Wilde foi nomeado no último minuto como o oficial chefe do Titanic em sua viagem inaugural. O oficial trabalhou no lançamento dos botes salva vidas quando o navio colidiu com um iceberg na noite do dia 14 de abril e começou a afundar, porém a liderança das operações de evacuação ficaram com os dois outros oficiais "sêniores": William Murdoch e Charles Lightoller. Pouco se sabe sobre as ações de Wilde durante o naufrágio, porém é claro que foi ele quem pediu permissão para fornecer armas aos oficiais a fim de evitar tumultos. Testemunhas afirmaram que ele foi visto pela última vez tentando soltar dois botes desmontáveis. Wilde morreu no desastre e seu corpo nunca foi encontrado ou identificado.
Início de vida
Henry Tingle Wilde nasceu em 21 de setembro de 1872 em Liverpool, Merseyside, Inglaterra, filho de Henry Wilde e Elizabeth Tingle. Ele começou seu aprendizado naval nos navios da Messrs. James Chambers & Co. de Liverpool, posteriormente se juntando à Maranhan Steamship Company como oficial.[1] Ele entrou em julho de 1897 na White Star Line como oficial "júnior", trabalhando principalmente na rota transatlântica e em algumas vezes na rota para a Austrália. Wilde serviu no SS Arabic de junho a outubro de 1905, no RMS Celtic de dezembro de 1905 a abril de 1906, no SS Medic entre setembro de 1906 e abril de 1908 e no SS Cymric de junho até setembro de 1908.[2] Ele mais tarde também se tornou tenente da Reserva da Marinha.[3]
Wilde se tornou em agosto de 1911 o oficial chefe do RMS Olympic, trabalhando sob o capitão Edward Smith. Ele estava servindo abordo quando o navio colidiu com o cruzador HMS Hawke em 20 de setembro de 1911.[2] Aquele era um momento particularmente difícil na vida pessoal de Wilde, já que sua esposa havia morrido em 24 de dezembro de 1910 e seus bebês gêmeos também morreram pouco depois, possivelmente de escarlatina. Ele ainda tinha uma irmã e outros quatro filhos: Jane, Harry, Arnold e Nancy.[1]
Titanic
Mudança de oficiais
Wilde esperava permanecer como oficial chefe do Olympic em abril de 1912 sob o comando do capitão Herbert James Haddock, ainda mais porque outros oficiais qualificados como o primeiro oficial William Murdoch, o engenheiro chefe Joseph Bell, o médico William O'Loughlin e o comissário de bordo chefe Hugh McElroy haviam sido transferidos para o RMS Titanic, a mais nova adição à frota da White Star. Era a primeira vez que Haddock comandava um navio do tamanho do Olympic e Wilde acreditou que ele ficou para ajudar o novo capitão a se acostumar com a embarcação.[1]
Entretanto, Wilde foi designado para o Titanic no último minuto como oficial chefe. Murdoch que seria o oficial chefe foi rebaixado para primeiro oficial, Charles Lightoller que seria o primeiro oficial virou o segundo, enquanto David Blair foi tirado de seu posto e não embarcou com a tripulação.[4] Não se sabe se essas alterações foram solicitadas por Smith ou pela administração da empresa. Com essa mudança todos os oficiais mais graduados do Titanic também tinham servido no Olympic.[5]
De qualquer forma, essa decisão criou duas consequências desagradáveis já que Haddock teve que comandar um navio grande sem oficiais de experiência nesse tipo de embarcação,[6] enquanto Blair foi embora sem dizer para ninguém onde os binóculos do Titanic estavam guardados.[7] Outros já afirmam que ele levou consigo a chave do armário dos binóculos e sua cópia,[8][9] mas também é possível que a chave levada por Blair era de um dos telefones, e assim as chaves dos binóculos ficaram no navio.[10][11] Isso criou confusão e ressentimento dentre a tripulação. Lightoller em suas memórias fala da "[infeliz] mudança questionável".[7][12]
Viagem
Wilde foi para Southampton em 9 de abril de 1912 e chegou ao navio às 6h do dia seguinte. Antes da partida ele ficou responsável pela verificação dos equipamentos e provisões, a fim de garantir que o Titanic no geral estava pronto para seguir viagem. Wilde e Lightoller também ficaram responsáveis em guiar as manobras para tirar o navio do porto.[13] Ele enviou uma carta para sua irmã no dia 11 de abril enquanto a embarcação estava parada em Queenstown, dizendo que "Eu realmente não gosto deste navio ... Tenho um sentimento estranho sobre ele". O oficial trabalhava durante a viagem dàs 2h até às 6h e entre às 14h e às 18h,[4] também ficando encarregado de manter o diário de bordo.[14] Seus turnos do dia 14 de abril passaram sem incidentes; não se sabe o que Wilde estava fazendo no momento da colisão com o iceberg.[1]
