O beija-flor-de-cabeça-roxa,[3] também conhecido por colibri-de-cabeça-violeta (nome científico: Klais guimeti) é uma espécie de ave apodiforme pertencente à família dos troquilídeos, que inclui os beija-flores. É o único representante do gênero Klais, que é monotípico. Por sua vez, também é, consequentemente, a espécie-tipo deste gênero. Pode ser encontrada em altitudes entre 50 e 1900 metros, se distribuindo na Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, Honduras, Nicarágua, Panamá, Peru e Venezuela. Seus habitats são as florestas tropicais e subtropicais úmidas, nas florestas montanas e florestas degradadas.[1][4]
Etimologia
O nome do gênero deriva dos termos gregos antigos κλεις, kleis, frequentemente transliterado como Cleïs, deriva de dois extratos dos poemas de Safo de Mitilene, sendo por muitos atribuída como a filha da poetisa.cercado".[5] O descritor específico guimeti também homenageia uma personalidade, o químico francês Jean-Baptiste Guimet, responsável pela descoberta dos pigmentos artificiais. Por sua vez, os descritores específicos para as subespécies: merritti homenageia Joseph King Merritt, coletor do holótipo original; palidiventris deriva de dois termos neolatinos, palidus, que significa "pálido"; e ventris, que significa literalmente "ventre".[6][7]
Descrição
Geralmente, os espécimes do beija-flor-de-cabeça-roxa possuem em torno de 7,9 a 8,1 centímetros de comprimento, incluindo seu bico reto e curto, que mede cerca de 127 milímetros. As asas medem cerca de 5,2 centímetros, ao que a cauda apresenta uma média de 29 milímetros.[8] O dimorfismo sexual se manifesta por meio da plumagem e do tamanho do corpo, onde os machos, muito mais coloridos e chamativos, apresentam plumagens exóticas como determinante sexual, também se aplica em outras espécies de beija-flor. Os representantes machos do beija-flor-de-cabeça-roxa apresentam a pigmentação da cabeça em azul-violeta. Na mesma região, atrás dos olhos, mostra-se uma mancha branca horizontal, que se destacam do resto da cabeça. Nos flancos, no dorso e nas asas, exibem uma plumagem metálica e verde-brilhante, enquanto seu abdômen é um pouco mais acastanhado, destoando do resto do corpo. As fêmeas, diferentemente dos machos, apresentam a testa azulada, porém em tom mais opaco. O peito é cinzento, as asas são similares às dos machos, e sua garganta é esverdeada. Os juvenis são visualmente similares às fêmeas, porém menores.[9][10][11][12]
Sistemática
Esta espécie foi descrita originalmente em 1843, pelo ornitólogo francês Jules Bourcier, que descreveu-lhe formalmente através de dois holótipos coletados em Caracas, no antigo Vice-Reino de Nova Granada, hoje Venezuela. Inicialmente, o táxon receberia o nome de Trochilus guimeti, assim como muitas outras, que,[13][14] subsequentemente, seriam reclassificadas em outros gêneros. Em 1854, após uma série de artigos sobre a taxonomia e sistemática dos beija-flores, publicados pelo botânico Heinrich Gottlieb Ludwig Reichenbach, erigiu-se o gênero monotípico Klais, oferecendo uma reclassificação à espécie.[15][4]
Por ser o único representante de seu gênero, este se classifica como um monotipo, com a espécie sendo uma espécie-tipo. O South American Classification Committee, o International Ornithological Committee e a taxonomia de Clements, bem como Handbook of the Birds of the World (HBW) da BirdLife International reconhecem três subespécies, sendo a nominal K. g. guimeti, K. g. merrittii e a K. g. pallidiventris.[16][4][17][18]
Distribuição e habitat
