Legião Urbana é o álbum de estreia da banda brasileira de rockLegião Urbana, lançado em 2 de janeiro de 1985, pela EMI. O disco foi gravado entre outubro a dezembro de 1984, e gravado por Amaro Moço como disco de vinil. "Será", "Geração Coca-Cola" e "Ainda É Cedo" puxaram a boa vendagem do álbum e se tornaram alguns dos grandes sucessos da rádio brasileira. A capa do LP foi concebida por Ricardo Leite, a arte do encarte por Renato Russo, e os desenhos feitos pelo baterista Marcelo Bonfá. Já as fotos são de Maurício Valladares.[2]
Para divulgação do disco, "Será" foi escolhida como primeira música de trabalho, e um vídeo clipe foi feita para ela, gravado entre os dias 25, 26 e 27 de maio de 1985 na casa noturna Rose Bom Bom, em São Paulo, com direção de Toniko Melo.[3] Toda as faixas exceto "Por Enquanto" já estavam prontas antes das sessões de gravação do disco.[4]
No início dos anos 1980, o futuro líder da Legião Urbana, Renato Russo, era amigo dos integrantes da banda já estabelecida Os Paralamas do Sucesso. O primeiro disco deles, Cinema Mudo, estava em processo de produção e conteria "Química", uma faixa assinada por Renato. Jorge Davidson, então gerente artístico do departamento internacional da EMI-Odeon, gravadora por meio da qual o disco seria lançado, ouviu a faixa e quis conhecer mais sobre Renato e a Legião Urbana.[7]
Após ser promovido a diretor artístico do departamento nacional, Jorge convidou a Legião Urbana para integrar a carteira de artistas da marca, sendo a primeira banda que ele chamou:[8]
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Liguei para Brasília porque ouvi naquela fita um músico razoável, mas um excelente cantor com letras impressionantes. Falei diretamente com o Renato e convidei a banda para vir ao Rio gravar um compacto. Ele não foi humilde nem se emocionou, mas se mostrou gentil e agradável. Fez uma série de perguntas, como se já fosse um artista em negociação, e aceitou o convite.
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Produção e gravação
Pré-produção e chegada de Renato Rocha
A banda foi para o Rio de Janeiro e iria inicialmente gravar apenas um compacto com duas canções, mas teve dificuldades em conseguir um produtor. Marcelo Sussekind (Herva Doce) foi o primeiro a ser convidado (por Jorge), mas recusou. Em seguida, foram atrás de Rick Ferreira, guitarrista que acompanhava Raul Seixas, mas divergências artísticas entre ele e a banda colocaram fim à breve história entre eles.[9]
Quando estava prestes a desistir, o grupo foi incentivado por Mayrton Bahia, então gerente de repertório da EMI-Odeon, a permanecer. Ele os explicou como a indústria musical funcionava e como eles deveriam se comportar ao toparem com alguma dificuldade.[9]
Dois meses depois, a banda voltou ao Rio com três boas notícias: conheceriam Raul pessoalmente, uma vez que o mesmo se hospedara, na época, no mesmo hotel que eles; gravariam um disco completo, e não mais apenas um compacto; e já tinham um produtor garantido: José Emilio Rondeau.[9] O próprio José foi à EMI pedir para produzir o disco, após saber que a banda havia fechado contrato com a empresa.[10] A relação com José também enfrentou dificuldades. O produtor teve muitas discussões especificamente com Marcelo - numa delas, chegou a entrar em seu carro para abandonar o trabalho, mas Renato e Marcelo foram até ele implorar para que ficasse.[11]
Foi nesse meio tempo que a banda passou a contar com um quarto elemento: o baixista Renato Rocha, recrutado após Renato Russo, que na época também empunhava o baixo, perder parte dos movimentos nas mãos em decorrência de tentar cortar os próprios pulsos.[10] De início, o baixista agia de forma reservada, limitando-se a seguir as recomendações do colega homônimo. Ele contribuiu, contudo, com o arranjo de "A Dança".[11]
Gravação
A banda tinha como objetivo produzir um trabalho "simples, com poucas firulas musicais e muita autenticidade".[12] Renato Russo gravava sua voz com dois microfones valvulados; um à frente da boca e outro acima dele, para capturar a reverberação. A bateria de Marcelo era gravada por microfones estrategicamente posicionados pelas paredes e janelas do estúdio. José trabalhou para satisfazer o desejo da banda de não fazer um som nem muito cru, nem muito artificial.[13]
Ao editar a faixa "Perdidos no Espaço" com uma lâmina de barbear e uma fita adesiva, ele iniciou a tendência de se editar, copiar e colar fitas de gravação de modo artesanal, numa era pré-digital.[13]
O resultado final do disco não agradou totalmente a Renato Russo. Ele queria que o trabalho soasse como se houvesse sido gravado ao vivo, com todos os membros tocando juntos. Contudo, apenas "Petróleo do Futuro" atingiu este patamar.[14]
"Geração Coca Cola" era considerada a canção mais importante pelos executivos da gravadora. Mas Jorge mostrou apenas a letra para eles, temendo que a instrumentação "pesada" e "contestadora" colocasse em risco o contrato. Na verdade, a EMI-Odeon esperava um folk; por isso, Jorge sugeriu que a banda se inspirasse em Bob Seger e gravasse a peça com violões. Vários formatos foram tentados, incluindo versões humorísticas e tocadas como para uma festa, mas o que acabou sendo colocado no disco foi uma versão "menos crua, mas totalmente fiel" ao que a banda queria.[14]
Som
Dois anos após o lançamento de Legião Urbana, Renato Russo declararia:[15]
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Muitos disseram que nosso primeiro disco é pessimista, político, pesado e negativo. Eu não acho, porque são apenas comentários de coisas da vida. 'Será' é uma música esperançosa, 'Geração CocaCola' aponta o dedo porque é irônica e 'Por Enquanto' fala de saudade, da coisa do amor. 'O Reggae' tem uma letra violenta sobre o sistema educacional e a hipocrisia em geral. Embora as letras não ofereçam soluções e happy ends, não acho que sejam pessimistas. É um reflexo do que a gente vive.
No final do ano de 1985, o álbum foi premiado nas categorias "Melhor Álbum do Ano", "Melhor Vocalista" (Renato Russo) e "Melhor Letrista" (Renato Russo), pela extinta Revista Bizz da Editora Abril.[carece de fontes?]
Alvaro Neder, escrevendo para o Allmusic, deu ao álbum duas estrelas e meia de cinco. Ele observou que "como muitas bandas jovens, desde cedo eles claramente não tinham a confiança necessária para fazer valer as suas opiniões sobre os de sua gravadora", e descreveu "Ainda é Cedo" como "sem dúvida o primeiro triunfo absoluto da banda."[16]
Em 2014, uma versão instrumental da faixa "Por Enquanto" foi usada como música de fundo para um comercial televisivo da cerveja Brahma para a Copa do Mundo FIFA de 2014.[17][18]
Em 2015, o álbum foi relançado como Legião Urbana 30 Anos em dois CDs e pela Universal Music. Um dos discos é o álbum original e o outro é um disco novo composto por relançamentos.[19][20]