Liga das Nações Biafra[2] Militantes do Delta do Níger [9] Força Voluntária Oduduwa para a Libertação do Sul da Nigéria[10]
A insurgência no Leste da Nigéria (inicialmente conhecida como Crise de Orlu) é um conflito militar que eclodiu na cidade de Orlu, na Nigéria, quando o Exército Nigeriano avançou para esmagar a ala paramilitar do Povo Indígena de Biafra (em inglês: Indigenous People of Biafra, IPOB), a Rede de Segurança Oriental (em inglês: Eastern Security Network, ESN). [11] O conflito intensificou-se depois que a Rede de Segurança Oriental conseguiu repelir o avanço inicial do exército nigeriano, [5] mas o Povo Indígena de Biafra encerrou a crise inicial retirando unilateralmente a Rede de Segurança Oriental de Orlu. Após algumas semanas de tranquilidade, a Nigéria lançou uma ofensiva militar na área para destruir a Rede de Segurança Oriental. Em 19 de fevereiro, o Povo Indígena de Biafra declarou que, desde o dia anterior, existia um estado de guerra entre a Nigéria e Biafra.[3] Três semanas depois, outro grupo separatista declarou a formação de um governo interino biafrense, que foi posteriormente endossado pelo Povo Indígena de Biafra.[12]
Antecedentes
Em 1967, separatistas no sudeste da Nigéria declararam a formação do Estado independente de Biafra. A subsequente Guerra Civil da Nigéria durou dois anos e meio, deixou mais de um milhão de mortos e terminou com a derrota de Biafra. Nas décadas seguintes, a Nigéria continuou a sofrer com a instabilidade regional e revoltas, mas o separatismo de Biafra esteve adormecido até a década de 2000. [13][14] Algumas comunidades do Delta do Níger, como o povo Ijaw, até integraram o sentimento antibiafrense em suas próprias narrativas populares, já que tinham se aliado principalmente ao governo central durante a Guerra Civil Nigeriana. [15]
A partir da década de 1990, um número crescente de pessoas no sudeste da Nigéria, como os ibos e nativos do Delta do Níger, sentiram-se marginalizados pelo governo central nigeriano. Isso resultou no violento conflito no Delta do Níger, e comunidades anteriormente antibiafrenses, como os Ijaw, começaram a reavaliar seu compromisso com a Nigéria. [15] Juntamente com o descontentamento entre os jovens devido ao alto desemprego, isso contribuiu para o ressurgimento do nacionalismo biafrense em todo o sudeste. Enquanto a maioria da liderança política local se distanciou do separatismo, os nacionalistas biafrenses radicais se organizaram no grupo secessionista Povo Indígena de Biafra.[13][14]
Ao mesmo tempo, os nigerianos tornaram-se insatisfeitos porque o governo central falhou em suprimir a destrutiva insurgência jihadista do Boko Haram, bem como o banditismo no norte, enquanto as forças de segurança nigerianas enfrentavam acusações de corrupção, ineficácia e abusos. Os jornalistas Cai Nebe e Muhammad Bello argumentaram que "partes da Nigéria permanecem quase ingovernáveis" desde a segunda presidência de Muhammadu Buhari. As tensões no sudeste continuaram a aumentar depois que a economia local, fortemente dependente da exportação petrolífera, sofreu com a baixa dos preços mundiais do petróleo. Em 2020, o Povo Indígena de Biafra conseguiu reunir seguidores substanciais para sua causa, embora as pesquisas mostrassem que o separatismo biafrense não era amplamente apoiado no sudeste. [14]
Em agosto de 2020, as forças policiais nigerianas foram a uma reunião do Povo Indígena de Biafra em Enugu e executaram 21 membros desarmados da organização, com dois policiais mortos. Ambos os lados acusaram o outro de disparar o primeiro tiro.[16] Após o incidente, o Povo Indígena de Biafra se comprometeu a retaliar e convocou seus membros a começarem a praticar autodefesa.[17] No final de setembro, pelo menos dois soldados nigerianos foram mortos durante confrontos com pistoleiros não identificados em Enugu; no entanto, o Povo Indígena de Biafra negou qualquer envolvimento, anunciando que "não estamos armados e não temos planos de pegar em armas."[18]
