A Igreja Católica em Brunei é parte da Igreja Católica universal, em comunhão com a liderança espiritual do Papa, em Roma, e da Santa Sé.[5] Manifestações religiosas públicas dos cristãos enfrentam restrições, já que o país adota a lei islâmica sharia como base da legislação civil desde 2013 pelo sultão, Hassanal Bolkiah. A conversão do islã para outras religiões é proibida. O relatório de perseguição religiosa de 2024 da fundação Portas Abertas considerou Brunei como o 44.º país que mais persegue os cristãos no mundo.[6][7]
História
O islamismo foi introduzido no norte da ilha de Bornéu no século V, mas só foi se tornar a religião dominante no século XIV.[8] No século XVI, atividades missionárias de comerciantes portugueses falharam.[6]
Originalmente parte do Vicariato Apostólico das Índias Orientais, desde 1842, a Igreja Católica bruneana foi colocada sob a jurisdição da Diocese de Miri em 1959, parte da Igreja na Malásia. Em 1926, ocorreu a descoberta de petróleo na costa de Brunei, e de gás natural, em 1960, impulsionou muito a economia da região. Com isso, o governo começou a sofrer pressão para se juntar à Malásia. O nacionalismo que tomava conta da população na época, levou à independência de Brunei em 1º de janeiro de 1984.[8]
Em 1991, o governo quis reafirmar seu compromisso com o islamismo, e, por isso proibiu a celebração do Natal, proibiu as duas escolas católicas do país de ensinar qualquer religião que não o islã, além de ser obrigadas a ensinar a escrita árabe. Dois anos depos, o governo reafirmou seu compromisso com a liberdade religiosa por meio da Declaração de Kuala Lumpur, embora as religiões não muçulmanas tenham permanecido sob as restrições impostas pela lei islâmica, a sharia. Em 1997, o Vaticano criou a Prefeitura Apostólica de Brunei, o que foi visto como um passo em direção a uma abordagem mais moderada em relação às religiões não muçulmanas. Foi mantida como sufragânea da Província Eclesiástica em Kuching. O monsenhor Cornelius Sim foi nomeado como o prefeito apostólico.[8]
Atualmente
Igreja de São João, localizada no colégio de mesmo nome, na cidade de Kuala Belait.
Escola católica Saint John.
A maioria dos católicos que vivem em Brunei, cerca de 70% são filipinos, outros 20% são indonésios, indianos, malaios, chineses e europeus, que residem no país temporariamente em empregos relacionados à indústria do petróleo e do gás natural. Os 10% restantes são os católicos bruneanos étnicos.[8][9]
Em 2000, Brunei tinha três paróquias e seus fiéis eram atendidos por padre um diocesano e um padre religioso.[8] Há três escolas católicas em território bruneano, porém elas não têm autorização para disponibilizar instrução cristã aos alunos. A maioria dos alunos dessas escolas são da maioria muçulmana.[5] O padre Arin Sugit, assistente do bispo na Catedral de Nossa Senhora da Assunção, afirma que cerca de 5.000 a 6.000 pessoas participam das missas a cada fim de semana.[9]
O islã é a religião oficial e as outras religiões "podem ser praticadas em paz e harmonia pelas pessoas que as professam", de acordo com a constituição.[5] Como parte das restrições sofridas pelos cristãos, estão as manifestações públicas da fé e a conversão de muçulmanos para o cristianismo. Comemorar publicamente o Natal é proibido, incluindo as decorações e canções, ainda que 25 de dezembro continue a ser um feriado no país. A importação de Bíblias também não é permitida. Atividades da igreja são monitoradas, e tampouco se pode compartilhar a fé com os muçulmanos. Embora todos os cristãos sofram algum tipo de pressão, os de origem islâmica são os que enfrentam mais problemas, com pressão da família, da comunidade e do governo.[5][6][11]
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Eu estava sentada em um canto lendo a Bíblia, quando algumas meninas se aproximaram de mim perguntando por que eu tinha levado uma Bíblia para a escola. Elas gritaram: 'Deixe este livro em casa!'. Fiquei com tanto medo. Elas eram minhas amigas. Nunca as tinha visto tão bravas antes.
”
— Testemunho de uma cristã bruneana anônima à Fundação Portas Abertas[6].
De acordo com a sharia, as mulheres são obrigadas a usar as vestes islâmicas, como o hijab, e se não o fizerem podem enfrentar problemas, mesmo as que não são muçulmanas. Se uma convertida for descoberta, será rejeitada e isolada pela família, seus familiares convocarão líderes muçulmanos ou forçá-la a frequentar programas islâmicos para "reabilitação espiritual". Cristãs solteiras acabam sendo obrigadas a se casar com homens muçulmanos, e as casadas podem perder a guarda dos filhos. Enquanto isso, os homens enfrentam expulsão de sua própria casa, visto que a conversão causa vergonha a seus familiares e à comunidade, sofrem agressão física, humilhação e maus-tratos por parte das autoridades religiosas e nas escolas e universidades. Até mesmo estabelecimentos comerciais, como hotéis e restaurantes, devem seguir os horário de oração muçulmanos, especialmente às sextas-feiras, dia sagrado para o islã. O mesmo vale para todos os cidadãos, que devem parar o que estão fazendo nos horários de oração islâmica.[6] A difamação do profeta Maomé é punível com pena de morte. O Estado costuma incentivar as conversões ao islamismo, oferecendo aos convertidos pagamentos de assistência social, novas casas, geradores, bombas de água ou dinheiro para realizarem a peregrinação a Meca.[5]
Em 2006, a Prefeitura Apostólica de Brunei, que havia sido criada em 1997, foi elevada a Vicariato Apostólico. O primeiro arcebispo nomeada para liderá-lo foi o Cornelius Sim.[12]
Em 29 de maio de 2021, faleceu o cardeal bruneano Cornelius Sim, o primeiro padre católico e vigário apostólico do país. Durante 20 anos, ele serviu Brunei, mas não recebeu nenhum tipo de homenagem do governo.[5] Sua escolha pelo Papa Francisco em outubro de 2020 foi vista como um gesto para ir às "periferias da Igreja", escolhendo representantes de comunidades pequenas.[9] Francisco enviou um telegrama à Igreja bruneana lamentando a morte de Sim.[13] Dois meses após a criação do cardeal Sim, ele enviou um presente ao Pontífice no Consistório de 2020; trata-se de uma imagem de Maria, Rainha do Céu e da Terra, com traços e vestimentas típicas de Brunei. Devido à pandemia de COVID-19, o cardeal bruneano não pôde participar do consistório, e o presente teve de ser entregue ao Papa pelo cardeal filipino, Luis Antonio Tagle, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos.[10]