Desempenhou um papel considerável no seio do Partido Girondino e levou seu marido ao primeiro plano da política francesa.
Infância e Adolescência
Manon Roland é filha de Gratien Phlipon (também escrito como Philipon), mestre gravador da place Dauphine e homem abastado. Desde a mais tenra idade, Manon é uma criança inteligente, de caráter firme e resoluto, mostrando grande aptidão para os estudos e um espírito vivo e entusiasta. Com oito anos, apaixona-se pela leitura da (em francês) Vie des hommes illustres (Vida dos Homens Ilustres) e Plutarco permanece como um de seus autores favoritos. Sua paixão por este escritor perdura ao longo de sua vida — depois por Bossuet, Massillon, e por outros autores de mesma veia, Montesquieu e Voltaire. A leitura de "La Nouvelle Héloïse" (A Nova Heloisa), de Jean-Jacques Rousseau, consegue consolá-la da profunda tristeza que sente pela morte da mãe e o autor torna-se seu professor. Com a maturidade de seu espírito, abandona a ideia de entrar para o convento e adere entusiasticamente à república que a impregnava desde o início de seus estudos. Ela é inspirada por seus estudos, com cinismo e audácia. Em 1774, com vinte anos, fixa-se por algum tempo no Palácio de Versalhes, tomando como um insulto o desprezo que a nobreza tem pela burguesia. Manon não esquecerá jamais o ódio que sente nesta ocasião.
Casamento
Com a mãe morta, a jovem dedica-se aos estudos e à manutenção da casa de seu pai. Bela, a "atitude firme e graciosa", o sorriso "terno e sedutor", Manon tem numerosos pretendentes, mas recusa todas as propostas de casamento. Em 1776, conhece o virtuoso e severo Jean-Marie Roland de La Platière, vinte anos mais velho que ela, seu igual tanto no nível intelectual quanto em caráter. Em 4 de Fevereiro de 1780, depois de muitas hesitações, Manon casa-se com Roland e desta união nasce Eudora Roland.
A vida comum
A vida conjugal não encanta de forma nenhuma Manon, nem a vida cotidiana ao lado do inspetor de manufaturas que a usa em suas pesquisas sem se preocupar com suas aspirações. Casada com toda a seriedade da razão, confessa ela em suas "Memórias", não encontrava nada que me atraísse; devotava-me com a plenitude mais entusiasmada que calculada. Por força de não considerar senão a felicidade de meu parceiro, percebi que faltava alguma coisa à minha. A família mora em Amiens e depois na região de Lyon. Nos primeiros tempos de seu casamento, Madame Roland escreve artigos políticos para o jornal (em francês) Courrier de Lyon (Correio de Lyon). Quando o casal ganha Paris, em fins de 1791, a Revolução Francesa dá enfim a Manon a ocasião de acabar com esta vida morna e monótona. Entusiasmada pelo movimento que se alastra, joga-se com paixão na arena política e começa a desempenhar um papel cada vez mais ativo.
A Revolução Francesa
Seu salão, na Rua Guénégaud, em Paris, torna-se ponto de encontro de diversos homens influentes da época, como Brissot, Pétion, Robespierre, e outras elites do movimento popular, notadamente Buzot. É quase inevitável que Madame Roland se encontre no centro das aspirações políticas e que presida um grupo dos mais talentosos homens progressistas. Graças a suas relações no seio do Partido Girondino, seu marido torna-se Ministro do Interior, em 23 de Março de 1792. A partir de então, do prédio ministerial da Rua "Neuve des Petits Champs", Manon transforma-se na alma do Partido Girondino. Barbaroux, Brissot, Louvet, Pétion, e também Buzot, participam dos jantares que ela oferece duas vezes por semana.
Com Buzot, Manon Roland reparte uma paixão recíproca. No entanto, permanece fiel a Roland, este "venerável ancião" que ela "ama como a um pai". Ao lado de seu marido, ela desempenha um papel essencial no Ministério do Interior, redigindo notadamente a carta na qual Roland pede ao Rei Luís XVI que desista de seu veto, carta que provoca sua demissão em 13 de Junho de 1792. Quando seu marido reassume a pasta, após o 10 de Agosto, Manon dirige mais do que nunca seus escritórios. Após os Massacres de Setembro, que a revoltam mas contra os quais não age, ela dedica a Danton um ódio a cada dia mais feroz. Tão inteira e encarniçada em seus ódios quanto em suas afeições, a musa dos Girondinos ataca Danton de forma cada vez mais violenta, pela voz de Buzot. Sabendo de onde partem os ataques, o tribuno grita: "Temos necessidade de ministros que olham por outros olhos que não os de sua esposa". Manon, a partir daí, fica furiosa. Ao mesmo tempo, os Montanheses multiplicam seus ataques contra os Girondinos e, em particular, contra Roland.