Wilde foi para a proa depois da colisão, não encontrando danos. Ele fez seu relatório na ponte e em seguida foi inspecionar os compartimentos frontais do Titanic junto com Smith e Thomas Andrews, o projetista do navio. O oficial então cuidou dos preparos dos botes salva vidas no lado bombordo,[15] porém Lightoller rapidamente tomou o comando das operações de evacuação, tendo anteriormente passado por uma experiência de naufrágio.[12][16]
Wilde é citado por poucos sobreviventes e suas ações durante o naufrágio permanecem um mistério.[17] O ressentimento pela mudança de hierarquia também se refletiu durante o afundamento, com Murdoch e Lightoller sempre pedindo confirmação de suas ordens com Smith.[18] Wilde mesmo assim trabalhou durante toda a noite para carregar e lançar os botes salva vidas, ordenando por volta dàs 1h30min que o quinto oficial Harold Lowe assumisse o comando do bote nº 14.[19] Também foi ele quem pediu para Lightoller distribuir armas de fogo para os oficiais.[20] O fato dele ter pedido pelas armas é significativo para mostrar a tensão a bordo, uma vez que, segundo um testemunho, Wilde era uma pessoa de aparência "intimidadora". Arthur Godfrey Peuchen relatou que o oficial impediu sozinho que um grupo de bombeiros e foguistas embarcassem em um dos botes, já que a ordem era de mulheres e crianças apenas.[1]
Depois disso ele foi para estibordo ajudar no carregamento do bote desmontável C, conforme Joseph Bruce Ismay relatou em seu testemunho,[21] e então para bombordo para o desmontável D. Wilde tentou em vão lança-lo com Lightoller no comando, porém o segundo oficial se recusou a deixar o Titanic.[22] Ele em seguida foi para os desmontáveis A e B, que ficavam posicionados em cima do alojamento dos oficiais sem nenhum equipamento para baixá-los.[23] Durante o naufrágio Wilde percebeu que o navio tinha uma tendência para adernar para o lado estibordo, assim teria ordenado que todos fossem para o lado bombordo a fim de tentar equilibrá-lo.[18][24]
Alguns relatos dizem que Wilde foi visto pela última vez na ponte de comando fumando um cigarro, sem esboçar nenhuma vontade de salvar sua vida, enquanto certos historiadores e pesquisadores levataram a hipótese de que ele tenha cometido suicídio.[25] Ele acabou morrendo no naufrágio e seu corpo, se foi encontrado, nunca foi identificado. Sua família recebeu uma compensação a partir de um fundo criado em apoio às vítimas do naufrágio. Um cenotáfio e um obeslico em sua homenagem foram erguidos no Cemitério de Kirkdale em Liverpool com a inscrição: "Capitão Henry T. Wilde, RNR Oficial Chefe Interino que Encontrou sua Morte no Desastre do SS Titanic. Um dos Heróis Britânicos".[26]
Legado
Wilde era considerado "um dos homens mais corajosos que já pisaram em um convés",[27] sendo altamente estimado pelos executivos da White Star Line e pelo capitão Smith.[28] Alguns documentos da época do naufrágio indicam que Wilde estava prestes a ser promovido a capitão, porém uma greve dos mineiros de carvão em 1912 fez a companhia adiar esses planos e considerar transferí-lo para o Titanic temporariamente.[29]
Sua família e descendentes permanecerem em silêncio a seu respeito até 2012, o centenário do naufrágio. Seu neto Chris Bayliss finalmente veio a público falar sobre Wilde e também mostrou a grande coleção de artefatos pertencentes ao seu avô, que incluem fotografias, certificados de nascimento e casamento, cartas particulares e até mesmo um chapéu de oficial da White Star Line. Bayliss afirmou que em suas últimas cartas Wilde demonstrava hesitação e um sentimento ruim ao embarcar no Titanic.[30]
↑Brewster, Hugh; Coulter, Laurie (1999). Tout ce que vous avez toujours voulu savoir sur le Titanic. [S.l.]: Glénat. p. 16. ISBN2723428826 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑McCluskie, Tom; Sharpe, Michael; Marriott, Leo (1998). Titanic & Her Sisters Olympic & Britannic. [S.l.]: Parkgate Books. p. 488. ISBN1571451757 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑Allen Butler, Daniel (1998). Unsinkable: The Full Story of the RMS Titanic. [S.l.]: Stackpole Books. p. 52. ISBN081171814X