A Casa dos Espíritos é o primeiro e mais famoso romance da escritora chilena Isabel Allende. Foi lançado originalmente em 1982 na cidade de Buenos Aires pela Editorial Sudamericana.[1]
Classificado dentro do realismo mágico, este romance histórico incorpora coisas inverossímeis e estranhas ao ordinário. Narrado desde a perspectiva de seus protagonistas, os acontecimentos da trama tratam sobre o amor, a família, a morte, os espíritos, as classes sociais, a revolução, a política, as ideologias e o fantástico.
Enredo
A narrativa é centrada na vida da família Trueba e acompanha três de suas gerações por meio das personagens femininas que encarnam o lugar de mãe, de filha e de neta, percorrendo quase todo o século XX.
O drama se passa em um país inominado e fictício, porém com propositais e explícitas semelhanças com o Chile, especialmente em sua composição socioeconômica e convulsões políticas, como o latifúndio e o golpe militar de 1973. Além disso, a escritora se baseou na história de sua própria família, à qual adicionou acontecimentos e personagens fictícios, que dão grande riqueza e dramaticidade à história.
São três protagonistas, as três gerações de mulheres que são a base para o acompanhamento da sucessão geracional da narrativa; todas com vidas difíceis e acontecimentos marcantes e traumáticos: Clara, a "clarividente", sua filha Blanca e a neta Alba, que é o alter-ego da própria Isabel. Essas mulheres, femininas e fortes, enfrentam com coragem as paixões, os dramas familiares e os acontecimentos turbulentos de suas épocas. As vivências e dificuldades passadas por cada uma delas não se interrompem para dar início a um novo ciclo com a seguinte, mas sim se sobrepõem e ecoam em uma ligação mais que maternal, espiritual entre as gerações.
Dentre sua lutas exaltadas pela autora estão o casamento forçado, o amor clandestino, a gravidez como perpetuação de família proprietária, as descobertas sexuais, os abusos sexuais e os tolhimentos condicionados ao gênero.
Não obstante, Esteban Trueba é, por muito tempo, mas não durante toda a narrativa, a única personagem a ter exposições em primeira pessoa. Essa aproximação do leitor com a personagem dar-se por que é nele que autora põe a encarnação do patriarca despótico, misógino e acumulador de propriedade que deseja expor as fraquezas e tecer sutis e contundentes críticas, em uma representação de tendências infelizes do continente.
A narrativa, se utilizando da família Trueba, traça e percorre todo o passado, presente e futuro da América Latina, isto é, sua identidade enquanto continente e a idiossincrasia de seu povo. Desde guerras políticas entre liberais e conservadores, uma economia baseada na desigualdade entre latifundiários e camponeses, passando por cidades repartidas por bairros de patrões e empregados, terminando em uma estrutura patriarcal e capitalista que amarra tudo e que fatalmente culmina no ápice do autoritarismo: a ditadura militar que marcou vários países do continente latinoamericano.
Além disso, trata também de aspectos únicos do continente, tais como o encantamento e subserviência com o estrangeiro, principalmente com os Estados Unidos e a questão da espiritualidade, da ancestralidade e magia presente no ordinário, extraordinário e imaginário latinoamericano. Esta magia é presente em especial nas personagens de Clara, quem possui clarividência e estabelece contato com seres espirituais, além de conseguir mover pequenos objeto como ao saleiro com a força do pensamento, e de Pedro Garcia "o velho", quem detém uma sabedoria popular e longínqua que beira o sobrenatural.
A inspiração para o livro e para o enredo é explicada pela própria autora em seu livro Paula.
Referências