Os lazes, lazos ou laz (em laz: ლაზი, transl.: lazi ou ლაზეფე, lazepe; em georgiano: ლაზი, lazi ou ჭანი, Č’ani, chanes ou chanis; em turco: lazlar) são um grupo étnico nativo das zonas costeiras junto ao mar Negro do nordeste da Turquia e sudoeste da Geórgia.
Descendentes de uma das principais tribos do antigo reino da Cólquida, os lazes foram dos primeiros povos a converterem-se ao cristianismo, quando viviam sob o domínio bizantino e o Reino da Cólquida. No século XVI, durante o período otomano, a maior parte deles converteu-se ao Islãosunita da madhab (escola) hanafista e foram governados como parte do sanjaco otomano do Lazistão (em otomano: ლაზონა, Lazona, termo também usado pelos lazes para designarem a região onde vivem). Na Geórgia os lazes são cristãos ortodoxos.
Os lazes da Turquia formam dois grupos principais. Um desses grupos é nativo da região correspondente ao sanjaco do Lazistão, que atualmente constitui as províncias de Rize e Artvin. O outro grupo principal é constituído por lazes que fugiram à expansão russa do século XIX e se fixaram em Adapazarı, Sapanca (província de Sakarya), Yalova e Bursa.
A identidade dos lazes na Geórgia está em larga medida misturada com a identidade georgiana em geral e o significado de "laz" é usualmente associado a uma categoria regional e não étnica. Os lazes da Geórgia estão concentrados sobretudo em Ajária.[5]
O termo "laz" é geralmente usado na Turquia para designar todos s habitantes das províncias do mar Negro a leste de Samsun.[6] No entanto, cada vez mais os lazes tentam diferenciar-se dos outros habitantes dessas regiões. Por outro lado, os que não são lazes também não gostam de serem chamados lazes, preferindo o termo karadenizli (natural do Mar Negro [Karadenizli]).[7]
A história dos lazes remonta pelo menos ao século VI a.C., quando o estado mais importante do sudoeste do Cáucaso era o Reino da Cólquida, o qual cobria o que é atualmente a Geórgia ocidental e as províncias de Trabzon e Rize. Entre o início do século II a.C. e o final do século II d.C. o Reino da Cólquida, juntamente com os estado vizinhos, foi palco de inúmeros conflitos longas e devastadores entre Roma e as potências locais, nomeadamente o Reino da Arménia e o Reino do Ponto. Em resultado das campanhas dos generais romanos Pompeu e Lúculo, o Reino do Ponto foi completamente destruído e os seus territórios, incluindo a Cólquida, foram incorporados no Império Romano como províncias.
O antigo Reino da Cólquida tornou-se a província de Lázico, governada por um legado romano. Durante o período bizantino, o termo Cólquida deu lugar ao termo Laz. O período romano foi caracterizado por uma intensificação da helenização em termos linguísticos, económicos e culturais. Um exemplo disso é o facto da academia greco-latina de Fásis ser famosa em todo o império romano.
A partir do início do século II d.C. a província de Lázico foi ganhando autonomia, a ponto de no final do século ter sido concedida a independência, com a formação do Reino de Lázica, que cobria as regiões atuais da Mingrélia-Suanécia Superior, Ajária, Gúria e Abecásia. O novo reino congregou os principados menores dos zanos, suanos, Apsílios e Sanigues e durou mais de 250 anos, sendo absorvido em 562 d.C. pelo Império Bizantino. Em meados do século IV, Lázica adotou o cristianismo como religião oficial. São Simão, o Zelote (ou Cananeu) pregou em toda a Lázica e segundo alguns teria morrido em Suaniri, na região ocidental do reino, onde, segundo Moisés de Corene, os inimigos dos cristãos o cortaram em dois com uma serra.
A incorporação de Lázica e do Reino da Abecásia no Império Bizantino após a Guerra Lázica em 562 foi seguida de um período de 150 anos de relativa estabilidade que terminou no início do século VII com o aparecimento de árabes na área como nova potência regional.
Distribuição geográfica
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O antigo Reino da Cólquida e o seu sucessor Lázica (localmente conhecido como Egrissi) situavam-se na mesma região onde se encontram atualmente os falantes de laz e o seus súbditos provavelmente falavam uma versão antiga da mesma língua.
