A chuva no Rio começou no final da tarde do dia 5 de abril. Os motoristas que saíam do trabalho e tentavam passar por trechos alagados ficavam presos no engarrafamento. Muitos deles foram obrigados a abandonar os carros e procurar abrigo em local seguro. Os bombeiros chegaram a usar botes salva-vidas para resgatar pessoas que ficaram presas com o transbordamento do Rio Maracanã.
Muita gente ficou sem condições de ir para casa porque a Avenida Brasil, principal ligação do centro com as zonas norte e oeste do Rio de Janeiro ficou com vários bolsões d'água. O temporal veio acompanhado de uma ventania, que chegou a registrar mais de 70 quilômetros por hora na altura do Forte de Copacabana.[carece de fontes?]
Na terça-feira, 6 de abril, as escolas das redes municipal e estadual, as universidades e a maior parte dos estabelecimentos da rede particular suspenderam as aulas. As atividades escolares também foram suspensas em todas as unidades de ensino técnico e profissionalizante da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro (Faetec), segundo nota divulgada pela entidade.[carece de fontes?]
Vários órgãos públicos e grandes empresas, públicas e privadas, também pararam as atividades administrativas ou tornaram o ponto facultativo, porque os diversos pontos de alagamento, em todas as áreas da cidade, impedem o deslocamento de funcionários até o trabalho.[3]
Na quarta-feira, 7 de abril, as 22h00, um novo deslizamento ocorreu na cidade de Niterói, soterrando cerca de 40 casas. Bombeiros estimam que cerca de 200 corpos estão soterrados no local do deslizamento.
Na quinta-feira, 8 de abril, por volta das 16h00,houve um pequeno deslizamento,soterrando 4 casas no Rio de Janeiro.
Segundo especialistas, foi a pior enchente do estado em 46 anos (a pior anterior tendo sido registrada em 1964). Um índice pluviométrico excessivo, somado à maré alta, teriam sido os responsáveis pela erosão de encostas e pela demora no escoamento das águas.
Danos e mortes
Há ainda mais de 150 áreas de risco de deslizamento de terra em todo o estado do Rio de Janeiro.[carece de fontes?] Várias famílias estão desalojadas e há mais de 180 imóveis interditados[4] e 54 pessoas desaparecidas.[2]
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, pediu uma ajuda de 370 milhões de reais ao Governo Federal, para recuperar a cidade dos transtornos que a chuva causou. Em Niterói, foi pedido um valor entre 15 e 20 milhões de reais.[2]
Ocupação de áreas de risco
Um dos locais mais gravemente afetados por deslizamentos foi o morro do Bumba, em Niterói. O morro é de fato um lixão, desativado desde 1981. Num filme de 1980, de autoria de Ronaldo German, são mostrados os caminhões constantemente trazendo lixo sem nenhum tratamento, o que ocorreu por aproximadamente 15 anos.[5]
Desde sua desativação, na elevação formada pela acumulação de resíduos, foram construídas habitações. Desde o início dos anos 2000, já vinham sendo registrados deslizamentos de terras e desabamentos de casas nessa área instável e contaminada. Todavia, a expansão do assentamento foi tolerada e mesmo estimulada pelo Poder Público municipal, que, em 1996, realizou obras de urbanização sobre terrenos onde nada deveria ser construído. Os riscos para a população eram conhecidos. Além da instabilidade do terreno, a decomposição do lixo resulta na produção de metano (com risco de explosões) e de chorume - o percolado tóxico. No morro do Bumba, casas, reservatórios de água e lixo compartilham o mesmo espaço.[6] No entanto, as casas no Morro do Bumba, soterradas pelos deslizamentos de terras, nem sequer estavam na lista das moradias consideradas em áreas de risco pela prefeitura local.[7]
Segundo o coordenador do grupo de análise de risco tecnológico e ambiental da Coppe/UFRJ, engenheiro Moacyr Duarte, o solo do Morro do Bumba estava saturado e nada seria capaz de evitar o desmoronamento. O especialista recomenda a implementação de medidas preventivas, pelo Poder Público - remoção de famílias em áreas de risco, impedimento da ocupação de encostas e recomposição da cobertura vegetal. "Existem outros terrenos, que não são lixões, e que também estão em risco. É um processo cumulativo. Não é por falta de conhecimento técnico que aconteceu esta tragédia", conclui.[8]
A Prefeitura de Niterói pagou e ignorou uma análise encomendada, no ano de 2004, à equipe de geólogos da Universidade Federal Fluminense (UFF), cujo relatório coordenado pelo geólogo Adalberto da Silva chamava atenção para o Morro do Bumba.[9]
Segundo o oceanógrafo David Zee, professor da Universidade Gama Filho e UERJ, classificou o ocorrido como resultado de mudanças climáticas globais que têm efeitos locais. De acordo com o cientista, o desvio do córrego de Guararapes foi um fator fundamental para a série de deslizamentos. O córrego foi desviado para um desenvolvimento imobiliário privado no pico do morro. Desde então, a água vazando tem sido gradualmente filtrada, colaborando para a erosão do solo.
O geógrafo Marcelo Motta, fazendo de um grupo de trabalho chamado pela prefeitura de Niterói para analisar as causas do deslizamento no Morro do Bumba, afirmou que a presença do lixo foi fundamental para a escala do incidente.[5]
No Morro do Urubu, em Pilares, zona norte do Rio de Janeiro, cerca de 250[10] famílias ficaram desabrigadas após a desocupação de suas casas em áreas atingidas por deslizamentos ou que corriam risco iminente. A partir do domingo, 11 de abril de 2010, construções de risco na região começaram a ser demolidas. Os moradores atingidos ocuparam casas de parentes ou foram para a Escola Maranhão, próxima à comunidade.
Nota: Equipe de geólogos da PUC, após analisar detidamente o local, verificou que não houve afundamento do terreno sobre o qual as casas foram construídas (antigo lixão), como se pensou a princípio, mas soterramento por desabamento de uma encosta próxima.