A estação ferroviária de Marvão-Beirã, originalmente e por vezes ainda identificada apenas como de Marvão,[4] é uma interface ferroviária desactivada do Ramal de Cáceres, que servia as localidades de Beirã e Marvão, em Portugal. Foi inaugurada, como parte do Ramal de Cáceres, em 6 de Junho de 1880,[5] e encerrada em 2012.[6]
Aspetos da plataforma, em 2018.
Descrição
Localização e acessos
A estação tem acesso pelo Largo da Alfândega e pela Rua Dom João da Câmara, na localidade de Beirã.[7] Situa-se a norte de Marvão, localidade nominal primária, distando mais de nove quilómetros por via rodoviária, mormente pela EM539.[8]
Infraestrutura
Em Janeiro de 2011, tinha duas vias de circulação, ambas com 415 m de comprimento, e duas plataformas, que apresentavam ambas 98 m de extensão, e 25 cm de altura.[9] O edifício de passageiros situa-se do lado és-sudeste da via (lado direito do sentido ascendente, para Cáceres).[10][11]
O Ramal de Cáceres começou a ser construído em 15 de Julho de 1878, pela Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, e entrou ao serviço em 15 de Outubro do ano seguinte, mas a abertura oficial só se realizou no dia 6 de Junho de 1880.[5] A implantação da importante estação fonteiriça em Beirã trouxe à freguesia grande afluxo de novos habitantes (decuplicando o parque habitacional entre 1877 e 1912) e a sua construção incluiu melhoramentos hidráulicos que minoraram cheias recorrentes no local.[7]
Em 1913, havia um serviço de diligências entre a estação de Marvão e as termas da Fadagosa.[12]
Expansão
Em 1924 foi elaborado um projeto de expansão desta gare, dado o estado já degradado e insuficiente do edifício original;[7] as obras tiveram início em 1926, tendo o edificado anterior sido totalmente modificado:[13] Foi aumentado o espaço disponível para a delegação aduaneira, os serviços, e os alojamentos para o pessoal, e construiu-se um anexo com um restaurante, e quatro quartos para passageiros, com lavabos individuais.[13]
Esta remodelação ficou a cargo do arquiteto ferroviário Perfeito de Magalhães, que aplicou também aqui um estilo eclético, almejando enquadrar os edifícios da estação na arquitetura local.[7] O edifício de passageiros apresenta três corpos em simetria, elevando-se o corpo central a dois pisos: Sendo o piso superior destinado à habitação do chefe e subchefe da estação, alberga o piso inferior a área para uso dos passageiros (bilheteiras, bagagens, e salas de espera), residindo nos corpos laterais serviços alfandegários e ferroviários.[7] O interior da estação está revestido com um lambril de azulejos enxaquetados em verde e branco, colocados alternadamente.[14]
As obras de 1926 incluiram ainda a criação do albergue-restaurante, igualmente do traço de Perfeito de Magalhães, que dotou este espaço de caraterísticas inovadoras na organização interna do espaço e seu enquadramento, no espírito da Arte Nova, mantendo uma identidade comum junto com o edifício principal da estação e restante edificado.[7]
Em 1938, o Conselho Nacional de Turismo propôs a concessão de um novo subsídio, para custear a compra de um novo painel de azulejo na estação de Marvão - Beirã, com uma imagem da Torre de Belém.[15] Esta decoração ficou a cargo do pintor Jorge Colaço:[16] a fachada exterior da estação foi decorada com vários painéis de azulejo, em azul e branco, colocados de forma a ser facilmente vistos pelos passageiros, servindo como uma espécie de roteiro turístico para o visitante estrangeiro que chegava a Portugal.[14] Os painéis de azulejo retratam vários aspectos locais e nacionais, como o Castelo de Marvão, o Cruzeiro e o Pórtico de Marvão, um casal com trajes regionais e o brasão de Marvão, o Templo de Diana, o Mosteiro de Alcobaça, e a Sé de Braga,[14] além da já referida Torre de Belém. No total, a estação apresenta treze painéis de azulejos.[14][7]
A operadora Comboios de Portugal suprimiu todos os comboios Regionais no Ramal de Cáceres no dia 1 de Fevereiro de 2011,[21][22][23] ficando esta estação apenas com os serviços do Lusitânia Comboio Hotel,[24] No entanto, em Outubro o governo anunciou a decisão de alterar o percurso destes comboios para a Linha da Beira Alta até ao final do mesmo ano, e assim proceder ao total encerramento do Ramal de Cáceres, no âmbito do Plano Estratégico de Transportes.[24] Com efeito, em Agosto de 2012 a Rede Ferroviária afirmou que o percurso do Lusitânia Comboio Hotel sido alterado, passando a transitar pela Linha da Beira Alta, pelo que o Ramal de Cáceres iria ser encerrado no dia 15 desse mês.[6][25][7] Efetivamente todo o ramal foi removido da rede em exploração pelo regulador no mesmo mês, explicitamente incluindo o interface de Marvão-Beirã.[26]
Após o encerramento, o edificado da estação foi alvo de manutenção continuada por parte da Junta de Freguesia local, presidida por um ex-ferroviário, apresentando, em finais da década de 2010, um estado de conservação muito superior ao das restantes interfaces abandonadas do Ramal de Cáceres.[7] Num projeto inciado em 2011, o albergue restaurante e alguns edifícios anexos, incluindo o armazém da estação, foram integrados num espaço de restauração e hotelaria local (TrainSpot).[7] Desde[quando?] pelo menos 2018,[27][carece de fonte melhor] parte do Ramal de Cáceres é utilizada para fins turísticos com um serviço de rail bike entre esta estação e Castelo de Vide.[28]
↑«Serviço de Diligencias». Guia official dos caminhos de ferro de Portugal. Ano 39 (168). Outubro de 1913. p. 152-155. Consultado em 9 de Março de 2018
↑ ab«A estação de Marvão-Beirã»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 39 (928). 16 de Agosto de 1926. p. 249. Consultado em 21 de Novembro de 2016
↑IGLESIAS, Javier (Março de 1985). «El TER, Veinte Años Despues». Carril (em espanhol) (11). Barcelona: Associació d'Amics del Ferrocarril-Barcelona. p. 11
↑BLAZQUEZ, Jose (1992). «Exposicion de Trenes Miniatura en Badajoz». Maquetren (em espanhol). Ano 1 (4). Madrid: Resistor, S. A. p. 46
↑RODRÍGUEZ, Angel (Abril de 2001). «Oferta de trenes internacionales con Francia, Italia, Portugal y Suiza». Via Libre (em espanhol). Ano 38 (441). Madrid: Fundación de los Ferrocarriles Españoles. p. 14
PEREIRA, Paulo (1995). História da Arte Portuguesa. III. Barcelona: Círculo de Leitores. 695 páginas. ISBN972-42-1225-4
REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN989-619-078-X
SAPORITI, Teresa (2006). Azulejaria no Distrito de Portalegre. Lisboa: Dinalivro, Distribuidora Nacional de Livros, Lda. 381 páginas. ISBN972-97653-3-2