A Ilha Montão de Trigo (por vezes denominada Ilha Monte de Trigo[2]) é uma ilha do estado de São Paulo, no Brasil. Fica situada entre a enseada da Bertioga e o canal de São Sebastião (cidade à qual pertence[2]), a aproximadamente 10 km do continente.[3][2][4] O cume da ilha, cuja altitude é apontada como sendo de 276 ou 300 metros acima do nível do mar,[5][6][2] é um ponto de contemplação do oceano, das ilhas adjacentes e do canal de São Sebastião. Pode ser atingido após 40 minutos de caminhada.[1] Sua profundidade é de 3 a 20 metros. A ilha é resultado de intensas atividades vulcânicas ocorridas no passado.[5]
Em algo entre 20 minutos e meia hora,[1][7][6][2] pode-se chegar à ilha por meio de embarcações alugadas nas praias de Juqueí e Barra do Una.[8] Como não há praias, o acesso se dá por um píer improvisado.[9][7][3][1] Todo o litoral da ilha é rochoso, dificultando ou até impossibilitando o acesso em certos pontos.[10]
Geografia
A ilha tem formato cônico que lembra, como o nome indica, um monte de trigo. Com efeito, os Portugueses batizaram-na assim.[1] Possui aproximadamente 1,3km² de área, com 1,5km de extensão em seu eixo mais longo e 1,3km no mais curto.[2]
É de relevo acidentado e densamente coberto por vegetação, dificultando sua exploração. A vegetação é do tipo Mata Atlântica.[10] As faces noroeste e sul da ilha são chamadas de "cavernas" pelos moradores devido às formações rochosas que as compõem. A população se concentra em um platô de aproximadamente 300x600m.[2]
O clima da ilha é quente e úmido como o restante do litoral do estado, com frentes frias sendo mais comuns no inverno.[10]
Até o século XX, a ilha apresentava atividades agrícolas, com produção local de café, melado, mandioca e farinha. Segundo alguns moradores, a atividade foi abandonada por conta dos ratos, que teriam chegado com os blocos de construção da escola local, inaugurada em 1986. Em 2003, alguns mantêm roças pessoais para subsistência.[3]
Quase todos os habitantes da ilha vivem da pesca artesanal, uma vez que o arrasto é proibido. Nos últimos anos, o número de peixes tem diminuído, e em 2013, os pescadores capturavam 1/6 da quantidade diária normalmente conquistada em 2005, devido à competição com barcos maiores.[7] Contudo, em 2018, uma portaria do Ministério do Meio Ambiente do Brasil limitou a pesca da tainha nos litorais sul e sudeste do Brasil, permitindo que mais desses peixes chegassem às águas em volta da ilha; com efeito, em julho daquele ano, oito toneladas de tainhas foram pescadas em volta da ilha.[11] Algumas famílias complementam a renda vendendo peças de artesanato.[7] Em 2003, a prefeitura de São Sebastião ajudava a população com cestas básicas, embora a população relatasse à época que o auxílio só vinha "de vez em quando".[3]
Povoamento e infraestrutura
Nos últimos três séculos, a ilha foi permanentemente habitada por famílias de caiçaras. A população era de cerca de 200 pessoas em meados do século XX,[10] 40 em 1999[10] e em 2003,[3] 52 em janeiro de 2012[9] (número que se mantinha em março de 2013[7] e em janeiro de 2014[6]), mais de 60 em agosto de 2019[4] e 58 no início de 2020.[1]
Os habitantes são conhecidos como "monteiros",[7][12] mas autodenominam-se "ilhéus".[12] Não se sabe quando a ilha passou a ser povoada; os locais mencionam histórias envolvendo dois casais de irmãos fundadores; um naufrágio; ou a chegada de três homens no século XVIII.[12][1] Segundo reportagem de maio de 2020 do programa Fantástico, o local estava habitado havia mais de 170 naquela altura.[1]
