e Manuel Caetano a servirem como locutores em off. A primeira notícias cobriu as eleições administrativas para vogais das Juntas de Freguesias.[8]
A apresentação começou por ser confiada a jornalistas profissionais, como os supracitados Mário Pires e Alberto Lopes. No entanto, a aposta não se revelou bem-sucedida, tendo sido substituídos pelos locutores de serviço até então, como Gomes Ferreira, Fialho Gouveia, Manuel Caetano, entre outros.[9]
Esta época foi marcada sobretudo, por cortes editoriais, em que, por um lado, era adotada uma estratégia de auto-censura nas notícias para não confrontar o regime do Estado Novo e,[10] por outro lado, os censores estavam encarregados de controlarem a informação transmitida. Da mesma forma, mas menos recorrente, haviam problemas técnicos.[9]
Uma das características que diferenciavam o Telejornal dos seus antecessores eram a realização de entrevistas, tanto em estúdio, como no exterior, e a possibilidade de inserir notícias de última hora, se bem que eram raras e só justificáveis em "casos especiais autorizados superiormente", comunicados através do telefone de serviço, posicionado na mesa do locutor.[9]
Durante o ano de 1961, começaram a ser emitidas rubricas fixas no final do Telejornal, onde se incluíam “Efeméride”, “Entrevista do Dia”, “Jornal da Mulher” (a cargo de Maria Emília Mota da Costa), “Reportagem”, “A Figura do Dia”, mas a prática viria a ser abandonada por falta de meios.[35] Nesse mesmo ano, a 1 de novembro, surge o primeiro serviço de meteorologia, inicialmente apresentado pelo locutor do Telejornal, substituído no ano seguinte por técnicos do Serviço Meteorológico Nacional, atual Instituto Português do Mar e da Atmosfera, cujos mapas eram desenhados a giz, antes da exibição da primeira edição do Telejornal.[36] Um dos mais famosos meteorologistas incluía Anthímio de Azevedo, que se juntou à equipa em 1964.[36]
Em 1963, o Telejornal foi emitido, pela primeira vez, a partir dos estúdios do Monte da Virgem,[37] e em 1964Adriano Parreira tornou-se colaborar do Telejornal e o primeiro angolano a apresentar o noticiário.[38][39]
Com o início das emissões da RTP2, a 25 de dezembro de 1968, o Telejornal começou a ser emitido em simultâneo ou em diferido, também, no segundo canal.[40][41] Só com o surgimento do Informação 2, em 1978, é que o Telejornal deixou de ser emitido em simultâneo. No entanto, durante o mês de outubro de 1980, voltaria a ser emitido, em diferido, após a chegada de Daniel Proença de Carvalho e a suspensão do Informação 2.[42]
A queda de Salazar e a subida ao poder de Marcello Caetano criam expetativa em relação ao relaxamento da censura. No entanto, esta continua, muito devido à intervenção direta do Presidente da RTP Ramiro Valadão nos alinhamentos (o que provocava conflitos com o diretor do Telejornal José Mensurado),[49][50][51] e à emissão de notícias muitas vezes relacionadas com visitas oficiais do então Presidente da República PortuguesaAmérico Tomás,[50][52] para além da intervenção de membros do Governo, nomeadamente o secretário de Estado da Informação Moreira Baptista, que, por várias vezes, era responsável por comentar as notícias na abertura do Telejornal.[53][54][55]
No âmbito da estrutura do Telejornal, este é alargado ao período da tarde, com uma edição às 13h45,[60][61] e foi criado um desdobramento intitulado Telejornal Regional do Norte, emitido antes da edição das 19h30 do Telejornal nacional,[51][62][63] suspenso após o 25 de abril.[64] Este espaço era apresentado, alternadamente, por Manuela de Melo e António Vidal, e Fátima Torres e José Melo.[65] Para além disso, o filme começou a ser substituído gradualmente pelo vídeo para a exibição de notícias.[49]
A emissão do Telejornal desse dia estava prevista ir para o ar às 13h45, durante o período da hora de almoço.[67] No entanto, apenas às 18h41 é que a emissão vai para o ar, com Fernando Balsinha e Fialho Gouveia a lerem comunicados do Movimento das Forças Armadas.[68][69] A programação normal continuou a ser emitida, apesar de ser interrompida sempre que oportuno durante as horas seguintes, atualizando a situação política do país e mostrando, pela primeira vez, as imagens do Movimento das Forças Armadas no Quartel do Carmo, e nos estúdios do Lumiar e do Monte da Virgem, para além das capas dos jornais nacionais e telegramas das agências internacionais, a cobrirem o acontecimento.[66][70]