O beija-flor-de-cabeça-roxa se distribui desde o sudeste América Central até o extremo-norte América do Sul. Possui distribuição geográfica nos territórios de Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá na América Central e oeste da Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, norte do Brasil e norte da Bolívia. A espécie tende a ter distribuição local, comum em algumas áreas e rara em outras áreas aparentemente idênticas. Possui distribuição média em altitudes entre 500 a 1900 metros acima do nível do mar. Os beija-flores-de-cabeça-roxa são encontrados nas bordas da floresta primária úmida, aberturas em florestas secundárias, em clareiras de arbustos e matagais.[11][10] Também se distribui em vários habitat modificados pela humanidade, como sebes de Stachytarpheta na Costa Rica[12] e cultivadas à sombra plantações de café na Venezuela.[22]
Comportamento
Reprodução
Na Costa Rica, os machos cantam em leks soltos começando em outubro e se intensificando até a época de reprodução em dezembro. O coro continua até que a estação seca faça com que as flores desapareçam em fevereiro e março. O coro recomeça quando as chuvas recomeçam em abril, mas as fortes chuvas de maio fecham o coro novamente até outubro. Os leks estão localizados de 5 a 18 metros acima do solo na borda de clareiras onde os machos cantam visivelmente de galhos mortos delgados. Ocasionalmente, um indivíduo canta sozinho sem outros beija-flores de cabeça violeta por perto.[12]
O ninho possui formato similar ao de uma taça, que é coberta de musgo, construída de 1 a 5 metros acima dos riachos das montanhas florestadas. Os ninhos são normalmente construídos em fevereiro, mas às vezes já em janeiro. O último jovem voa em maio.[11][12]
Alimentação
Esta espécie de beija-flor procura por néctar de uma variedade de plantas arbustivas e árvores floridas de sub-bosques. Também adquire nutriente através dos insetos e outros artrópodes, que caça enquanto voa. Na Costa Rica, foi documentado um espécime com preferências alimentares por flores de Stachytarpheta em altitudes entre 5 a 7 metros, localizado próximo à Múrcia, na província do Cartago.[11][12]
Relação com os humanos
O beija-flor-de-cabeça-roxa foi designado como uma espécie pouco preocupante devido à sua grande variedade e capacidade de existir em habitat modificado pelo homem.[1][22] Os arbustos floridos perto de Múrcia, Costa Rica, foram relatados em uma área desmatada para agricultura com muito poucas árvores.[12]
Referências
- ↑ a b c BirdLife International (2021). «Klais guimeti». IUCN Red List of Threatened Species 2021: e.T22687167A167038236. doi:10.2305/2FIUCN.UK.2021-3.RLTS.T22687167A167038236.en. Consultado em 31 de outubro de 2022
- ↑ «Appendices | CITES». cites.org. Consultado em 14 de outubro de 2022
- ↑ Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 113. ISSN 1830-7809. Consultado em 25 de agosto de 2022
- ↑ a b c Gill, Frank; Donsker, David; Rasmussen, Pamela, eds. (11 de agosto de 2022). «Hummingbirds». IOC World Bird List (em inglês) 12.1 ed. Consultado em 2 de outubro de 2022
- ↑ Jobling, James A. (1991). A Dictionary of Scientific Bird Names. Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-854634-3. OCLC 45733860
- ↑ a b Beekes, Robert S. P. (2010). van Beek, Lucien, ed. «Etymological Dictionary of Greek». Brill Academic Pub. Leiden Indo-European Etymological Dictionary Series. 10. ISBN 9789004174207. Consultado em 3 de outubro de 2022
