Como autor, compositor e cantor, personifica perfeitamente a sua música O Homem dos Sete Instrumentos. Multifacetado, representou já em filmes, séries televisivas e peças teatrais. A dramaturgia surge com a assinatura de algumas peças de teatro assumindo-se também como realizador.
Biografia
Sérgio Godinho nasceu em 1945, no Porto. [2] A mãe e o tio tinham tido formação musical, o que o influenciou em criança, e o pai era, na descrição de Sérgio Godinho, um melómano; cedo se habitou a ouvir música, sobretudo francesa e anglo-saxónica.
Com apenas 20 anos de idade, Sérgio Godinho deixou a licenciatura em Economia e partiu para o estrangeiro. O primeiro destino foi a Suíça, onde estudou Psicologia durante dois anos; nessa altura teve entre os seus professores Jean Piaget. A seguir, mudou-se para França, vivendo o Maio de 68 na capital francesa. No ano seguinte, integrou a produção francesa do musical "Hair", onde se manteve por dois anos. Em Paris, privou com outros músicos portugueses, como Luís Cília e José Mário Branco. Sérgio Godinho ensaiava então as suas primeiras composições, na altura em francês.
Em 1971 participou no álbum de estreia a solo de José Mário Branco, intitulado Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como músico e como autor de quatro das letras. Em 1971 fez a sua estreia discográfica com a edição do E.P. Romance de Um Dia na Estrada, a que se segue, o seu primeiro L.P., Os Sobreviventes. Três dias após a sua edição, o disco foi interditado, depois autorizado, e depois novamente proibido. Não obstante, o disco foi eleito «Melhor disco do ano» e Godinho recebeu o prémio da Imprensa para «Melhor autor do ano».
Em 1972 Sérgio apresentou um novo álbum, Pré-histórias, que inclui um das canções mais emblemáticas da sua carreira, A noite passada. No mesmo ano voltou a colaborar com José Mário Branco, como letrista no álbum Margem de certa maneira.
Em 1973 Sérgio Godinho mudou-se para o Canadá, onde se casou com Sheila Charlesworth, sua colega na companhia de teatro The Living Theatre.[3] Integrou a companhia de teatro Génesis. Estabeleceu-se numa comunidade hippie em Vancouver, e foi aí que recebeu a notícia da Revolução do 25 de Abril, que o levou a regressar a Portugal. Já em terras lusitanas, editou o álbum À Queima-Roupa (1974) um sucesso que o fez correr o país, actuando em manifestações populares, frequentes no pós-25 de Abril.
Havendo regressado a Portugal após a revolução democrática do 25 de Abril de 1974, Sérgio Godinho tornou-se autor de algumas das canções mais unanimemente aclamadas da música portuguesa: Com um brilhozinho Nos olhos, O primeiro dia, É terça-feira, para citar apenas três.
Em 1977, colaborou em dois temas da banda sonora do filme Nós por Cá Todos Bem, realizado por Fernando Lopes. O seu quinto álbum de originais, "Pano-cru", foi editado no ano seguinte. Em 1979, foi editado o álbum Campolide. O disco viria a ser premiado com o "Prémio da crítica Música & Som" para melhor álbum de música portuguesa desse ano.
Em 1980, voltou a colaborar com o realizador José Fonseca e Costa, desta vez no clássico do cinema português, Kilas, o Mau da Fita. O álbum com a banda sonora do filme foi editado nesse mesmo ano. Canto da boca, novo álbum de originais, foi também editado em 80, havendo recebido o prémio de "Melhor disco português do ano", atribuído pela Casa da Imprensa e, ainda, o Sete de Ouro para o "Melhor cantor português do ano".
Em 1983, no seu álbum Coincidências, incluiu temas compostos em parceria com alguns dos mais reputados músicos brasileiros — nomes como Chico Buarque, Ivan Lins ou Milton Nascimento — algo até então inédito na produção musical portuguesa.
Nos seis anos que se seguiram, Sérgio Godinho gravou mais três álbuns de originais — Salão de Festas, Na Vida Real e Aos Amores. Foi também editada a colectânea Era uma vez um rapaz (1985) e o álbum para crianças Sérgio Godinho canta com os Amigos do Gaspar (1988).
Em 1990, apresentou o espectáculo "Sérgio Godinho, Escritor de Canções", onde revisitou as suas músicas sob uma nova perspectiva — apenas dois músicos acompanhantes e num auditório mais pequeno, neste caso o Instituto Franco-Português, onde fez 20 espectáculos de grande êxito. Desses espectáculos saiu o álbum ao vivo Escritor de Canções.