Durante os meses seguintes, o Telejornal passou a ocupar um lugar privilegiado na programação, cobrindo eventos como o primeiro Primeiro de Maio em liberdade,[73][74][75] e todo o ambiente revolucionário do ponto de vista da população, denunciando situações de pobreza e de degradação habitacional.[76][77] Nessa altura, a duração é alargada, chegando a ter duas horas de emissão.[68][76]
Desta forma, torna-se no principal espaço informativo da televisão, atualizando o país sobre os eventos como a renúncia de António de Spínola[78] e o 11 de março de 1975. Foi, também, no Telejornal apresentado por António Santos, que foram emitidas as últimas imagens do chamado PREC, quando o capitão Duran Clemente, segundo-comandante da Escola Prática de Administração Militar, apareceu na antena da RTP1 para explicar a situação do controlo das antenas de emissão da RTP pelos comandos.[68][79][80][81][82][83] As "questões técnicas" que presidiram à queda da emissão e a sua substituição pela exibição de um filme de Danny Kaye simbolizaram o fim da tensão política que culminou na crise de 25 de Novembro de 1975.[68][83] Nos dois dias seguintes à crise, a RTP passou a transmitir através dos estúdios do Porto.[84]
A 16 de outubro de 1978,[95] com a reformulação da RTP2 (na altura chamado II Programa), a RTP1 sofreu uma reestruturação, alterando, o nome do Telejornal para Jornal RTP-1, tendo voltado para o seu nome original a 15 de outubro de 1979.[96]
Em 1980, aquando da campanha eleitoral para as eleições presidenciais, o então Presidente do Conselho de Administração da RTP, Daniel Proença de Carvalho, fez um despacho extraordinário, em que impede a RTP de fazer a cobertura eleitoral.[107] Em resposta, os jornalistas da RTP entraram em greve, a primeira praticada por jornalistas da televisão, na qual, na RTP2, toda a redação aderiu à greve, o que conduziu à apresentação de uma das emissões do Telejornal, feita por Henrique Garcia, como sendo o "telejornal dos jornalistas da RTP em greve pelo direito de informar".[107] O despacho acabou por ser revogado, e a campanha eleitoral foi cobrida.[107]
A 21 de março de 1983, o formato sofreu uma mudança, alargando o seu período de emissão para 1 hora (em comparação com os trinta minutos anteriores), com a introdução de comentadores especializados e ligações diretas aos estúdios da Madeira, Açores e Porto.[108][109] A adesão de Portugal na CEE também motivou a emissão do primeiro Telejornal em direto do estrangeiro, nomeadamente de Estrasburgo, a 18 de junho de 1987.[110]
As FP-25 de abril viriam a ser, em 1985, um dos principais meios de polémica do Telejornal, em que uma conferência de imprensa feita de forma clandestina e transmitida no Telejornal,[111] levou o Ministério Público a levar a tribunal Manolo Bello, Carlos Fino e outros jornalistas por "apologia do terrorismo".[112] Acabariam por ser absolvidos.[112]
Em 1986, a RTP mudou-se para os estúdios da Avenida 5 de Outubro, com mudanças no formato do Telejornal: a introdução de dois apresentadores para notícias gerais, e um terceiro para notícias do desporto.[113] Nesse mesmo ano, o Telejornal deixou de ser exibido diariamente, substituído pelas edições de fim de semana Jornal de Sábado e o Jornal de Domingo,[114] que viriam a terminar em 1994.[115]
Judite de Sousa, Manuela Moura Guedes (até 1994), Artur Albarran e José Rodrigues dos Santos, que deixa o 24 Horas, passam a ser apresentadores principais do Telejornal em 1991. O noticiário (agora com apenas uma edição por dia) ganha novas régies, imagem e novo estúdio, que mostravam televisores em fundo, com o horário a consolidar-se às 20 horas, que se mantém até hoje.[118]
O século XX terminou com uma nova renovação do Telejornal, com um novo estúdio e uma nova imagem, feita em parceria com a BBC Broadcast (atual Red Bee Media), e com um pivot específico para apresentar as novidades do desporto, como Cecília Carmo e Laura Santos.[138] Esta figura viria a desaparecer em 2002.
Século XXI
O século XXI começou com a notícia insólita de um homem, chamado Manuel Subtil, que se barricou na sede da RTP, exigindo uma indemnização à RTP e afirmando que se suicidaria. Acabou por se entregar horas depois e condenado a quatro anos de prisão com pena suspensa, sendo o caso notícia de abertura em todos os canais.[139][140]
Ainda no ano anterior, em 2002, o Escândalo da Casa Pia tornou-se na principal notícia do ano, à medida que eram revelados os suspeitos por crimes de pedofilia, que culminaria na leitura da sentença, em 2010.[141][155][156]
Em 31 de março de 2004, o Telejornal ganhou um novo estúdio, com a transferência para as novas instalações da RTP em Cabo Ruivo.[157] Entretanto, Judite de Sousa tinha voltado a apresentar o Telejornal ao fim-de-semana.
