O território do atual município era cortado por uma estrada ligando Minas Gerais a Vitória, aberta a pedido do príncipe regente João VI de Portugal em 1816. Mas foi a chegada dos imigrantes, sobretudo italianos, alemães e pomeranos, que intensificou o crescimento populacional e econômico entre os séculos XIX e XX. A influência cultural deixada pelos imigrantes europeus ainda é visível em algumas comunidades, sendo expressa em hábitos e costumes diversos pelos descendentes.
O cultivo do café, a fruticultura, a pecuária, a prestação de serviços e o turismo figuram entre as atividades econômicas mais importantes. Domingos Martins possui uma série de bens naturais que são destinos de turistas, como cachoeiras, montanhas e trilhas, sendo um dos atrativos mais visitados a Pedra Azul, no Parque Estadual da Pedra Azul. O principal acesso ao município é através da BR-262.
História
O território do atual município de Domingos Martins era cortado pela Estrada Real São Pedro de Alcântara, que passava pelos distritos de Aracê e Melgaço, seguindo um trajeto próximo ao da atual BR-262.[12][13] Essa estrada foi aberta a pedido do príncipe regente João VI de Portugal em 1816, com a intenção de ligar a região central de Minas Gerais a Vitória,[13] de modo que o estado mineiro não dependesse economicamente apenas do Rio de Janeiro (com o qual era ligado através do Caminho Velho).[14][15] Quartéis foram instalados em Aracê e Melgaço, dando sequência ao povoamento dessas localidades.[12] Os quartéis tinham o objetivo de preservar a segurança daqueles que circulavam pela estrada.[13]
Apesar de já existirem essa estrada e pequenos núcleos de residentes,[13] a ocupação da atual sede de Domingos Martins só veio a se consolidar a partir de 1847, quando uma leva de imigrantes alemães se instalou na localidade, vinda pelo rio Jucu Braço do Norte. Nesse início chegaram pelo menos 39 famílias compostas por católicos e luteranos, com a intenção de constituir uma vila, posteriormente denominada Santa Isabel. Os católicos instalaram uma capela no morro de Boa Vista, dedicada a São Bonifácio e consagrada em 1852. Os luteranos, por sua vez, construíram um templo no Morro do Campinho entre 1858 e 1860.[4]
O estabelecimento dos imigrantes europeus, interessados principalmente no clima parecido com o de seu continente de origem e nas paisagens físicas atrativas, foi fundamental para o desenvolvimento da localidade. Além dos alemães, posteriormente vieram, em grande escala, italianos e pomeranos.[12] Os distritos de Melgaço e Paraju receberam grandes levas de alemães e pomeranos, enquanto que em Aracê se concentraram os italianos, porém os imigrantes ocuparam áreas por todo o atual município.[16] A partir da vila de Santa Isabel, foi criada a freguesia, reconhecida pelo decreto provincial nº 21 de 20 de novembro de 1869, pertencente a Viana.[4]
A freguesia de Santa Isabel foi emancipada pelo decreto estadual nº 41 de 2 de outubro de 1891, mas chegou a ser extinta pelo decreto estadual nº 41 de 18 de janeiro de 1892. Contudo, sua emancipação foi restabelecida pelo decreto nº 29 de 20 de outubro de 1893,[4] passando a se chamar Domingos Martins pela lei estadual nº 1.307 de 30 de dezembro de 1921. Seu nome é uma referência a Domingos José Martins, capixaba que foi líder da Revolução Pernambucana, tendo sido fuzilado na Bahia em 1817.[4] No decorrer do século XX, sua área passou por transformações em sua composição, com a criação de distritos e o desmembramento de Marechal Floriano em 1991.[4]
O relevo de Domingos Martins é consideravelmente acidentado, alternando de ondulado a montanhoso. O município integra a "zona serrana central", ou "Cinturão Verde", região do Espírito Santo formada por terras altas e montanhosas. Cerca de 10% da área municipal estão abaixo de 500 metros de altitude, 35% de 500 a 800 metros, 30% de 800 a 1 000 metros e 25% acima de 1 000 metros.[8]
O relevo montanhoso do município é concentrado na serra do Castelo,[21] cuja ramificação inclui os pontos mais elevados de Domingos Martins, que são a Pedra das Flores (1 909 m), a Pedra do Tamanco (1 850 m) e o Pico Pedra Azul (1 822 m).[22][23] A Pedra das Flores e o Pico da Pedra Azul, localizadas no distrito de Aracê, encontram-se integradas e por conta de sua importância paisagística constituem um dos principais atrativos naturais da cidade.[24]