Na Geórgia, os lazes encontram-se sobretudo na república autónoma de Ajária, no sudoeste do país. As maiores povoações lazes são: Sarpi, Kvariati, Gonio e Makho. As cidades de Batumi, Kobuleti, Zugdidi e Tbilisi também têm comunidades lazes.
Há uma comunidade de imigrantes lazes com alguma importância na Alemanha, para onde têm emigrado desde os anos 1960.
Cultura
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A língua laz não é escrita, pelo que o turco e o georgiano são as línguas literárias dos lazes da Turquia e Geórgia, respetivamente. Os lazes são tipicamente bilíngues.
O folclore laz é colorido e a literatura tradicional tem sido trasnmitida oralmente e não foi registada de forma sistemática. As primeiras tentativas para estabelecer uma identidade cultural distinta e criar uma língua literária baseada no alfabeto árabe foram levadas a cabo por Faik Efendisi na década de 1870, mas isso levou a que fosse preso pelas autoridades otomanas, que destruiram a maior parte dos seus trabalhos. Durante a autonomia relativa concedida às minorias na década de 1930, emergiu alguma literatura laz escrita, baseada em escrita laz, na Geórgia soviética, fortemente dominada pela ideologia soviética. O poeta Mustafa Banisi liderou este movimento efémero, mas nunca chegou a ser estabelecida uma norma oficial de escrita.[8] Depois disso, foram feitas várias tentativas para registar as obras de literatura laz usando os alfabetos turco e georgiano. No final do século XX surgiram alguns poetas lazes na Turquia, como Pehlivanoğlu e Raşid Hilmi.
A música e danças lazes são muito originais, apesar de terem evoluído em contacto próximo com as populações vizinhas. Os instrumentos tradicionais incluem a guda (ou tulum laz, uma gaita de foles), o kemençe (uma espécie de lira), a zurna (uma corneta) e o doli (tambor). Nas décadas de 1990 e 2000, as canções em laz do músico folk-rockKâzım Koyuncu alcançaram uma popularidade significativa na Turquia e na Geórgia.
A maior parte dos lazes da Turquia segue a escola hanafista do Islãosunita, enquanto que os lazes da Geórgia são membros da Igreja Apostólica e Ortodoxa Georgiana. As suas crenças religiosas estão patentes na poesia popular e em alguns costumes relacionados com os nascimentos, casamentos, mortes, Ano Novo, atividades marítimas e rituais de colheitas.
À parte de algumas atividades de investigação em universidades da Geórgia e da Alemanha (Universidade de Colónia), há muito poucos estudos da língua e cultura laz.[9] O grau de assimilação na sociedade turca é elevado, mas recentemente tem havido algum ressurgimento de atividades culturais com o objetivo de revitalizar a língua e tradições lazes.
A organização social dos lazes é dominada por um sistema elaborado nos quais os laços de sangue são muito importantes. A família é fortemente dominada pelo marido, mas mesmo sob o Islão, a monogamia foi sempre preservada.
Economia
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O economia tradicional dos lazes sempre foi baseada na agricultura. Os lazes eram conhecidos pelas suas produções de avelã, mas nos anos 1960 a cultura de chá começou a crescer em importância e em grande parte acabou com o estilo de vida baseado na agricultura de subsistência praticada até então, encorajando muitos lazes a envolverem-se no comércio, o qual, após o colapso da União Soviética e a consequente abertura das fronteiras com a Geórgia, ganhou ainda mais importância.
Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Laz people», especificamente desta versão.
↑Rosen, Roger; Foxx, Jeffrey Jay (1991). The Georgian Republic (em inglês). [S.l.]: Passport Books
↑Braund, D. Georgia in antiquity: a history of Colchis and Transcaucasian Iberia 550 BC – AD 562 (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press. 93 páginas
↑Nisanyan, Sevan (1990). Black Sea (em inglês). Istambul: [s.n.] 35 páginas
↑Git, Yukari (2007). «People of Black Sea Region, Turkey». www.karalahana.com (em inglês). A travel guide of Turkey Black Sea Region (Pontus). Consultado em 6 de fevereiro de 2011. Arquivado do original em 27 de maio de 2008
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Sokmen, Ozlem-Yuksel. «Endangered Language Lazuri». www.blackfoal.com (em inglês). The Colchis Kingdom. Consultado em 6 de fevereiro de 2011. Arquivado do original em 9 de dezembro de 2010