Em 26 de maio de 2008, o Telejornal ganha novo genérico e novo cenário. Em simultâneo, passa também a ter a apresentação de João Adelino Faria, que tinha deixado recentemente a SIC Notícias.[158] Com este grafismo, o Telejornal comemorou os seus 50 anos, em 2009 com uma emissão especial, que incluiu a visita de antigos pivots, como Manuel Caetano, Dina Aguiar, Maria Elisa Domingues, entre outros.[159][160] No âmbito dessa comemoração, a RTP lançou no seu site oficial e na plataforma MEO o serviço "O Meu Telejornal", em que os espetadores podiam criar os seus próprios noticiários com as reportagens que quisessem ver no site oficial.[161][162]
Em 14 de janeiro de 2013, a RTP, decidiu encurtar o Telejornal em 15 minutos, ficando reduzindo a 45 minutos, sendo acrescentado um espaço de análise da principal notícia do dia: o 360º. A apresentação do Telejornal e do 360º fica a cargo de José Rodrigues dos Santos e de João Adelino Faria, durante a semana. Ao fim-de-semana, o Telejornal retomava os 60 minutos, com a apresentação de Cristina Esteves, que viria a sair em 2018.[165]
Em Setembro de 2013, a RTP recuou e aumentou o Telejornal para 75 minutos, eliminado os informativos das 21h00. Os comentários semanais de José Sócrates e de Nuno Morais Sarmento passam igualmente para o interior do Telejornal, deixando de ser autónomos.[166] Porém, a partir de Setembro de 2014, os comentários ganham de novo autonomia e deixam o Telejornal, sendo este reduzido para 60 minutos de duração.[167]José Rodrigues dos Santos e João Adelino Faria continuam a alternar semanalmente a apresentação do programa mais antigo da televisão portuguesa.
Em 7 de março de 2016, dia em que a RTP comemorou 59 anos, o Telejornal ganha um novo genérico e um novo cenário, inspirado nos grafismos da RTP3, o canal de notícias da RTP. Em 2018, o Telejornal e o Jornal da Tarde passaram a ser emitidos em simultâneo na RTP3, que terminaram em março de 2019.[168]
A 18 de outubro de 2019, o Telejornal emitiu uma emissão especial comemorativa dos 60 anos, que incluiu testemunhos de antigos pivots[169] e a estreia de uma nova sonoridade para o genérico, da autoria da Orquestra do Teatro Nacional de São Carlos, conduzida por Joana Carneiro.[170]
A 18 de outubro de 2024, foram comemorados os 65 anos do Telejornal, com uma emissão especial de 1h30,[185][186] e um novo arranjo do genérico, da autoria da dupla Beatbombers (DJ Ride e Stereossauro),[187] assim como um ciclo de talks sobre as histórias da história do noticiário.[188][189]
Nas audiências, o Telejornal tem vindo a oscilar entre o segundo lugar e o terceiro,[190] conseguindo, por vezes, o primeiro, contra o Jornal da Noite da SIC, e o Jornal Nacional da TVI.[191]
Estrutura
A estrutura do Telejornal é dividida em várias áreas editoriais, como Política Nacional, Sociedade (saúde, criminalidade, tribunais, sindicalismo, entre outros), Desporto, Informação Internacional, Cultura e Economia, divisão essa que se reflete na organização dos alinhamentos das emissões, com cada notícia a ter uma duração média de 1 minuto e meio de emissão.[192]
O alinhamento dos telejornais é decidido em reunião prévia entre os diretores de informação e os editores das várias áreas. Ao mesmo tempo, as equipas de reportagem são enviadas para cobrirem os mais variados acontecimentos, onde recolhem imagens para redigirem as notícias que vão para o ar na emissão. A decisão sobre a notícia de abertura cabe ao coordenador do Telejornal.[193]
De acordo com um estudo produzido em 2014, os temas editoriais do Telejornal estavam divididos da seguinte maneira: Sociedade (38,2%), Internacional (17,8%), Economia (16,9%), Política Nacional (16,1%), Desporto (9,7%) e Cultura (1,4%).[192]
Em junho de 2023, José Rodrigues dos Santos viralizou na Internet, ao anunciar a morte dos ocupantes do OceanGate Titan, por ter começado a edição do Telejornal de 22 de junho de 2023[222] dizendo, de forma dramática e pausada: "Boa tarde. Morreram... todos!" A frase inspirou inúmeros memes e piadas.[223] Foi também incluída numa atuação do grupo português de música eletrónica Karetus, durante um espetáculo no Entroncamento.
↑Lopes, Anabela de Sousa; Duarte, Assuncao Goncalves; Cardoso Lopes, Fátima; Godinho, Jacinto; Coutinho, Manuel Carvalho; Mata, Maria J. (setembro de 2022). «O jornalismo visual em Portugal: contributos para uma história». O jornalismo visual em Portugal: contributos para uma história. Consultado em 12 de fevereiro de 2024
↑Teves, Vasco Hogan. «As emissões regulares». museu.rtp.pt. Consultado em 12 de fevereiro de 2024
↑ abRita Ferro Rodrigues, Francisco Menezes (31 de março de 2010). «O que é feito de Isabel Wolmar». A partir do minuto 1. SAPO Vídeos. Consultado em 11 de março de 2018
↑ abDIAS, Patrícia Costa (2011). A Vida com um Sorriso - Histórias, experiências, gargalhadas, reflexões de Isabel Wolmar. Lisboa: Ésquilo. p. 69. ISBN978-989-8092-97-7. OCLC758100535|acessodata= requer |url= (ajuda)