Mignon (História)

Caricatura de um "Mignon" denunciando seu carater efeminado.
Surgida em 1605 na L'Isle des Hermaphrodites de Thomas Artus.

"Mignon" [1] (em tradução livre, "Fofinho") eram os favoritos dos grandes senhores na França no século XVI. O termo, nessa época, era totalmente desprovido de qualquer conotação homossexual. Ele só adquire essa conotação a partir do reinado de Henrique III (1551-1589), época em que os cortesãos adotam um estilo de vida refinado que se torna alvo de riso para o povo. Nos séculos XIX e XX, passa a designar mais propriamente os favoritos de Henrique III da França.

Os "Mignons de Couchette" (Os "Fofinhos de Leito")

É uma expressão utilizada pelo escritor Pierre de Brantôme para designar os "mignons" do Rei Carlos VIII de França. Quando um favorito estava em evidência, tinha a insígne honra de dormir no quarto real. Era uma maneira do rei recompensar seus servidores mais fiéis.

Durante o Renascimento, o quarto real é considerado sagrado e poder dormir aí na própria presença do rei - considerado representante de Deus na Terra - era a maior consagração de um cortesão.

Henrique II da França foi um grande adepto desta demonstração de favor. Ele a usou muito com Anne de Montmorency que, por diversas vezes, teve o supremo privilégio de dormir com ele em sua cama. Este tipo de comportamento chocava os embaixadores estrangeiros, que depois acostumavam-se já que a França era conhecida por sua grande familiaridade.

Sob a impulsão de Henrique II e, sobretudo, de Henrique III, os costumes da Corte de França evoluiram. Já não se entrava no quarto real como se entrava antes. O quarto real tornava-se ainda mais sagrado e as pessoas a quem era permitido tal privilégio eram objeto dos maiores ciúmes, o que encrudecia a zombaria contra aqueles a quem se chamava vulgarmente de "mignons de couchette" ao final do século XVI.

Os "Mignons" de Henrique III

Henrique, Duque de Anjou (1570)
O príncipe faz-se notar por sua elegância e seu gosto pela moda.

No reinado de Henrique III, os cavalheiros que frequentavam a Corte de França vestiam-se com um refinamento desmesurado que chocava os honestos burgueses. Tendo por modelo o próprio rei, os cortesãos fardavam-se, empoavam-se e frisavam seus cabelos. Usavam brincos, rendas e colarinhos pliçados.

Estes cortesãos tornam-se objeto de zombaria por parte do povo. O motivo é que tolera-se mal, numa corte que sempre promoveu a virilidade bruta e considerava o refinamento como fraqueza, a tendência de Henrique III e seu séquito para a cultura das festas e o gosto pelas aparências.

Os favoritos de Henrique III são o centro das zombarias. O rei promove para a Corte homens da pequena nobreza, a quem dá importantes responsabilidades. Henrique III pretende valer-se destes homens para governar. Sua Corte vê então surgir um círculo restrito de favoritos que conseguiam, graças a seu protetor, uma fortuna fulgurante.

Os primeiros a associar a palavra « mignon » à homossexualidade são os calvinistas. Hostís a toda frivolidade, estes protestantes condenam ardentemente os fenômenos da Moda e proíbem a prática da dança, usada pelos católicos. Frente à mania pela futilidade da Corte dos Valois, eles dedicam-se a denunciar a atitude efeminada dos cortesãos, o que era feito de forma desproporcional.

A imagem dos "Mignons" veiculada pelos protestantes é rapidamente tomada pela Liga Católica que vai desenvolver uma vasta campanha de desinformação contra Henrique III e sua Corte[2]. A propaganda difamatória da Liga prossegue mesmo após o assassinato do rei por Jacques Clément (1589).

Entre os favoritos mais célebres de Henrique III figuram os nomes de:

Nome Imagem Nascimento Morte Título Nota
Louis de Bérenger c. 1540 31 de outubro de 1575 Senhor de Guast
François d'O 1545/50 c. 1594 Senhor de Fresne e Maillebois
Henri Ébrard 1553 20 de dezembro de 1576 Senhor de Saint-Sulpice
Jacques de Lévis 1554 29 de maio de 1578 Conde de Caylus
Louis de Maugiron 1560 27 de abril de 1578 Marquês de Saint-Saphorin
François d'Espinay 1554 8 de setembro de 1597 Senhor de Saint-Luc

Ver também

Referências

  1. Na tradução literal do termo para o português, as palavras que melhor traduzem o sentido são "bonitinho", "delicado", "doce", "fofinho"
  2. A temática dos "Mignons" na Corte de Henrique III é assunto do romance histórico "A Dama de Monsoreau", de Alexandre Dumas Pai.

Bibliografia

  • Nicolas Le Roux, La faveur du roi, Mignons et courtisans au temps des derniers Valois (vers 1547-vers 1589), Seysse, Champ Vallon, 2001.
  • Monique Chatenet, La cour de France au XVI siècle, vie sociale et architecture, 2002, Picard
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