- ↑ Lawrence, George Newbold (1860). «Description of three new species of Humming-birds of Genera Heliomaster, Amazilia, and Mellisuga». Lyceum of Natural History. Annals of the Lyceum of Natural History of New York. 7 (1862): 107–111. Consultado em 1 de novembro de 2022
- ↑ Hilty, Steven L.; Gwynne, John A.; Tudor, Guy (2003). Birds of Venezuela 2.ª ed. Princeton: Princeton University Press. ISBN 0-691-09250-8. OCLC 649913131
- ↑ Stiles, F. Gary; Kirwan, Guy M. (2020). «Violet-headed Hummingbird (Klais guimeti), version 1.0». Birds of the World (em inglês). doi:10.2173/bow.vihhum1.01. Consultado em 1 de novembro de 2022
- ↑ a b Dunning, John Stewart; Ridgely, Robert S. (1982). South American land birds: a photographic aid to identification. Newtown Square: Harrowood Books. ISBN 978-0915180226. OCLC 8493199
- ↑ a b c d Hilty, Steven L. (1986). A guide to the birds of Colombia. William L. Brown. Princeton, Nova Jérsia: Princeton University Press. ISBN 978-0691083728. OCLC 11234472
- ↑ a b c d e f Skutch, Alexander F. (1958). «Life history of the Violet-headed Hummingbird» (PDF). Wilson Bulletin. 70 (1): 5–19. Consultado em 1 de novembro de 2022
- ↑ Peters, James Lee (ed.). «Check-List of Birds of the World». Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press. 5: 29
- ↑ Bourcier, Jules (1843). «Oiseaux-mouches nouveaux ou mal connus». Paris. Revue Zoologique par la Société Cuviérienne. 6: 70–73. ISSN 1259-6493. Consultado em 1 de novembro de 2022
- ↑ Reichenbach, H.G. Ludwig (1854). «Aufzählung der Colibris Oder Trochilideen in ihrer wahren natürlichen Verwandtschaft, nebst Schlüssel ihrer Synonymik». Journal für Ornithologie. 1 (Suplemento): 1–24. Consultado em 1 de novembro de 2022
- ↑ Remsen, J. V., Jr., J. I. Areta, E. Bonaccorso, S. Claramunt, A. Jaramillo, D. F. Lane, J. F. Pacheco, M. B. Robbins, F. G. Stiles, e K. J. Zimmer. (31 de janeiro de 2022). «A classification of the bird species of South America». American Ornithological Society. Consultado em 2 de outubro de 2022
- ↑ Clements, J. F., T. S. Schulenberg, M. J. Iliff, S. M. Billerman, T. A. Fredericks, J. A. Gerbracht, D. Lepage, B. L. Sullivan, and C. L. Wood. (2021). «The eBird/Clements checklist of Birds of the World: v2021». Cornell Lab of Ornithology. Consultado em 2 de outubro de 2022
- ↑ BirdLife International (2020). «Handbook of the Birds of the World and BirdLife International digital checklist of the birds of the world». Datazone BirdLife International. Consultado em 2 de outubro de 2022
- ↑ Ruschi, Augusto (1968). «A distribuição geográfica de Klais guimeti guimeti (Bourcier, 1843) e algumas observações sobre a sua biologia e ecologia (Trochilidae: Aves)» (PDF). Santa Teresa: Museu de Biologia Mello Leitão. Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão. 33: 1–9. Consultado em 1 de novembro de 2022
- ↑ Pacheco, José Fernando (1995). «O Brasil perde cinco espécies de aves! Uma análise crítica dos registros de Ruschi para alguns beija-flores das fronteiras setentrionais brasileiras». Atualidades Ornitológicas. 66: 7. Consultado em 1 de novembro de 2022
- ↑ Stolzmann, Jan (1926). «Revision des oiseaux néotropicaux de la collection du Musée Polonais d'Histoire Naturelle à Varsovie» (PDF). 197–235. Annales Zoologici Musei Polonici Historiae Naturalis. 5 (4). Consultado em 1 de novembro de 2022
- ↑ a b Jones, Jason; Ramoni-Perazzi, Paolo; Carruthers, Erin H.; Robertson, Raleigh (2002). «Species composition of bird communities in shade coffee plantations in the Venezuelan Andes» (PDF). Ornithologia Neotropical. 13: 397–412. Consultado em 1 de novembro de 2022
Ligações externas