Ode (do grego antigo ᾠδή ōidē) é um poema de estilo particularmente elevado e solene, elaboradamente estruturado, descrevendo intelectual e emocionalmente a natureza e o mundo.
Origem
Segundo Maddison, "a história da ode começa com o humanismo do Renascimento e a sua adoção da palavra grega erudita "ᾠδή," ode, vinda de "ἀείδειν," cantar, que não era em si um termo técnico, para superar a palavra latina carmen, mais familiar. Tal como carmen, derivado de canere [em latim, o verbo "cantar"], não significava mais que canção, mas no uso dos humanistas do Renascimento era o de uma canção à maneira da antiguidade, distinta da tradição medieval. (...) Assim, os humanistas inventaram um novo género poético, um poema que celebra a experiência contemporânea no gosto antigo.".[1]
De facto, já em 1549, Joachim du Bellay escrevia no seu manifesto poético La Défense et illustration de la langue française: "Lê, então, e, primeiramente, relê, ó futuro poeta, desfolha dia e noite os exemplares gregos e latinos, deixa-me pois todas essas velhas poesias francesas nos Jogos Florais de Tolosa e no Puy de Rouen (...). Canta-me essas odes, ainda desconhecidas da Musa francesa, com as cordas do alaúde de acordo com a lira grega e romana (...)".[2]
A obra de Horácio ("Carmina", em latim), constitui o modelo mais influente nas odes na literatura ocidental (só igualado por Píndaro),[3] isto é, grande parte das odes dos séculos posteriores foram inspiradas pelos poemas de Horácio.[4] O poeta de Venúsia inspirou-se em temáticas e metros dos autores gregos arcaicos, adaptando-os à realidade cultural e social de Roma: Píndaro louvou, nas suas canções corais, as virtudes dos atletas, heróis e deuses; Anacreonte cantou os prazeres do amor e do vinho; Alceu dedicou-se a compor poemas sobre banquetes, temas políticos e amorosos; Safo escreveu hinos aos deuses e versos de forte carga sentimental.[5]
Em 1865, Antero de Quental publicou as suas vanguardistas Odes Modernas, tratando de temas filosóficos e sociais. Igualmente, no século XX, Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, resgatou a ode do esquecimento e, partindo de uma base estética e formal horaciana e arcadista, compôs várias odes. Por outro lado, o heterónimo Álvaro de Campos reimaginou este tipo de poesia para a sociedade contemporânea em composições como a Ode Triunfal e a Ode Marítima.[7]
Não há forma poética mais lábil do que ode - ela cobre temas tão diversos como o louvor (a uma pessoa, a um país, a uma ideia, a um objecto, etc.), a reflexão intelectual ou sentimental, a exortação à ação, militar ou civil, entre outros.
Estrutura
Na poesia portuguesa, tradicionalmente, desde o Renascimento, a composição da ode vernácula foi realizada utilizando combinações de decassílabos e hexassílabos, de modo a imitar as curtas estrofes dos poemas horacianos, que utilizam geralmente 4 versos. Desde então, foram muito populares a "lira" (estrofe cujo esquema de rimas é aBabB, em que as letras minúsculas representam versos de 6 sílabas e as maiúsculas versos de 10 sílabas), amplamente utilizada por Camões, e outras estrofes semelhantes.
↑MADDISON, Carol (1960). Apollo and the Nine - A History of the Ode. Baltimore, Maryland: The Johns Hopkins Press. 2 páginas. The story of the ode begins with Renaissance humanism and its adoption of the learned Greek word, "ᾠδή," ode, from "ἀείδειν," to sing, itself not a technical term, to supersede the more familiar Latin word carmen. Like carmen from canere it meant no more than song, but in the use of the Renaissance humanists it meant song in the antique manner as distinguished from one in the medieval tradition. (...) Thus the humanists invented a new poetic genre, a poem celebrating contemporary experience in the ancient taste.|acessodata= requer |url= (ajuda)
↑DU BELLAY, Joachim (1549). «Défense et illustration de la langue française». Wikisource. Consultado em 23 de novembro de 2018. Lis donc, et relis premièrement, ô poète futur, feuillette de main nocturne et journelle les exemplaires grecs et latins, puis me laisse toutes ces vieilles poésies françaises aux jeux Floraux de Toulouse et au Puy de Rouen : comme rondeaux, ballades, virelais, chants royaux, chansons et autres telles épiceries, qui corrompent le goût de notre langue et ne servent sinon à porter témoignage de notre ignorance. Jette-toi à ces plaisants épigrammes, non point comme font aujourd’hui un tas de faiseurs de contes nouveaux, qui en un dizain sont contents n’avoir rien dit qui vaille aux neuf premiers vers, pourvu qu’au dixième il y ait le petit mot pour rire : mais à l’imitation d’un Martial, ou de quelque autre bien approuvé, si la lascivité ne te plaît, mêle le profitable avec le doux. Distille, avec un style coulant et non scabreux, ces pitoyables élégies, à l’exemple d’un Ovide, d’un Tibulle et d’un Properce, y entremêlant quelquefois de ces fables anciennes, non petit ornement de poésie. Chante-moi ces odes, inconnues encore de la Muse française, d’un luth bien accordé au son de la lyre grecque et romaine, et qu’il n’y ait vers où n’apparaisse quelque vestige de rare et antique érudition.
↑JUMP, John D. (1974). The Ode. Londres: Methuen & Co Ltd. pp. 3–9|acessodata= requer |url= (ajuda)