Mumadona Dias (em castelhano: Muniadona Díaz; m. depois de dezembro 968[a]) foi condessa do Condado Portucalense e a mulher mais poderosa do seu tempo no noroeste da Península Ibérica.
Biografia
Filha do conde Diogo Fernandes e da condessa Onega ou Onecca,[1][2][b] possivelmente tia do rei Ramiro II de Leão, foi uma célebre e rica mulher, a mais poderosa no Noroeste da Península Ibérica, é reconhecida por várias cidades portuguesas devido ao seu registo e acção.
Mumadona casou entre 915 e 920 e antes de 23 de fevereiro de 926 — alturam em que aparecem juntos pela primeira vez[3][4][5][c] — com o conde Hermenegildo Gonçalves, passando, porém, a governar o condado sozinha após o falecimento do seu esposo entre 943 (quando o conde aparece pela última vez) e 950, o ano quando Mumadona, já viúva, fez a partilha com seus filhos dos bens herdados.[6][7] O conde Hermenegildo deixou-a na posse de inúmeros domínios, numa área que coincidia sensivelmente com zonas que integrariam os posteriores condados de Portucale e de Coimbra.
Entre a segunda metade de 950 e começo de 951, por inspiração piedosa, fundou, na sua herdade de Vimaranes, um mosteiro sob a invocação de São Mamede (Mosteiro de São Mamede ou Mosteiro de Guimarães),[8] onde, mais tarde, professou. Pouco depois de 959, para a proteção desse mosteiro e das suas gentes contra as incursões dos normandos, determinou a construção do Castelo de Guimarães, também chamado Castelo de São Mamede,[9][10] à sombra do qual se desenvolveu o burgo de Guimarães, vindo a ser sede da corte dos condes de Portucale.
O documento testamentário no qual faz a doação de seus domínios, gado, rendas, objetos de culto e livros religiosos ao mosteiro de Guimarães, datado de 26 de janeiro de 959,[8] é importante por testemunhar a existência de diversos castelos e povoações na região.[11] Devido às "incursões dos infiéis, que haviam assolado as proximidades do cenóbio",[10] no codicílio com data de 4 de dezembro de 968, entregou o castelo ao mosteiro.[9][12]
Apesar de não ser a fundadora da Póvoa de Varzim (Villa Euracini) e de Vila do Conde (Villa de Comite), o seu registo é pioneiro ao incluir pela primeira vez essas villas. Os topónimos de Aveiro (Suis terras in Alauario et Salinas) e de Felgueiras (In Felgaria Rubeans villa de Mauri) também aparecem no documento testamentário de Mumadona Dias como o primeiro a fazer referência escrita a essas terras.
Onecca Mendes, casou antes de 26 de Janeiro de 959 com Guterre Rodrigues.[3]
Nuno Mendes, morreu entre 951 e 959, pois ainda estava vivo em 950, aquando da repartição feita dos bens de seu pai. Já havia morrido por 959, quando sua mãe fez a dotação do Mosteiro de São Mamede e refere-se a seu dulcissimus mihi pignus Nunnus.[17]
[a]^ O historiador Mario Cardozo comenta que Mumadona ainda vivia em setembro de 992 quando Mummadomna prolix didaci (Mumadona filha de Diogo) recebeu uma doação de bens em Barreiros e Soutelo.[5][19] No entanto, a destinatária da doação foi sua neta homónima, filha de Diogo Mendes, que foi freira no Mosteiro de Guimarães.[13]
[b]^ Possivelmente Onega foi membro da família real de Pamplona devido à origem de seu nome e o nome de seu filho Jimeno e outros descendentes.[20] Poderia ser a filha de Leodegúndia, provável filha do rei Ordonho I que casou com um infante ou nobre do Reino de Pamplona.[21][22] Onecca aparece em Dezembro de 928 no Mosteiro de Lorvão com seus quatro filhos, Munia, Ledegundia, Ximeno e Mummadomna fazendo uma doação por Veremudo dive memorie, referindo-se ao infante Vermudo Ordonhes, filho do rei Ordonho I e provavelmente irmão de Leodegúndia, portanto, tio de Onecca.[23] Este documento é também confirmado pelo conde Hermenegildo Gonçalves, o esposo de sua filha Mumadona, e Rodrigo Tedoniz, provavelmente o esposo de sua filha Leodegúndia.
[c]^ Em 926, o rei Ramiro II doou aos condes Hermenegildo e Mumadona a vila de Creximir perto de Guimarães.[24]
Mattoso, José (1970). «A nobreza portucalense dos séculos IX a XI». Lisboa: Instituto de alta cultura. Centro de estudos históricos. Do tempo e da história (III): 35-50. OCLC565153778
Mattoso, José (1981). «As famílias condais portucalenses dos séculos X e XII (publicado originalmente em Studium Generale 12 (1968-1969) pp. 59–115)». A nobreza medieval portuguesa: a família e o poder. Lisboa: Editorial Estampa. pp. 101–157. OCLC8242615
Torres Sevilla-Quiñones de León, Margarita Cecilia (1999). Linajes nobiliarios de León y Castilla: Siglos IX-XIII (em espanhol). Salamanca: Junta de Castilla y León, Consejería de educación y cultura. ISBN84-7846-781-5