A maior parte dos falantes do abcázio vive no território da Abcázia, na costa ocidental do Mar Negro, onde (desde 1995) a constituição da Geórgia garantiu a sua condição de segunda língua oficial do país. Fora de sua área de origem, o abcázio é falado por milhares de pessoas da "diáspora abcázia" (século XIX), principalmente na Turquia, Geórgia (região de Adjara), Rússia, Síria e Jordânia, além de comunidades de refugiados abcázios na Europa e Estados Unidos.
Classificação
O abcázio é uma língua caucasiana do noroeste, relacionada com as línguas caucasianas do nordeste, ambas do grupo das línguas norte-caucasianas. Alguns linguistas a consideram também como parte da macrofamília "dene-caucasiana", mas essa é uma hipótese pouco aceita pela maioria dos especialistas. As línguas norte e sul-caucasianas podem se enquadrar em um outro macro grupo — o das línguas ibero-caucasianas (ou simplesmente caucasianas).
O abcázio é às vezes agrupado com a língua abaza como se fosse uma só, formando a língua abcázio-abaza, como expoente de uma gama de variações dialetais. De fato, os dois idiomas são muito similares em gramática, mas diferem quanto à fonética, o que os faz ser considerados como línguas distintas. Alguns linguistas também incluíram o extinto idioma ubykh como uma variante do abcázio-abaza.
Dialetos
Abzhywa, falado no Cáucaso, denominado a partir da região "Abzhywa" (Абжьыуа), ou Abzhui, a forma russa para esse dialeto, cuja nome assim vem do nome russo dessa área (Абжуа). A forma literária do abcázio é nesse dialeto. Este é também o dialeto com mais sons consoantes e com apenas dois sons vogais
Bzyb, falado no Cáucaso e Turquia. O nome vem da área "Bzyb" (бзыҧ).
Sadz, falado na Turquia e perto da cidade de Batumi (Adjaria, Georgia) na aldeia de Peria (ფერია), antes falado também entre os rios Bzyp e Khosta.
Escrita
Há registros da transcrição do abcázio em alfabeto árabe, localizada pelo viajante turco Evliya Çelebi no século XVII. A partir de 1862, o abcázio passou a ser escrito com um alfabeto próprio de 37 letras, adaptado do cirílico pelo linguista barão Peter von Uslar. Em 1892 foi desenvolvida uma nova adaptação do alfabeto cirílico para a língua abcázia, por Dimitri Gulya e Konstantin Machavariani. Em 1909, Aleksey Chochua acrescentou 18 letras cirílicas.
Após a separação da Rússia, um alfabeto baseado no latino, com 55 letras, foi desenvolvido pelo linguista russo-georgiano Nikolai Marr e utilizado oficialmente de 1926 a 1928, sendo depois substituído por outra escrita latina. Em 1938, o ditador soviético Josef Stalin impôs o alfabeto georgiano, que foi usado na Abcázia até sua morte, em 1953. Contudo, o stalinismo reprimiu a literatura em língua abcázia.
Após 1954, a Abcázia voltou a utilizar o alfabeto cirílico convencional, acrescido de 14 letras adicionais (consoantes), o que somam 64 sinais (dos quais 19 são combinações de consoantes novas ou tradicionais).
Há estudos no sentido de prover uma forma do alfabeto latino para o abcázio.[6]
Fonologia
Vogais
Há apenas duas vogais na língua abcázia; uma aberta /a/ e outra fechada /ɨ, ǝ/. Estas duas vogais apresentam uma larga faixa alofônica, dependendo das consoantes: [i] e [e] junto a palatais, [u] e [o] junto a labiais, [y] e [ø] com lábio-palatais. /a/ tem uma variante longa /aː/, consequente dos antigos */ʕa/ ou */aʕ/, como na língua abaza.
Consoantes
Labial
Alveolar
Pós-alveolar
Álveo-palatal
Retroflexa
Velar
Uvular
Faringal
Plana
Labialização
Plana
Labialização
Plana
Labialização
Palatalização
Plana
Labialização
Palatalização
Plana
Labialização
Faringalização
Labialização + faringalização
Plana
Labialização
Oclusiva
Surda
p
t
tʷ
kʲ
k
kʷ
Sonora
b
d
dʷ
ɡʲ
ɡ
ɡʷ
Ejetiva
pʼ
tʼ
tʷʼ
kʲʼ
kʼ
kʷʼ
qʲʼ
qʼ
qʷʼ
Africada
Surda
ʦ
ʧ
ʨ
ʨʷ
ʈʂ
Sonora
ʣ
ʤ
ʥ
ʥʷ
ɖʐ
Ejetiva
ʦʼ
ʧʼ
ʨʼ
ʨʷʼ
ʈʂʼ
Fricativa
Surda
f
s
ʃ
ʃʷ
ɕ
ɕʷ
ʂ
χʲ
χ
χʷ
χˁ
χˁʷ
ħ
ħʷ
Sonora
v
z
ʒ
ʒʷ
ʑ
ʑʷ
ʐ
ʁʲ
ʁ
ʁʷ
Nasal
m
n
Aproximante
j
ɥ
w
Vibrante
r
Lateral
l
Fonemas em verde são dos dialetos bzyp e abcázio, não no Abzhywa; fonemas em vermelho são apenas do Bzyp. Assim o total de consoantes Abcaz é 58 em Abzhywa, 60 em Sadz, 67 em Bzyp. Em Sadz a geminação de consoantes é distintiva: /a.χʷa/cinzas contrasta com /a.χːʷa/verme. Já em Abzhywa e Bzyp, há somente a forma /a.χʷa/.
Muitos dos sons unificados do Sadz estão em posições onde uma consoante foi elidida do inicio de um encontro consonantal das línguas protocaucasianas, conf. do iiubique /tχʷa/ (cinzas). Estudiosos com Chirikba (2003) preferem considerar que Sadz tem 100 consoantes, sendo mais consoantes mesmo que o iiubique (80 a 84), ao considerar as geminações como consoantes a mais. Isso, porém, não é um critério usual para fazer um inventário de sons.
O total das consoantes bzyp parece tirado do total do proto-abcázio menos as consoantes de Abzhywa e Sadz. Álveo-palatais fricativas plenas foram aglutinadas com as correspondentes alveolares de Abzhywa e Sadz Abcaz (comparar Bzyp /a.ʨ’a.ra/conhecer com. Abzhywa /a.ʦ’a.ra/); Em Abzhywa as Álveo-palatais bilabiais fricativas se juntaram às correspondentes post-alveolares (comparar Bzyp /a.ɕʷa.ra/medir com. Abzhywa /a.ʃʷa.ra/).
As fricativas dorsais não faringalizadas do abcázio são percebidas tanto como velares ou uvulares, dependendo do contexto onde estão. Aqui foram consideradas como uvulares. Quando as aproximantes palatais labializadas /ɥ/ aqui consideradas como aproximantes, são um reflexo das fricativas faringais sonora labializadas preservadas em "Abaza". O legado da origem desse fonema é uma leve constrição da faringe de alguns falantes, resultando em [ɥˁ].
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São providos de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros num espírito de fraternidade.