O Pico da Pedra Azul empresta seu nome e está localizado no Parque Estadual da Pedra Azul,[23] que possui 1 240 hectares e é a principal unidade de conservação de Domingos Martins devido a sua relevância para o Espírito Santo. O parque está inserido, pois, na categoria de proteção integral na listagem de unidades de conservação do estado. Contudo, cerca de 42,86% da área municipal são cobertos por remanescentes florestais, o equivalente a 53 018 hectares.[8] Por causa da presença massiva de áreas de florestas preservadas, sobretudo de Mata Atlântica, Domingos Martins é conhecida como "Cidade do Verde".[25]
A cidade faz parte da bacia hidrográfica do rio Jucu,[26] sendo onde estão localizadas as nascentes de seus formadores, os rios Jucu Braço Sul e Braço Norte,[27] especificamente na serra do Castelo.[28][29] O rio Jucu propriamente dito é formado na divisa de Domingos Martins com Viana, a partir do encontro dos dois mananciais formadores,[27] e é um dos principais responsáveis pelo abastecimento de água da Região Metropolitana da Grande Vitória.[30] Outros cursos hídricos representativos no município são os córregos Melgaço, Tijuco Preto, São Rafael, Cristal e das Farinhas.[26]
Clima
O clima martinense é caracterizado como temperado (tipo Cfb segundo Köppen),[7][31] com diminuição de chuvas no inverno e temperatura média anual em torno dos 18,6 °C, tendo invernos amenos e verões chuvosos com temperaturas moderadas. O mês mais quente, janeiro, tem temperatura média de 21,4 °C, enquanto que o mês mais frio, julho, possui média de 15,1 °C. Outono e primavera são estações de transição.[31] O índice pluviométrico anual é de aproximadamente 1 363,9 mm, sendo junho o mês mais seco e dezembro o mais chuvoso.[31]
Nos dias mais frios do ano a temperatura mínima cai para valores próximos ou mesmo, raramente, abaixo de 0 °C nas regiões mais elevadas do município. Segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), a menor temperatura registrada em Aracê foi de −1 °C em 14 de julho de 1963.[32] De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Domingos Martins é o 67º colocado no ranking de ocorrências de descargas elétricas no estado do Espírito Santo, com uma média anual de 1,2369 raios por quilômetro quadrado.[33]
Fonte: Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper): temperaturas e precipitação;[31] Climate-Data.org: umidade relativa[7]
Em 2010, a população do município foi contada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 31 847 habitantes. Segundo o censo daquele ano, 16 094 habitantes eram homens (50,53% do total) e 15 753 habitantes mulheres (49,46%). Ainda segundo o mesmo censo, 7 741 habitantes viviam na zona urbana (24,3%) e 24 106 na zona rural (75,69%).[35] Da população total em 2010, 7 152 habitantes (22,46%) tinham menos de 15 anos de idade, 22 120 habitantes (69,46%) tinham de 15 a 64 anos e 2 575 pessoas (8,09%) possuíam mais de 65 anos, sendo que a esperança de vida ao nascer era de 74,98 anos.[36]
Em 2010, a população martinense era composta por 23 100 brancos (72,54% do total), 7 735 pardos (24,29%), 741 negros (2,33%), 258 amarelos (0,81%) e 13 indígenas (0,04%).[37] Quanto às religiões, 17 570 são católicos (55,17%), 13 527 evangélicos (42,48%), 51 espíritas (0,16%), 39 Testemunhas de Jeová (0,12%), 576 pessoas sem religião (1,81%) e os 0,26% restantes possuíam outras religiões além dessas ou não tinham religiosidade definida.[38]
A influência cultural deixada pelos imigrantes europeus ainda é visível em algumas comunidades de Domingos Martins, sendo expressa em hábitos e costumes diversos pelos descendentes. Além da herança visível na arquitetura e utensílios, também são notáveis as marcas na língua, costumes, religião, culinária, músicas e danças desses habitantes, sobretudo em Melgaço, Paraju (que receberam principalmente alemães) e Aracê (italianos). A língua portuguesa também se mistura ao idioma materno das famílias que se estabeleceram entre os séculos XIX e XX.[16] Em 10 de outubro de 2011, a língua pomerana foi cooficializada no município.[39]
No Produto Interno Bruto (PIB) de Domingos Martins, destacam-se as áreas da agropecuária e de prestação de serviços. De acordo com dados do IBGE, relativos a 2019, o PIB do município era de R$ 758 915,24 mil.[11] 45 742,59 mil eram de impostos sobre produtos líquidos de subsídios a preços correntes e o PIB per capita era de R$ 22 419,95.[11] Em 2010, 80,63% da população maior de 18 anos era economicamente ativa, enquanto que a taxa de desocupação era de 1,65%.[36]
