A Ilha do Coral[nota 1] é uma ilha localizada no litoral do estado de Santa Catarina, Brasil, a 45 minutos de barco da praia de Garopaba, ao sul de Florianópolis. Nela há um velho farol e um paredão com inscrições rupestres, provavelmente com mais de dois mil anos.[1] Durante muito tempo, a ilha ficou conhecida em virtude de ter um velho morador que lá habitava sozinho junto com algumas cabras.[2]
Pertencente à Marinha do Brasil, a ilha situa-se a uma hora e meia de barco ao sul de Florianópolis, nos arredores da Guarda do Embaú. Em determinadas temporadas há serviços de transporte que levam até a ilha, com saídas a partir da enseada de Garopaba.[3]
História
Morador eremita
Por trinta e seis anos, João Manoel Borges (12 de julho de 1918 — 29 de maio de 2000), popularmente conhecido como «Zé d'Angerca» ou «Zé das Cabras»,[2][nota 2] viveu sozinho na ilha, sem amigos nem família, que moravam no continente.[4][nota 3] Borges foi para a ilha após a morte da esposa no parto da filha caçula, em 1962, e entregou a filha recém-nascida a uma irmã, além de ter deixado o único filho homem também aos cuidados de parentes.[4] As outras três filhas pré-adolescentes, com quem foi pra ilha, o abandonam assim que encontraram quem as tirasse de lá por casamento.[4][2]
Durante tal degredo voluntário, esse eremita construiu um casebre de três cômodos e fez picadas e roçados em terrenos íngremes por toda a ilha do Coral.[4] Analfabeto e com dificuldades de se expressar, ia uma ou duas vezes por ano ao continente, sobretudo para visitar as filhas e ir ao banco.[4] Na ilha criava galinhas e cabras e cultivava sobretudo feijão, abóbora e mandioca.[4] Além da aposentadoria como agricultor, uma de suas fontes de renda era o peixe seco, o qual ele salgava com o sal recolhido nas rochas da ilha e vendia a comerciantes no litoral catarinense.[2][nota 4] Conta-se que ele havia vendido a ilha — que é patrimônio da União[2] — três vezes, uma das quais a um estrangeiro. Relata-se que um conhecido comerciante da região a teria comprado do Sr. João, mas tal transação foi denunciada à Marinha, que de imediato tomou providências e reassumiu a sua propriedade, e que, por isso, a Marinha determinou algumas normas para quem chegava à ilha, descartando assim os poderes que o ermitão imaginava ter.[2]
João d'Angerca teria ficado magoado e resolveu de uma vez por todas abandonar aquele seu pedaço de terra perdido no oceano, que foi «dele» durante mais de três décadas. Em 1999, com 80 anos e já doente após sofrer um derrame cerebral um ano antes, foi obrigado a mudar-se para o continente.[4] O ermitão tinha pouco mais de um metro e meio e fumava há sessenta anos cachimbo e cigarro. Morreu no município de Paulo Lopes, litoral catarinense, de causas não explicadas, aparentemente suicídio, já que nunca se acostumou ao retorno para o continente.[2] Antes de deixar a ilha definitivamente, ele havia sentenciado: «Sei que na terra não vou me acostumar mais, mas daí morro logo. Em terra firme não vou viver.»[2]
Afundamentos
Em 6 de agosto de 1944, os navios Chuilóide e Tietê afundaram nas águas ao redor da ilha depois de colidir. Ambas as tripulações foram salvas pela embarcação Taquari.[5]
Características
Com vegetação nativa formada por árvores de médio porte, assim como algumas árvores frutíferas introduzidas, como bananeiras e ameixeiras, a ilha é escarpada, cercada de costões rochosos, sem praias naturais (de areia) e tem como ponto mais alto uma elevação de 64 metros de altura.[1] As águas ao largo, são de tom azul-cobalto e até o presente momento não há nenhum levantamento relevante sobre a fauna e a flora insular.
Notas
- ↑ Também conhecida e citada como ilha dos Corais.
- ↑ Corruptela de «João de Angélica», sua mãe.
- ↑ Um irmão seu, Simião Manoel Borges, falecido há dois anos, também se instalou com a mulher na distante praia do Saquinho na década de 60, no sul da ilha de Santa Catarina. Era conhecido como «prefeito do Saquinho» e tocava gaita para alegrar os raríssimos visitantes que venciam o íngreme e tortuoso caminho sobre o costão.[2]
- ↑ Durante muitos anos ele desenvolveu uma bebida destilada com gengibre, cachaça, açúcar e groselha, à qual apelidou de «campá», e tinha gosto semelhante ao Campari.[2]
Referências