Há na ilha uma pedra chamada "espia-barco"; as ilhas próximas de Búzios e Vitória (pertencentes ao município vizinho de Ilhabela) eram utilizadas no século XIX por "olheiros" que vigiavam as águas locais em busca de navios de fiscalização contra o tráfico negreiro. Assim, a ilha pode também ter sido utilizada como ponto para "olheiros" no passado.[12]
No início de 2012, os habitantes ganharam permissão para ocupar e explorar a ilha, que ainda pertence ao governo, mas não estará mais sujeita a projetos imobiliários futuros.[9] A permissão é parte de um programa do governo federal do Brasil que visa beneficiar pequenos povoados nativos por todo o país. As permissões são chamadas de TAUS - Termo de Autorização de Uso Sustentável. Geralmente, as permissões são dadas a povoados ribeirinhos no Norte do Brasil; esta foi a primeira vez que uma população insular recebeu o benefício. Com o TAUS, os caiçaras podem reivindicar melhorias como sistema de saneamento básico, água encanada e programas de habitação.[9] Uma das regras impostas pelo TAUS inclui a proibição de se morar na ilha a não ser que se tenha nascido lá ou casado com alguém de lá.[1]
A população local vive com pouca infraestrutura: até meados dos anos 2010, não havia eletricidade, e os moradores viviam a base de baterias. Em 2020, porém, muitos já usavam energia solar.[1] Também não há saneamento básico. Muitas casas não dispõem de banheiros e os habitantes urinam e defecam em banheiros secos externos ou na vegetação local.[7] Em agosto de 2019, a prefeitura de São Sebastião anunciou que havia instalado um equipamento para adequar a água para o consumo, numa parceria com o governo estadual e com a empresa Água Boa.[4]
Em 2020, muitas casas eram feitas de materiais reciclados; antes, eram feitas de madeira, o que as deixava sujeitas à ação de cupins.[1]
Em 2012, nenhum médico havia visitado o local havia dois anos.[13] Em 2000, com base em explorações realizadas nos anos imediatamente anteriores, relatou-se que para ter acesso a água doce, os moradores represavam água de uma das poucas nascentes da ilha em caixas d'água e depois distribuíam-na pelas bicas das famílias locais.[2]
Há apenas uma escola, inaugurada pelo governo estadual em 1986[3] e que ensina até a quarta série[13] (equivalente à quinta série,[7] a partir de 2010), e que é equipada com um quarto para que a professora possa passar a semana na ilha e retornar para o continente só nos fins de semana.[7][3][1]
Devido à maior parte dos casamentos ocorrerem dentro da mesma família,[7][6] a maioria dos habitantes leva o sobrenome Oliveira.[1][13][6][3] A população é majoritariamente masculina, pois muitas mulheres se casam com pessoas do continente e partem para lá, enquanto que as que ficam acabam se casando com os próprios primos. Também é comum que homens tragam esposas do continente, que acabam voltando por não suportarem o isolamento.[3] A população local fala em um sotaque próprio e diferente da região, algo que pode ter sido resultado do isolamento geográfico, segundo a linguista Luciana Storto da USP.[12]
Quando não há como obter mantimentos, os habitantes se alimentam de pratos típicos locais como o "azul-marinho" (um cozido de banana verde e peixe amassado), o purê de "cará-de-espinho"[3] e o peixe seco.[1]
Até os anos 1980, eram comuns festas religiosas católicas, mas a chegada de evangélicos naquela década pôs fim a essas tradições.[3]
Turismo
A Ilha Montão de Trigo apresenta ótimas condições para o mergulho, tanto livre como autônomo.[14] Com profundidade para todos os níveis de mergulhadores, é um local bastante procurado para check out (portinho) e turismo. A melhor época para o mergulho é o verão, quando a temperatura da água se torna mais quente e a visibilidade melhora. O windsurf é outra atividade realizada no local.[14]