O fim
O Ministro do Interior pede demissão e sua esposa distancia-se da política e de seu querido Buzot. Mesmo com os girondinos declarados proscritos, em 31 de Maio de 1793, Madame Roland não foge de Paris, como poderia ter feito e como fazem, entre outros, seu marido (que escapa para Ruão) e Buzot, mas deixa-se prender, na manhã de 1.º de Junho de 1793, e é encarcerada na Prisão de Abadia. Desligada do mundo, libertada da presença do marido, Manon encara sua prisão como um alívio e escreve para Buzot, em uma das páginas da correspondência apaixonada que ambos trocam então: Acarinho estes ferros onde estou livre para amar-te sem partilha. Madame Roland ainda é libertada, em 24 de Junho, permanece solta por uma hora e é novamente detida e colocada em Saint-Pélagie e depois transferida para a Conciergerie. Na prisão, é respeitada pelos guardas e alguns privilégios lhe são acordados. Entre esses privilégios, ela pode obter material para escrever e pode receber visitas ocasionais de seus amigos mais devotados. É lá que escreve seu Appel à l'Impartiale Postérité (Apelo à Posteridade Imparcial (em português)), suas memórias dedicadas à filha Eudora, onde mostra uma estranha alternância entre elogios pessoais e patriotismo, entre o insignificante e o sublime.
Madame Roland é julgada em 8 de Novembro de 1793. Vestida de branco, ela apresenta-se diante do Tribunal Revolucionário. O processo desenrola-se das 9h às 14h30. Manon sobe com grande serenidade, quase com alegria, na charrete que a conduz ao local do suplício. Sua sentença é posta em execução na mesma noite, em plena Praça da Revolução (rebatizada depois como Praça da Concórdia). Passando à frente da Estátua da Liberdade (instalada para comemorar a Jornada de 10 de Agosto de 1792), ela teria exclamado, um pouco antes da queda da lâmina da guilhotina: «Ó Liberdade, quantos crimes cometem-se em teu nome!».
Dois dias depois, tomando conhecimento da morte trágica de sua mulher, Jean Marie Roland suicida-se, em 10 de Novembro, perto de Ruão. Buzot, que só fica sabendo da morte de Madame Roland em Junho de 1794, também é encontrado morto, junto com Pétion, em Julho de 1794, perto de Saint-Émilion; provavelmente os dois suicidaram-se com veneno.
A pequena Eudora, tornada órfã, foi recolhida por Jacques Antoine Creuzé-Latouche. Com a morte deste último, em 1800, é o célebre mineralista e botanistaLouis-Augustin Bosc d'Antic, grande admirador de Manon Roland, que se encarregará da educação da pequena órfã. Apaixonando-se por ela, então com a idade de catorze anos, ele se distanciará dela. Alguns meses mais tarde, Eudora se casará com outro admirador da mãe.
Referências
↑A grande maioria dos historiadores atribui-lhe o nome Phlipon.
Lettres de Madame Roland (Cartas de Madame Roland) de 1767 à 1780 publicadas por Claude Perroud, Imprimerie Nationale, 1913-1915
Lettres de Roland à Bosc (Cartas de Roland a Bosc) publicadas por Claude Perroud, Noël Charavay Paris (sd,após 1902)
Dix-huit Lettres de Madame Roland (Dezoito Cartas de Madame Roland) publicadas por Claude Perroud, Noël Charavay Paris (sd,após 1905)
Nouvelles lettres de Madame Roland (Novas Cartas de Madame Roland) publicadas por Claude Perroud, Noël Charavay Paris (sd,após 1909)
Pierre Cornut-Gentille, Madame Roland : une femme en politique sous la Révolution (Madame Roland : uma Mulher na Política sob a Revolução), Paris, Perrin, 2004. 400 p. ISBN2-262-01681-X
Alain Decaux, André Castelot (dir.), Le Grand dictionnaire d’histoire de France (O Grande Dicionário da História da França), Paris, Perrin, 1979.