Em 12 de dezembro de 2020, Kanu anunciou a formação da Rede de Segurança Oriental para proteger os ibos contra os salteadores fulas. Recusando-se a apoiar a formação de uma organização paramilitar não sancionada pelo Estado em seu território, o governo nigeriano enviou o exército para localizar os campos da Rede de Segurança Oriental duas semanas depois.[8]
Crise de Orlu (22–28 de janeiro)
Em 22 de janeiro, soldados nigerianos invadiram Orlu para procurar os integrantes da Rede de Segurança Oriental. Oito edifícios foram incendiados e uma pessoa foi morta nos eventos que se seguiram. [19] As forças de segurança voltaram a invadir a área três dias depois, confrontando-se com a Rede de Segurança Oriental e matando pelo menos cinco pessoas [20] antes de serem repelidas pelo grupo. [5] Quatro soldados nigerianos foram mortos no conflito.[21] O Exército Nigeriano retirou-se e, nos dias seguintes, aviões e helicópteros da Força Aérea Nigeriana foram destacados para procurar os integrantes da Rede de Segurança Oriental em Orlu e arredores.[5]
Em 28 de janeiro, mais de 400 soldados nigerianos foram mobilizados para expulsar a Rede de Segurança Oriental [22] e as autoridades declararam um toque de recolher que foi executado com brutalidade. O toque de recolher e a antecipação de combates intensos iminentes fizeram com que os civis fugissem em massa da cidade. [23] Mais tarde no mesmo dia, Nnamdi Kanu declarou um cessar-fogo unilateral e ordenou que a Rede de Segurança Oriental se retirasse de Orlu [24] para se concentrar nos salteadores fulanis. Kanu alegou que esta decisão foi baseada em informações de inteligência que revelaram que o exército e a polícia concordaram em se retirar de Orlu também. [1]
Interlúdio
Durante o conflito, policiais da Polícia Estadual de Imo foram flagrados em vídeo açoitando civis, possivelmente como punição por violações do toque de recolher. Após o cessar-fogo, pelo menos dez policiais foram presos, e o comissário de Polícia, Nasiru Mohammed, condenou o comportamento deles. [7]
Dias após a crise de Orlu, o Povo Indígena de Biafra deu a todos os governadores do sudeste da Nigéria catorze dias para proibir o pastoreio aberto, ameaçando enviar a Rede de Segurança Oriental para impor a proibição caso as autoridades não o fizessem. [25] No entanto, o grupo paramilitar não esperou os catorze dias; alguns dias depois, seus membros atacaram um campo fulani em Isuikwuato, no estado de Abia, matando seus rebanhos e queimando suas casas.[26] Na sequência do raide, alguns governadores responderam atendendo ao apelo da Rede de Segurança Oriental e proibiram o pastoreio aberto.[27]
Combates renovados e declaração de guerra
Em algum momento em meados de fevereiro, a Brigada de Artilharia 34 do Exército Nigeriano lançou uma operação para encontrar campos da Rede de Segurança Oriental em torno de Orlu e Orsu. O exército nigeriano também reforçou Orlu, destacando helicópteros militares para a cidade. [28] As hostilidades foram renovadas em 18 de fevereiro, quando o Exército Nigeriano e a Rede de Segurança Oriental travaram um confronto armado na floresta nos arredores de Orlu [29] enquanto a Força Aérea Nigeriana conduzia ataques aéreos na área. [30] Um dia após o início dos combates, o confronto se espalhou para Ihiala, no estado de Anambra.[31] As forças nigerianas capturaram uma base da Rede de Segurança Oriental no vilarejo de Udah nos arredores de Orsu em 21 de fevereiro. [32] A divisão 82 do Exército Nigeriano também prendeu vinte supostos membros do Povo Indígena de Biafra e confiscou suas armas. [33]
