Ao menos 70 (estimativa feitas por organizações de direitos humanos)
O Massacre de Cité Soleil, oficialmente Operação Punho de Ferro (do inglês:Operation Iron Fist), foi uma operação dos capacetes azuis da MINUSTAH liderada pelo general brasileiro Augusto Heleno. Ocorreu em 6 de julho de 2005 em Bois Neuf, partição da Cité Soleil, a maior favela do Haiti.[1] A MINUSTAH, liderada por brasileiros, estava sendo pressionada pelos Estados Unidos, França, Canadá e pela elite haitiana a pacificar o país mais rapidamente.[2][3] Já havia acontecido outras operações da Polícia Nacional do Haiti na região para neutralizar membros da Lavalas, um movimento de apoio ao ex-presidente Jean-Bertrand Aristide.[4] A operação foi descrita como a mais sangrenta feita pela Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti.[5]
Operação
Seu objetivo era assassinar Emmanuel "Dread" Wilmer, e contou com 440 soldados, com apoio de 41 veículos blindados e um helicóptero, além de outros mil soldados no perímetro.[1][6] A ONU e a imprensa o classificou como um líder de gangue apoiador do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, mas ele era visto em Bois Neuf como um lider comunitário.[5][4] A operação durou do amanhecer ao entardecer. As tropas bloquearam as saídas da área com veículos armados e contêineres, e não levaram unidades médicas ou transportaram os feridos para hospitais.[1][6] Oficialmente, a ONU declarou que durante as sete horas de operação, foram disparadas 22.700 balas, 78 granadas e 5 bombas de morteiro, que resultou na morte de sete membros de gangue, incluindo Wilmer.[7][2]
No dia 9, Wilmer foi enterrado pela comunidade. Havia rumores que as tropas da ONU fariam um segundo ataque, e muitos fugiram quando viram soldados fazendo trabalho de rotina em pontos de vistoria na favela.[5]
Denúncias de mortes arbitrárias
Porém, surgiram muitas denúncias de mortes arbitrárias. A população denunciou que o exército teria matado civis desarmados. Suspeitava-se que, pela quantidade de munição gasta, deveria haver muito mais vítimas. Várias das casas possuiam marcas de tiro de armas de fogo e tanques de guerra, além de tiros no teto, provavelmente disparados pelo helicóptero.[5] Muitas das mortes foram capturadas em fotos e vídeos. O Médicos Sem Fronteiras também denunciou que havia tratado de 27 pessoas com marcas de bala em seus corpos. 20 delas eram mulheres e crianças, além de uma mulher grávida que perdeu seu filho durante a cirurgia. Um porta-voz do governo haitiano se negou a comentar sobre a operação. Ainda, o embaixador dos Estados Unidos no Haiti James Foley afirmou que os soldados da MINUSTAH não ficaram no local para verificar as casualidades e o vice-embaixador Douglas Griffiths afirmou que as acusações que a missão matou vinte mulheres e crianças era crível. Uma delegação americana de trabalho e direitos humanos visitou Cité Soleil e hospitais da região no dia 9 de julho, e não encontrou evidências que a MINUSTAH tenha ido em qualquer hospital até o momento. Outros relatos afirmam que os soldados que estavam sobrevoando a partição com helicópteros atiraram nas residências civis. No dia 29 de julho, o Sub-Secretário das Operações Pacificadoras Jean-Marie Guehenno afirmou que "[...] pode ter havido casualidades civis".[1][4][6][7]
A Reuters realizou uma investigação baseada em relatórios vazados pela Wikileaks escritos por integrantes da ONU e diplomatas dos Estados Unidos, e concluiu que o número de vítimas foi ao menos 70 pessoas, incluindo mulheres e crianças.[8] Outras estimativas afirmam que morreram de 30 a 40 civis.[3]
Reação da MINUSTAH
A MINUSTAH, porém, se mostrou satisfeita com a operação. Juan Gabriel Valdés, chefe civil da missão no Haiti, afirmou que os soldados de Augusto Heleno tinham o direito de revidar caso atacados, e que não havia como fazer uma investigação para determinar o número de mortos. A ONU pediu esclarecimentos, e o relatório enviado afirmava que a operação havia sido "essencialmente satisfatória".[6] Augusto Heleno questionou o motivo dos grupos de direitos humanos estarem preocupados com a vida de criminosos e considerou a operação um sucesso.[5][9]