Sobrinha do duque Henrique II da Lorena, inicialmente foi conhecida por Henriqueta de Vaudémont (Henriette de Vaudémont), tornando-se a princesa Henriqueta de Lorena assim que o seu pai se torna o duque Francisco II da Lorena, em 1625.
Questões matrimoniais
O simpático duque Henrique II tivera do seu segundo casamento com Margarida Gonzaga duas filhas. De acordo com os costumes dos ducados, a mais velha era a sua herdeira, devendo suceder-lhe, transmitindo os seus direitos ao esposo tal como acontecera dois séculos antes quando a duquesa Isabel da Lorena casara com Renato I de Anjou.
Sentindo o fim a aproximar-se, o duque pretendia casar a sua filha e herdeira Nicole, que na altura tinha apenas 12 anos, com o seu favorito, Luís de Guise, Barão de Ancerville, filho bastardo do cardeal de Lorena, homem adulto e de grande talento que o envelhecido duque considerava como um filho.
O irmão e os sobrinhos do duque, bem como a nobreza Lorena ficaram escandalizadas com tal perspetiva, e os príncipes e grandes senhores recusavam-se a dar precedência a um homem de nascimento ilegítimo.
Foi então negociado um compromisso: a herdeira Nicole casaria com o seu primo co-irmão Carlos (o mais próximo herdeiro do trono ducal em linha masculina), filho do irmão do duque, Francisco de Vaudémont. Carlos era um jovem fogoso e excelente militar que se distinguira na batalha da Montanha Branca mas era também ambicioso e intriguista ; em compensação, o duque obtém para o seu favorito a mão da sua sobrinha, irmã de Carlos, a princesa Henriqueta.
Assim, em 1621, enquanto a duquesa herdeira Nicole, na altura com 13 anos, casava com o primo Carlos de Vaudémont, de 17 anos, Henriqueta de Vaudémont, com 16 anos, casava com Luís de Guise, que tinha 33 anos.
O duque Henrique II morre três anos depois e Nicole conjuntamente com o marido, Carlos, sobem ao trono Ducal. O casal governa inicialmente de comum acordo antes que Nicole, uma jovem dócil e pouco dada à vida política, seja afastada do poder pelas intrigas do marido.
Estes passaram a ser denominados como príncipe e princesa de Phalsburgo e reconstruíram um castelo em Sampigny, no Ducado de Bar.
Após a morte de Luís de Guise, em 1631, Henriqueta permanece no Principado de Lixheim, onde vêm a ser cunhadas moedas com a sua esfinge[1], denominadas double tournois[2], cunhadas em 1633 e 1634.
A invasão francesa, exílio e resistência
A ocupação da Lorena e do Barrois pelos franceses em 1633 provoca a dispersão da família ducal, forçando Henriqueta, jovem viúva sem descendência, a uma fuga bastante romântica.
Henriqueta volta a casar em 1644, em segundas núpcias, durante o seu exílio, com o fidalgo espanhol, don Carlos de Guasco, marquês de Sallario, general de artilharia, que morre pouco depois.
Finalmente, e atendendo às suas dificuldades financeiras, a princesa volta a casar uma quarta vez, em 1649, quando tinha 44 anos, com o seu principal credor, o marquês Francisco Grimaldi, nobre genovês aparentado com os príncipes do Mónaco que não desdenhava de negociar nos Bancos de Antuérpia. Tal como os seus maridos precedentes, ele recebe o título de príncipe de Phalsburgo e Lixheim.
A princesa Henriqueta teve uma filha que morreu muito jovem. A sua biografia é o tema dum livro notável, de título "Une princesse au Cœur de l'Europe" [3] escrito, após longas investigações, pelo arquivista da Câmara municipal de Saint-Avold localizada num dos castelos de Henriqueta de Lorena e onde estava o retrato da princesa realizado pelos ateliers Van Dyck.
Foi então necessário recuperar o castelo de Sampigny que fora devastado pelos anos de guerra. Graças à fortuna do marido, Henriqueta conseguiu reabilitar o imóvel; eles permanecem então em Neufchâteau, senhorio pertencente a Henriqueta, onde morre em 1660. Ela foi sepultada na igreja de Santa Lúcia de Sampigny junto do seu primeiro marido.
Henriqueta detinha igualmente a terra de Saint-Avold onde fundou um mosteiro de beneditinos. Encontra-se no castelo dessa cidade, transformado em Câmara Municipal, um retrato da princesa da autoria de Van Dyck.
Henriqueta de Lorena não teve herdeiros diretos, e as suas terraa regressaram ao domínio ducal por um acórdão do Tribunal da Lorena datado de 1661, exceto o principado de Lixheim e o castelo de Sampigny, conservados por Francisco Grimaldi de que teria o usufruto até morrer. O príncipe foi igualmente sepultado na igreja de Sampigny após a sua morte em 1693.