Doryanthes é o único género da família Doryanthaceae. O género agrupa apenas duas espécies, Doryanthes excelsa (conhecida na Austrália por «gymea lily») e Doryanthes palmeri (conhecida por «giant spear lily»), ambas endemismo da região costeira do leste da Austrália.[3]
As plantas desta família são herbáceasperenes, de grandes dimensões, que crescem em forma de roseta basal, florescendo somente após mais de 10 anos de crescimento. Formam tubérculos como órgãos de persistência. As folhas são sésseis, simples, lineares e com nervação paralelinérvea. As folhas apresentam margens inteiras, mas ao envelhecerem desfazem-se em fibras até ao ápice.
As flores agrupam-se em inflorescências sub-umbeladas, ramificadas, com múltiplas brácteas, inseridas no topo de longos escapos florais. Por vezes, formam-se tubérculos de propagação nas inflorescências. As flores são grandes, hermafroditas, mais ou menos zigomorfas, trímeras, com 10 a 15 cm de comprimento, de coloração vermelho brilhante. As seis tépalas idênticas não são fundidas. As flores apresentam seis estames. Os três carpelos fundem-se num ovário ínfero.
As espécies desta família são polinizadas por aves (ornitofilia) e, como é usual nas plantas polinizadas por aves, produzem muito néctar (em Doryanthes palmeri, até 10 ml por dia). Para além disso, os escapos florais e as inflorescências fornecem às aves áreas de pouso e de descanso, pelo que tais espécies são ecologicamente designadas por «flores de pouso de pássaros». Os frutos são cápsulas com três câmaras. As sementes podem ser aladas.
Preferem habitats com clima quente, solo rico e com abundância de água durante a época mais quente do ano.[3] A floração em massa é observada após incêndios florestais, aos quais estas espécies sobrevivem ilesas graças aos seus tubérculos enterrados.
Filogenia e sistemática
O sistema APG IV, de 2016, reconhece esta família e coloca-a na ordem Asparagales, situação que se mantém sem alterações desde o sistema APG II, de 2003.[4][5] Esta família é monotípica, com apenas 2 espécies,[6] nativas do leste da Austrália.
Na presente circunscrição das Asparagales, é possível estabelecer uma árvore filogenética que, incluindo os grupos que embora reduzidos à categoria de subfamília foram até recentemente amplamente tratados como famílias, assinale a posição filogenética das Doryanthaceae:[7][8]
A relações filogenéticas da família Doryanthaceae com as restantes famílias da ordem Asparagales que a rodeiam nas análises filogenéticas continuam pouco claras, tanto nas análises morfológicas como nas análises moleculares. Chase et al. (2006[9]) considerou a família próxima do clado Ixioliriaceae + Iridaceae, mas não foi essa a topologia adoptada pelo APWeb, onde a topologia é (Ixioliriaceae + Tecophilaeaceae) (Doryanthaceae (Iridaceae, etc.)). Para essa topologia há apoio moderado em Fay et al. (2000[10]), e um apoio de 92 % em Graham et al. (2006[11]). Rudall (2003[12]) encontra uma relação morfológica próxima entre as Doryanthaceae e as Iridaceae.
O género Doryanthes foi descrito em 1802 pelo sacerdote, estadista, filósofo e botânico português José Francisco Corrêa da Serra (1751-1823), um amigo próximo de Joseph Banks. A espécie D. excelsa ou lírio-gimea, endémica na região ao sul de Sydney e Illawarra, inspirou o nome de Doryanthes, o jornal de história e património do sul de Sydney fundado pelo historiador dharawalLes Bursill.
↑ abAngiosperm Phylogeny Group III (2009), «An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III», Botanical Journal of the Linnean Society, 161 (2): 105–121, doi:10.1111/j.1095-8339.2009.00996.x
↑Chase, M. W.; Fay, M. F.; Devey, D. S.; Maurin, O; Rønsted, N; Davies, T. J; Pillon, Y; Petersen, G; Seberg, O; Tamura, M. N.; Lange, Conny Bruun Asmussen (Faggruppe Botanik); Hilu, K; Borsch, T; Davis, J. I; Stevenson, D. W.; Pires, J. C.; Givnish, T. J.; Sytsma, K. J.; McPherson, M. A.; Graham, S. W.; Rai, H. S. (2006). «Multigene analyses of monocot relationships : a summary»(pdf). Aliso (22): 63-75. ISSN: 00656275. Consultado em 25 de fevereiro de 2008 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑Fay, M. F. (2000). «Phylogenetic studies of Asparagales based on four plastid DNA regions.». In: K. L. Wilson y D. A. Morrison. Monocots: Systematics and evolution. Royal Botanic Gardens ed. Kollingwood, Australia: CSIRO. pp. 360–371
↑Graham, S. W.; Zgurski, J. M., McPherson, M. A., Cherniawsky, D. M., Saarela, J. M., Horne, E. S. C., Smith, S. Y., Wong, W. A., O'Brien, H. E., Biron, V. L., Pires, J. C., Olmstead, R. G., Chase, M. W., y Rai, H. S. (2006). «Robust inference of monocot deep phylogeny using an expanded multigene plastid data set.»(pdf). Aliso (22): 3-21. Consultado em 25 de fevereiro de 2008A referência emprega parâmetros obsoletos |coautores= (ajuda)
↑Rudall, P. J. (2003). «Unique floral structures and iterative evolutionary themes in Asparagales: Insights from a morphological cladistic analysis.». Bot. Review. 68: 488-509|acessodata= requer |url= (ajuda)
↑Blunden, G.; Yi, Yi; Jewers, K. (1973), «The comparative leaf anatomy of Agave, Beschorneria, Doryanthes and Furcraea species (Agavaceae: Agaveae)», Botanical Journal of the Linnean Society, 66 (2): 157–179, doi:10.1111/j.1095-8339.1973.tb02167.x
↑Stevens, P. F. (2001 onwards). Angiosperm Phylogeny Website. Version 12, July 2012 [and more or less continuously updated since]. http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/
Bibliografia
Stevens, P. F. (2001). «Doryanthaceae». Angiosperm Phylogeny Website (Versão 9, junho de 2008, actualizado desde então) (em inglês). Consultado em 15 de janeiro de 2009
Soltis, D. E.; Soltis, P. F., Endress, P. K., y Chase, M. W. (2005). «Asparagales». Phylogeny and evolution of angiosperms. Sunderland, MA: Sinauer Associates. pp. 104-109A referência emprega parâmetros obsoletos |coautores= (ajuda)
Galeria
Folhas ensiformes de Doryanthes excelsa.
Hábito e inflorescência imatura de Doryanthes excelsa.
Watson, L.; Dallwitz, M. J. «Doryanthaceae». The families of flowering plants: descriptions, illustrations, identification, and information retrieval.Version: 25th November 2008 (em inglês). Consultado em 15 de janeiro de 2009