No mesmo dia em que as hostilidades foram renovadas, o Povo Indígena de Biafra afirmou que o deslocamento militar constituía uma "declaração de guerra contra os Ibos" e acusou o governo nigeriano de planejar uma "solução final para a questão de Biafra". O grupo declarou que a Nigéria "cruzou uma linha sem volta" e que os Ibos agora não tinham escolha a não ser se defender. [34] No dia seguinte, o Povo Indígena de Biafra declarou que a "segunda guerra Nigéria / Biafra" havia começado em 18 de fevereiro e que, ao contrário da Guerra Civil Nigeriana de 1967-1970, Biafra venceria. [3]
Alastramento e escalada
Em poucos dias, o perigo de alastramento do conflito para outras partes da antiga Região Leste tornou-se evidente. Em resposta à operação militar nigeriana dentro e ao redor de Orlu, a Liga das Nações de Biafra (em inglês: Biafra Nations League, BNL; um movimento baseado no estado de Cross River) ameaçou atacar todas as instalações de petróleo perto de Bakassi. [35] Em Aguata, no estado de Anambra, supostos separatistas biafrenses mataram quatro policiais em um posto de controle e fugiram com suas armas em 24 de fevereiro.[36] Outros quatro policiais foram mortos em Calabar no dia seguinte. [37] Em 26 de fevereiro, uma delegacia de polícia foi atacada em Aboh Mbaise, no estado de Imo.[38] Em 3 de março, homens armados mataram dois policiais no estado de Cross River. [39]
As autoridades locais culparam a Rede de Segurança Oriental e o Povo Indígena de Biafra por muitos ataques a delegacias de polícia, alguns dos quais precederam a Crise de Orlu. O Comissário da Polícia do Estado do Delta alegou que elementos do Povo Indígena de Biafra cruzaram o rio Níger para se infiltrar no estado. Para evitar tais infiltrações, a Marinha da Nigéria começou a patrulhar o rio. [6] No início de março, o Povo Indígena de Biafra ameaçou implantar a Rede de Segurança Oriental no estado de Benue para proteger os ibos contra os salteadores fulanis; isso aconteceu depois dos assassinatos de ativistas do grupo por fulanis armados. [41] Dias depois, Nnamdi Kanu declarou que a Rede de Segurança Oriental havia capturado um proeminente líder do banditismo fulani chamado Mohammed Isa no estado de Benue. [42]
Em meados de março, o líder da Força de Salvação do Povo do Delta do Níger, Asari-Dokubo, proclamou a formação do Governo Consuetudinário de Biafra (em inglês: Biafra Customary Government, BCG). Esse último, foi concebido como o primeiro passo para estabelecer um governo de facto para um Estado independente de Biafra. Dokubo afirmou que Biafra não iria para a guerra, mas que iria prosseguir com a secessão da Nigéria. [12] O Povo Indígena de Biafra logo deu seu apoio ao Governo Consuetudinário de Biafra, declarando que apoiaria qualquer movimento de independência biafrense.[43] Poucos dias depois, o Movimento para a Atualização do Estado Soberano de Biafra (MASSOB), o movimento separatista liderado por Ralph Uwazuruike, endossou o Governo Consuetudinário de Biafra. [44]
Enquanto os movimentos separatistas formavam uma frente unificada, os militantes intensificavam a guerra. Logo após a formação do Governo Consuetudinário de Biafra, a Liga das Nações de Biafra declarou que havia assumido o controle de "riachos e bosques" na Península de Bakassi, e ameaçou sequestrar quaisquer embarcações de petróleo que viessem de lá. [2] Em 19 de março, homens armados atacaram uma prisão e uma delegacia de polícia em Ekwulobia, libertando vários presos e matando dois policiais e dois oficiais da prisão, mas falhou em incendiar a delegacia. O Povo Indígena de Biafra negou qualquer envolvimento. [45]
Em 15 de março, a Rede de Segurança Oriental invadiu Eleme para expulsar os pastores fulanis. Uma semana após o início dessa ofensiva, os salteadores fulanis invadiram Agbonchia e cometeram atrocidades contra a população civil. [46]