Foi autor da série Luz na Sombra, exibida pela RTP 2 no Verão de 1991, onde abordou em seis programas algumas das profissões menos conhecidas do mundo da música: letristas, técnicos de som, produtores, entre outras. Em 1992, realizou três filmes de ficção, de meia hora cada, com argumento e música igualmente seus. Estes filmes, com o título genérico de Ultimactos, foram produzidos para a RTP, que os exibiu em 1994.
Escreveu ainda O pequeno livro dos medos, obra infanto-juvenil, que também ilustrou.
Voltou à música em 1993, com o disco Tinta permanente e o espectáculo A face visível, ambos merecedores dos maiores elogios da crítica e do público.
Em Novembro de 1995, foi editado o disco Noites passadas, que foi gravado ao vivo em três espectáculos realizados no Teatro S. Luiz em Novembro de 1993 e no Coliseu de Lisboa em Novembro de 1994. Recebeu também o Prémio Tenco e é convidado a participar na compilação de Natal Espanta-espíritos com o tema Apenas um irmão em dueto com PacMan (vocalista da banda Da Weasel).
Em Junho de 1997, foi editado o disco "Domingo no Mundo, produzido por Manuel Faria, que contou com a participação de músicos e arranjadores de diferentes áreas musicais: (Pop, Rock, Popular, Erudita, Jazz). O disco foi apresentado com enorme êxito no Teatro Rivoli e no Coliseu de Lisboa, nos espectáculos de nome Godinho no mundo.
Em 1998, foi editado o álbum Rivolitz, gravado ao vivo nos espectáculos do Teatro Rivoli e no Ritz Clube, em Lisboa.
Dois mil e um foi o ano dos 30 anos de carreira. O aniversário foi marcado pelo lançamento de “Biografias do Amor”, uma colectânea de canções de amor, e de “Afinidades”, uma gravação dos espectáculos em conjunto com os Clã.
Ligação Directa foi o álbum de originais que se seguiu. Editado a 23 de Outubro de 2006, pôs termo a um interregno de 6 anos durante o qual o cantautor não produzira novos discos de originais. O álbum é composto por 10 temas, todos da autoria de Sérgio Godinho, com excepção de "O big-one da verdade", cuja música é de Hélder Gonçalves (dos Clã), e de "O Ás da Negação", cuja música é de Nuno Rafael que também foi responsável pela produção e direcção musical do álbum, que contou ainda com a participação de Manuela Azevedo, Hélder Gonçalves, Joana Manuel, Tomás Pimentel, Nuno Cunha, Jorge Ribeiro e Jorge Teixeira como músicos convidados.
Junta-se a José Mário Branco e Fausto para os concertos Três Cantos Ao Vivo em 2009.
Doze de Setembro de 2011 marcou o seu regresso aos discos de originais, com "Mútuo consentimento". Com o habitual grupo de músicos que o acompanham há vários anos (Os Assessores) gravou 12 novas canções, que resultaram do seu método habitual de composição: "Olhar à volta e ver o que se passa".
Em 2013, gravou o disco "Caríssimas canções" que resultou de uma série de crónicas para o jornal Expresso e que também foi editado em livro. Dois mil e quatorze foi o ano de "Liberdade ao vivo" e do livro de contos "Vidadupla" (Quetzal, 2014).
Juntou-se a Jorge Palma para uma digressão em conjunto que também deu origem a um disco.
"Coração mais que perfeito" (Quetzal, 2017) foi o nome do seu primeiro romance.[4]
"Eu o que faço é tentar contar coisas, falar de coisas, fazer interrogações à minha maneira e saber que há pessoas que são tocadas por isso", sublinhou o cantautor, aos 66 anos.
Essas interrogações são "contos de um instante", como canta numa das canções do novo disco, e tanto podem falar de amor ("Intermitentemente"), como da situação do país e das incertezas do presente ("Acesso bloqueado").
Em 2018, com 72 anos, regressou com o disco de originais "Nação Valente". As letras são todas da sua autoria, mas em apenas duas é também autor da música: as restantes composições resultam de colaborações com José Mário Branco, Hélder Gonçalves, Nuno Rafael, Pedro da Silva Martins e Filipe Raposo.
É autor de Grão da Mesma Mó, uma das 150 canções, que constam na antologia As Palavras das Canções, organizada por João Calixto, editada com o apoio da Sociedade Portuguesa de Autores. [9][10][2]
↑ abCalixto, João (2024). Antologia: As palavras das canções. Lisboa: Guerra e Paz e Sociedade Portuguesa de Autores. pp. 167–168. ISBN978-989-702-970-7