Fanta Régina Nacro (Tenkodogo, 1962 - presente), realizadora, produtora e argumentista do Burkina Faso, conhecida por ter sido a primeira mulher do país a realizar um filme de ficção e uma longa-metragem. É uma das fundadoras da Associação Africana de Directores e Produtores de Cinema. [1][2][3][4][5][6][7][8]
Ela é uma das representantes da “Nouvelle Vague Africana”. Os seus filmes tendem a questionar as tradições do Burkina Faso, enquanto explora a relação entre tradição e modernidade no mundo actual. [9][10][11]
Percurso
Fanta nasceu no dia 4 de Setembro de 1962, em Tenkodogo, uma região rural do Burkina Faso e pensava ser parteira. Cresce rodeada de contadores de histórias e isso desperta a sua vontade de fazer filmes. Segundo ela, ficou a saber da existência da escola de cinema, o Instituto de Educação Cinematográfica de Ouagadougou (INAFEC) através de um vizinho, desiste de ser parteira e vai estudar para lá. [6][9][12][10][11][13]
A sua primeira experiência cinematográfica surgiu enquanto estudava no INAFEC. O departamento de cinema havia feito uma parceria com o da Universidade Howard liderado pelo professor Abiyi Ford, é nesta altura que conhece a cineasta Zeinabu Davis. Segundo ela, esta experiência ajudou-a a definir o seu futuro papel na indústria cinematográfica. [14]
Licencia-se em 1986 no INAFEC e recebe o diploma em ciências e técnicas audiovisuais. De seguida trabalha como anotadora no filme Yam Daabo (A escolha) do realizador Idrissa Ouedraogo que conhecera enquanto estudava. Depois parte para Paris onde tira o mestrado em Estudos Cinematográficos e Audiovisuais, e licencia-se em Cinema na Sorbonne.[6][4][12][3][13]
A sua primeira curta metragem, Un Certain Matin de 1991, é considerada a primeira ficção cinematográfica realizada por uma mulher africana e estreou nas Jornadas Cinematográficas de Cartago. [6][12][15][16]
Em 1993 ela cria a sua produtora Les Films du Défi, através da qual procura produzir, criar e distribuir filmes para além de apoiar novos realizadores e despertar a atenção para os filmes produzidos e realizados no continente africano.[10][12]
Em 1999, criou com Jean-Marie Teno e Balufu Bakupa-Kanyinda, a Associação Africana de Realizadores e Produtores de Cinema com o objectivo de expandir o trabalho dos realizadores africanos. Esta organização tem feito esforços para chamar a atenção para o cinema africano de maneira a apoiar a indústria. [17][18]
As suas curtas e médias metragens que se sucedem, reforçam a sua notoriedade, principalmente Le truc (1998) uma comédia que advoga a utilização do preservativo. A curta Bintou é seleccionada para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes e é premiada com o prémio de melhor curta metragem no FESPACO em 2001. Em 2004 a sua longa metragem La Nuit de la vérité, onde aborda os conflitos étnicos também chama a atenção. [9][4][19][10]
Selecção de Filmes
O seu primeiro filme foi a curta intitulada de Un Certain Matin (1992), a primeira ficção cinematográfica realizada por uma mulher africana. Desde então ela produziu várias curtas, abordando de forma humorística, as tradições do seu país e as complexas relações entre estas e a modernidade. [15]
A sua curta Bintou ganhou mais de 20 prémios internacionais e ganhou o prémio de melhor curta no FESPACO em 2001. [9][20]
Puk Nini, que significa “abre os teus olhos”, é uma curta em que Nacro brinca com o tema do adultério apresentando o ponto de vista das mulheres e dos homens. Os seus filmes encorajam a independência feminina e desafia muitos das estruturas de poder tradicionais que existem entre mulheres e homens, tanto no contexto africano como no de Hollywood. [17][21]
A curta Le truc de Konaté, realizada por ela em 1997, aborda os vários mitos por detrás da utilização do preservativo, da sexualidade, da sida, da poligamia e o tema da mudança numa cidade do Burkina Faso. Ela mistura elementos humorísticos com informativos para transmitir informação importante sobre a importância da protecção durante o acto sexual e a necessidade de as mulheres se emanciparem, principalmente em questões de saúde.[21]
Realiza a sua primeira longa-metragem em 2004, La Nuit de la vérité é o primeiro filme realizado por mulher que aborda os conflitos étnicos em África. [9][22]
Filmografia
Na sua filmografia encontram-se várias curtas e uma longa metragem: [2][23][11]
Curtas
1991 : Un Certain Matin
1993 : L’École au cœur de la vie
1995 : Puk Nini
1997 : Femmes capables
1997 : La Tortue du Monde
1998 : Le Truc de Konaté
1999 : Florence Barrigha
2000 : Relou
2000 : Laafi Bala
2001 : La bague au doigt
2001 : Une volonté de fer
2001 : La voix de la raison
2001 : Bintou
2002 : En parler ça aide
2003 : Vivre positivement
Longa Metragem
2004 : La Nuit de la vérité
Prémios
Fanta Régina Nacro é uma realizadora reconhecida e premiada internacionalmente, no total ganhou mais de 20 prémios e várias nomeações, entre as quais se detacam:[10][24]
Pela sua curta-metragem, Un Certain Matin, Nacro recebeu:[24]
Fanta Régina Nacro é uma das realizadoras homenageadas no documentário Sisters of the Screen de Beti Ellerson, ao lado de Sarah Maldoror, Ngozi Onwurah, Safi Faye (Senegal) e Anne Mungai. [27]
Em 2020 foi uma das realizadoras convidadas para participar numa conversa sobre o cinema Africano no ciclo Storytelling and West African Cinema, organizado pela curadora Yaëlle Biro do departamento de Artes Africanas do museu MET. [28]
O seu trabalho tem sido alvo de estudo, nomeadamente o seu filme La Nuit de la verité (The night of truth) analisado em vários artigos académicos. [22][29][30]
↑«Pionera Fanta Régina Nacro». Mostra Internacional de Films de Dones de Barcelona (em espanhol). 20 de setembro de 2019. Consultado em 27 de julho de 2020