As Garotas do Radium foram operárias que contraíram envenenamento por radiação por pintarem mostradores de relógio com tinta auto-luminosa na fábrica United States Radium em Orange, Nova Jérsei, por volta de 1917. As mulheres, às quais foi dito que a tinta era inofensiva, ingeriram quantias mortais de rádio (elemento químico denominado radium em inglês e latim) ao lamberem seus pincéis para afinar-lhes as pontas e obter maior precisão na pintura; algumas também pintaram suas unhas e dentes com esta substância brilhante.[1]
Cinco destas mulheres desafiaram seu empregador em um caso judicial que estabeleceu (por ser o regime common law) o direito de trabalhadores individuais processarem seus empregadores em caso de contração de doenças ocupacionais.[1]
Exposição à radiação
A Corporação U.S. Radium contratou aproximadamente 70 mulheres para desempenharem variadas tarefas, incluindo o manejo do radium, enquanto os donos e cientistas, familiares com os efeitos do radium, cuidadosamente evitaram quaisquer contatos para si; os químicos da instalação usavam telas de chumbo, máscaras e pinças.[1]
Estimados 4 mil trabalhadores foram contratados por corporações nos EUA e Canadá para pintar faces de relógio com radium. Estas pessoas misturavam cola, água e pó de radium, e então usavam pincéis de pelos para aplicar a tintura brilhante nos mostradores. A então taxa-corrente de pagamento, para pintar 250 mostradores por dia, era de 1,5 pêni/indicador, o equivalente a US$0,277 em 2015.
Devido aos pinceis perderem seu formato após poucos usos, os supervisores da U.S. Radium encorajaram suas trabalhadoras a apontá-los com seus lábios, ou usar suas línguas para mantê-los "afiados". Por diversão, as Garotas do Radium pintaram suas unhas, dentes e faces com a tinta mortal produzida na fábrica.[2] Muitas das trabalhadoras ficaram doentes. É desconhecida a quantidade de mortos pela exposição a esta radiação.
Doença por radiação
Muitas das mulheres depois começaram a sofrer de anemia, fratura dos ossos e necrose da mandíbula, uma condição conhecida como mandíbula de radium. Acredita-se que as máquinas de raios-X usadas pelos médicos-investigadores podem ter contribuído para a piora do quadro das trabalhadoras doentes, por submetê-las a mais radiação. Descobriu-se que ao menos um exame foi fraudulento, parte de uma campanha de desinformação iniciada pelo contratante defensor.[1]
A U.S. Radium e outras companhias de mostradores de relógio rejeitaram as afirmações de que as trabalhadoras estavam a sofrer de exposição a radium. Por algum tempo, doutores, dentistas e pesquisadores cumpriram às solicitações das companhias para que os dados não fossem divulgados. Por insistência destas empresas, médicos profissionais atribuíram as mortes a outras causas; sífilis, uma DST notória na época, foi frequentemente citada, em tentativas de manchar a reputação das mulheres.[3]