Glones Mirranes (em grego: Γλώνης Μιρράνης; romaniz.: Glónes Mirránes; em armênio: Գոլոն Միհրան; romaniz.: Gołon Mihran), de acordo com Sebeos, mas também chamado Gorgom ou Gorguém (na grafia corrigida) a partir do selo duma coleção museológica de Londres a ele atribuído, foi o general sassânida (aspebedes) que tornou-se marzobã da Armênia de 573 a 575 (ou 580). Foi citado na História de Heráclio de Sebeos, porém devido a defasagem no registro não há consenso entre os historiadores se Glones pode ser o general Mirranes Mirabandaces que aparece no mesmo período.
Nome
Walter Bruno Henning afirmou que "Glones" ou "Glom" são as variantes helenizadas do armênioGołon e Włon. Para ele, Włon-Gołon-Glon são formas tardias de Vrthraghna (Varhran, Bahram e assim por diante).[1] Mirranes (Μιρράνης) ou Mitranes (Μιτράνης) são as formas gregas do nome persa médio Mirã (Mihrān),[2] que derivou do persa antigo Mitrana (*Miθrāna-).[3] Foi registrado em armênio como Mirã (Միհրան) e Merã (Մեհրան / Մէհրան, Mehran)[4] e em georgiano como Miriã (მირიან).[2] Em sua forma georgiana, foi latinizado como Meribanes pelo historiador Amiano Marcelino.[5][6] Segundo a Vida de Vactangue, esse nome estava ligado a Mirdates, que deu origem a Mitrídates e outros nomes análogos.[7]
Contexto
Em 571/2, o marzobãSurena assassinou Manuel II Mamicônio. Para se vingar, o irmão do falecido, Vardanes III, se rebelou e matou o marzobã. O xáCosroes I(r. 531–579) enviou à Armênia o general Mirranes Mirabandaces a frente dum exército de 20 mil homens para suprimir a revolta, mas foi derrotado na planície de Calamaque, em Taraunitis, e Vardanes capturou os seus elefantes.[8] Depois, outro general, chamado Vardanes Vesnaspe, foi enviado, mas também nada logrou sucesso e foi reconvocado em 573.[9]
Vida
Um fragmento de Sebeos parece recordar que então Glones Mirranes, que acabara de ser derrotado na Ibéria,[10] foi à Armênia como o chefe de outro exército de 20 mil persas apoiados por elefantes de guerra e inúmeros auxiliares de povos que habitavam o Cáucaso, e que quiçá incluíam hunos,[11] para "exterminar a população da Armênia, destruir, matar e barbarizar impiedosamente o país". No ano de 575, marchou ao sul e capturou a fortaleza de Anglo, em Bagrauandena, mas uma lacuna no texto não permite que se saiba o que ocorreu depois. Um fragmento inserido depois da lacuna afirma que participou nas expedições do príncipe Filipe em Calamaque e em Utmus, mas foi derrotado em ambas as ocasiões. [12] Apesar disso, deve ter ficado no país até cerca de 580 antes de partir.[9]
A historiadora Rika Gyselen descobriu numa coleção museológica de Londres o selo do mirrânida Gorgom (Gōrgōn) que serviu como aspabedes do Azerbaijão (uma das quatro divisões do Império Sassânida). De seu nome, Gyselen o corrigiu para Gorguém (Gōrgēn) e o associou ao avô do futuro xá Vararanes VI(r. 590–591), que alegou ser tataraneto do lendário Gorguém Milade (Gōrgēn Mīlād), a quem os mirrânidas atribuíam sua linhagem. Esse Gorguém, por sua vez, ainda foi associado pelo historiador Parvaneh Pourshariati a Glones e Mirranes Mirabandaces, que entende serem a mesma pessoa. Ele reforça sua ideia no fato que Vararanes e ele são os únicos designados por esse epíteto por Sebeos.[10] A associação de Glones e Mirranes Mirabandaces já havia sido proposta por René Grousset com base em semelhanças narrativas; seus exércitos tinham a mesma composição e Calamaque, a região que Filipe atacou com Glones, foi onde Vardanes derrotou Mirranes.[13] Apesar disso, Sebeos distingue-os e Cyril Toumanoff considera que houve dois marzobãs distintos.[14]
Ačaṙyan, Hračʻya (1942–1962). «Սանատրուկ». Hayocʻ anjnanunneri baṙaran [Dictionary of Personal Names of Armenians] (in Armenian). Erevã: Imprensa da Universidade de Erevã
Grousset, René (1973) [1947]. Histoire de l'Arménie: des origines à 1071. Paris: Payot
Maenchen-Helfen, Otto J. (1973). The World of the Huns: Studies in Their History and Culture. Berkeley, Los Angeles e Londres: Imprensa da Universidade da Califórnia. ISBN9780520015968
Martindale, John R.; Jones, Arnold Hugh Martin; Morris, John (1992). The Prosopography of the Later Roman Empire - Volume III, AD 527–641. Cambrígia e Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Cambrígia. ISBN0-521-20160-8A referência emprega parâmetros obsoletos |coautor= (ajuda)
Pourshariati, Parvaneh (2008). Decline and Fall of the Sasanian Empire: The Sasanian-Parthian Confederacy and the Arab Conquest of Iran. Nova Iorque: IB Tauris & Co Ltd. ISBN978-1-84511-645-3
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Tavernier, Jan (2007). «4.2.1113. *Miθrāna-». Iranica in the Achaemenid Period (ca. 550–330 B.C.): Lexicon of Old Iranian Proper Names and Loanwords, Attested in Non-Iranian Texts. Dudley, Massachussetes: Peeters Publishers
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Toumanoff, Cyril (1990). Les dynasties de la Caucasie chrétienne de l'Antiquité jusqu'au xixe siècle : Tables généalogiques et chronologiques. Roma: Edizioni Aquila
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