Tapi Yawalapiti (Terra Indígena do Xingu, Mato Grosso, c. 1977) é uma liderança indígena do povo Yawalapiti, educador, linguista, e representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e do Parlamento Indígena do Brasil (Parlaíndio).[1][2][3]
Descendente de uma família de caciques dos povos Yawalapiti e Kamayurá, o ativismo de Tapi Yawalapiti se caracteriza pela luta em favor da manutenção da floresta, do cuidado do rio Xingu e seus afluentes, da proteção da terra e preservação da cultura do povo Yawalapiti, inclusive tendo defendido uma dissertação de mestrado em Linguística na Universidade de Brasília sobre a língua yawalapiti, buscando estudar meios de preservá-la.[3][4]
Biografia
Nascido aproximadamente em 1977, na Aldeia Yawalapiti situada na Terra Indígena do Xingu, Tapi é filho de Aritana Yawalapiti, cacique do povo Yawalapiti, situado no Alto Xingu, e neto de Kanato ou Kanatu[nota 1], que foi uma das primeiras lideranças de seu povo que aprendeu o idioma português e, por isso, desempenhou o papel de mediador cultural que contribuiu para a criação e demarcação da Terra Indígena do Xingu, e de Teporí, filha de um cacique do povo Kamaiurá; além de ser bisneto do cacique Aritana ou Urutsi, falecido na década de 1930 durante uma das guerras interétnicas que ocorriam no Alto Xingu.[6]
Na Aldeia Yawalapiti, Tapi começou a desempenhar importantes papéis socioculturais em seu povo, como se observa no fato de seu pai lhe conferiu a responsabilidade de ser o dono do ritual Takuara, enquanto seu pai, o então cacique Aritana era dono da flauta apapalu, conduzindo o ritual e contribuindo para o equilíbrio cosmológico da aldeia como um todo.[6]
Com o ritual Takuara chefiado por Tapi e a condução da flauta apapalu por Aritana, a casa do antigo cacique servia como fonte de alimentação e recursos rituais das festas mais frequentes dos Yawalapiti. A grande hospitalidade empregada durante os rituais realizados na Aldeia Yawalapiti fez com que Aritana assumisse a posição de putaka wüküti, levando o antigo cacique a representar a coletividade de seu povo em sua pessoa, apresentando-se perante chefes vizinhos e seus mensageiros[6]. Esse papel político acabou sendo relevante no futuro para que o seu filho Tapi viesse a desempenhar a mesma função.
Entre 2011 a 2014, ele exerceu o cargo de Vice-Presidente do Instituto de Pesquisa Etno Ambiental do Xingu (IPEAX), enquanto seu pai era o presidente dessa associação.[7]
Pouco tempo depois, entre 2014 a 2016, Tapi foi nomeado Presidente do Conselho Local de Saúde Indígena do Alto Xingu do Pólo-Base Leonardo Villas Bôas (CONDISI Xingu), atuando em favor da saúde indígena daquela circunscrição territorial do Alto Xingu.[7]
Assim, na vida adulta, Tapi já estava consolidado como liderança indígena, casado com a indígena Mitsy e com filhos, quando, por estímulo do pai, ele passou a se deslocar para Barra do Bugres, onde ingressou no ensino superior oferecido pela Faculdade Intercultural Indígena da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Lá ele cursou a licenciatura intercultural indígena e acabou se formando em 2016, onde apresentou um trabalho de conclusão sobre as pinturas corporais do povo Yawalapiti.[5]
Em seguida, Tapi prosseguiu os seus estudos em pós-graduação, cursando o mestrado em Linguística na Universidade de Brasília (UnB) onde ele desenvolveu uma pesquisa sob a orientação da professora doutora Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. Em 2021, ele defendeu a dissertação de mestrado em que apresenta os resultados de sua pesquisa, obtendo o título acadêmico de mestre em linguística pela UnB..[3][4]
Sobre o ativismo indígena de seu pai e sua continuação em defesa do povo Yawalapiti e de sua cultura, afirma Tapi:
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Meu pai morreu lutando em prol dos povos indígenas, defendendo a terra, falando em direitos dos povos, indo ao Congresso falar com os deputados. Falei para eles [o povo Yawalapiti] que vai ser difícil para a gente ter outra pessoa como o meu pai. Meu pai era um diplomata. Ele tinha paciência com as pessoas, sabia conversar sem ter gritaria ou ferir a pessoa. (...) Para a nossa cultura, a nossa religião, o meu pai está junto com o espírito da floresta, o espírito do rio e o espírito da terra. Ele está acompanhando de longe, dando força para mim, para o povo. Ele continua vivo, juntamente com o espírito da terra, com a floresta.
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— Tapi Yawalapiti[8]
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Sucessão política
Após a morte de seu pai por complicações decorrentes da Covid-19 em agosto de 2020, Tapi Yawalapiti o sucedeu como cacique dos Yawalapiti e, desde então, vem exercendo o papel de principal liderança política da Terra Indígena do Xingu na condição de "Cacique-geral do Xingu".[9]
Em 2022, Tapi foi um dos escolhidos para integrar o grupo de trabalho sobre Povos Originários da Equipe de Transição do Governo Federal realizada entre os governos Bolsonaro e Lula da Silva, junto com outros indígenas como Joênia Wapixana, Célia Xakriabá, Juliana Cardoso e Sônia Guajajara.[7]
Notas
- ↑ A despeito de alguns registros acadêmicos, como em João Carlos Almeida (2023) mencionarem a grafia Kanato, o próprio Tapi utiliza a grafia Kanatu para se referir a seu avô.[5]
Referências