A pecuária e a agricultura acrescentavam 133 625,36 mil reais na economia de Domingos Martins em 2019,[11] o que se deve sobretudo à diversidade de cultivos permanentes e temporários distribuídos por todo o município.[42] Entretanto, a cultura que mais se destaca é a do café, responsável por pelo menos 70% da produção da lavoura permanente do município. A cafeicultura, inclusive, é notável em sua paisagem.[43] Outros cultivos permanentes que se sobressaem são a banana, tangerina, abacate e uva, enquanto que os cultivos temporários mais representativos são do gengibre, inhame, morango, tomate, batata, abóbora, repolho e pimentão.[42] Com relação à pecuária, destaca-se a avicultura e bovinocultura de corte, além da piscicultura da tilápia.[44] A agroindústria e o agroturismo também apresentam participação na economia de Domingos Martins.[42]
A indústria, por sua vez, representava 99 149,94 mil reais do PIB municipal.[11] Assim como a agroindústria, que envolvia 142 unidades cadastradas, segundo informações de 2020,[45] há de se ressaltar a fábrica de refrigerantes Coroa, uma das principais marcas de refrigerante do Espírito Santo e uma das maiores fábricas de bebida do estado, inaugurada em 1933.[46] Trata-se da principal indústria de porte instalada na cidade.[2] Ao mesmo tempo, 317 303,43 mil reais do PIB municipal eram do valor adicionado bruto do setor de serviços e 163 093,93 mil reais do valor adicionado da administração pública.[11]
Além do agroturismo, a presença de diversos atrativos naturais, como montanhas, trilhas e cachoeiras,[2] e o clima ameno[8] reforçam a contribuição do turismo para a economia do município. Nesse sentido, destaca-se o distrito de Aracê, onde está situado o Pico Pedra Azul e o Parque Estadual da Pedra Azul.[2] Esses bens naturais tornam a localidade um dos principais destinos turísticos do Espírito Santo e, por consequência, fazem concentrar diversas pousadas, hotéis, restaurantes, condomínios e lojinhas de artesanato.[2][47] O turismo de eventos também é um dos principais geradores de movimento de capital na cidade, com a realização de eventos de diversos portes que atraem visitantes, como a Festa do Morango, Blummenfest, Festival de Inverno e o Festival do Vinho.[48]
Infraestrutura
Saúde e educação
A rede de saúde de Domingos Martins inclui onze unidades básicas de saúde, sete postos de saúde e um hospital geral, segundo informações de 2018.[49] Em 2020, foram registrados 233 óbitos por morbidades, dentre os quais as doenças do sistema circulatório representaram a maior causa de mortes (24,47%), seguida pelos tumores (19,31%).[50] Ao mesmo tempo, foram registrados 471 nascidos vivos, sendo que o índice de mortalidade infantil no mesmo ano foi de 8,49 óbitos de crianças menores de um ano de idade a cada mil nascidos vivos.[51]
Em 2010, 85,26% das crianças com faixa etária entre cinco e seis anos estavam matriculadas na educação infantil, ao mesmo tempo que 86,37% da população de 11 a 13 anos cursavam as séries finais do ensino fundamental. Contudo, da população de 15 a 17 anos, 59,86% haviam finalizado o ensino fundamental, enquanto 36,52% dos residentes de 18 e 20 anos tinham terminado o ensino médio. Os habitantes tinham uma expectativa média de 8,52 anos de estudo, enquanto 13,69% das pessoas com 25 anos de idade ou mais eram anafalbetas.[36] Dentre essa faixa etária, 27,33% tinham completado o ensino fundamental, 16,28% o ensino médio e 5,19% o ensino superior.[36] Já em 2021, havia 7 377 matrículas nas instituições de educação infantil e ensinos fundamental e médio da cidade.[52]
Educação de Domingos Martins em números (2021)[52]
No ano de 2010, a cidade tinha 9 750 domicílios particulares permanentes. Desse total, 9 184 eram casas, 505 eram apartamentos, 43 eram casas de vila ou em condomínio e 18 eram habitações em casa de cômodos ou cortiços. Do total de domicílios, 6 990 são imóveis próprios (6 962 já quitados e 28 em aquisição), 1 236 foram alugados, 1 477 foram cedidos (1 121 cedidos por empregador e 356 cedidos de outra forma) e 47 foram ocupados sob outra condição.[53] No mesmo ano, 3 371 domicílios eram atendidos pela rede geral de abastecimento de água (34,57% do total), em 5 379 (55,17% deles) o abastecimento de água era feito por meio poços e/ou nascentes na própria propriedade, em 981 (10,06%) por meio de poços e/ou nascentes de outras propriedades e os demais se abasteciam de outras formas.[53]
O município também se situa às margens de uma antiga ferrovia, a Linha do Litoral da antiga Estrada de Ferro Leopoldina, que estabelece a ligação da cidade com Vila Velha e com o Rio de Janeiro. Desde 1996, a ferrovia está concedida ao transporte de cargas pela Ferrovia Centro Atlântica. No município também é encontrada às margens da ferrovia, a Estação Ferroviária Vale da Estação, construída em estilo alemão e inaugurada em 1900, como uma homenagem aos imigrantes alemães que ali se instalaram. Apesar da desativação da operação de trens turísticos, a estação permanece sendo um dos grandes pontos turísticos e históricos da cidade.[58][59]