A partir de 1981, os militantes da Libelu engajaram-se intensamente na formação do jovem Partido dos Trabalhadores, pois a OSI via nele o surgimento de um partido operário de massas. Para legalizar o partido, Demétrio ajudou a filiar um grande número de membros.[8]
No entanto, em 1983, Demétrio rompeu com o marxismo e abandonou a Libelu por crer que o movimento se aproximava ao stalinismo que tanto criticava. Segundo ele, o marxismo oferece aos intelectuais a ilusão de que são donos de um saber maior: o do fim da história. Como consequência, essa ideologia justificaria o autoritarismo, dando aos intelectuais a função de dirigir a sociedade.[9] Abandonou o PT em 1989, quando, segundo ele, o partido "se afastou de princípios filosóficos e morais que estavam em sua origem".[8]
Magnoli considera o governo petista conservador por estimular o capitalismo de Estado e por se negar a fazer uma série de reformas que tornariam a representação mais efetiva e mais transparente. Segundo ele, o governo PT é também restauracionista, porque quer restaurar o corporativismovarguista.[12]
Na Eleição presidencial no Brasil em 2018, Magnoli declarou voto crítico a Fernando Haddad: "a disputa não é entre dois extremistas simétricos. Hoje, só há um extremista. Derrotá-lo não é escolher o PT, mas escolher a democracia".[13] Em setembro de 2019, aderiu ao Movimento Lula Livre, sustentando: "não por ele ou pelo PT, mas em defesa de um precioso bem público: o Estado de Direito".[14]
Controvérsias
Nova direita
Algumas revistas, comentaristas e professores universitários classificam-no como parte de uma nova direita brasileira.[15] Demétrio refuta essa análise e explica que a concepção de que ele é de direita foi construída por porta-vozes do PT, dentro e fora das universidades.[10][12]
Ações afirmativas
Demétrio Magnoli tem-se posicionado ativamente contra ações afirmativas e cotas raciais.[16] Em seu livro de 2009, "Uma Gota de Sangue", a tese central é de que "ações afirmativas e o movimento negro resultam de uma armação ideológica" (o multiculturalismo), que "conspira contra o princípio da igualdade perante a lei". Seu ponto de vista de que no Brasil "a fronteira racial não existe na consciência das pessoas" e de que já no século XIX a História do Brasil era contada como uma "mescla de raças" (enquanto que nos Estados Unidos a segregação racial tornava-se norma), foi contestado mesmo em veículos dos quais ele participa ativamente, como a Folha de S.Paulo.[17] Magnoli refutou esta análise, afirmando que o autor da mesma (Marcelo Leite) havia sido "vítima da pressa" e que em seu livro havia "80 páginas" que comprovariam e esclareceriam sua tese.[18]
Protestos de 2011 na USP
Fez críticas em 2011 aos estudantes da USP que reagiram de forma violenta contra intervenções da Polícia Militar de São Paulo no campus, em busca de usuários de maconha. Na época, ele contestou inclusive a escolha do reitor da universidade pelo voto direto, afirmando que isso só fazia sentido "nas décadas de 1960 e 1970", quando "havia a necessidade de preservar a instituição de ensino como um território da liberdade de expressão".[19]
Clemesha defendeu que "não se deve fazer humor com o outro" e Gonçalves disse que "quem faz uma provocação dessas não poderia esperar coisa muito diferente", referindo-se aos cartunistas que satirizaram o profeta Maomé. Demétrio avaliou que essas declarações buscavam defender os terroristas "na forma prevísivel da condenação das vítimas 'justiçadas'".
Para Magnoli, essas análises são sinais notáveis da "contaminação tóxica da nossa vida intelectual" e da "célere conversão de departamentos universitários em latas de lixo do pensamento". Ele sustém que a malignização do ocidente (expressa na ideologia do ocidentalismo) é equivalente à islamofobia da extrema-direita francesa, pois ambos seguem a cartilha do "choque das civilizações" e são cultores do relativismo moral.[23] Demétrio entende que a defesa de Gonçalves ao "controle social da mídia" implicaria que França renunciasse a suas leis e a seus valores, entre os quais a laicidade do Estado.
Arlene Clemesha, em resposta ao artigo de Magnoli, lamentou o "uso do recurso da difamação", por Demétrio, para "minar a credibilidade de seu pensamento sem se dar ao trabalho de rebatê-lo com argumentos". Ela aclarou que fazer "ressalvas quanto à conveniência ou oportunidade de determinada manifestação prejudicial à convivência" não relativiza o julgamento do atentado. Repudiando veementemente a atitude de Magnoli, Arlene Clemesha diz esperar que ele "compreenda que existem alternativas em prol de uma convivência melhor […] muito mais propensas a exaurir o terreno do fundamentalismo do que a destilar o ódio".[24]
Em sua resposta ao mesmo artigo, Williams Gonçalves estranhou que Magnoli, em seu texto, defendesse a liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, se utilizasse dessa liberdade para "atacar gratuitamente a honra e a dignidade de quem discorda, em vez que usar tão valioso espaço para apresentar ideias". Para ele, Demétrio Magnoli distorceu e descontextualizou as ideias que ele havia exposto em sua participação no noticiário da GloboNews.[25]
Magnoli voltou ao tema em novo artigo, avaliando que os ocidentalistas "não se preocupam com a consistência argumentativa" quando ficam calados ante o atentado no mercado kosher, "comprovando que para os jihadistas não interessa o que você faz, mas o que você é". Demétrio escreveu ainda que os ocidentalistas "são parasitas intelectuais das correntes minoritárias de intolerância, xenofobia e islamofobia do Ocidente".[23]
Combate ao coronavírus – COVID-19
Em seu artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo, em 8 de fevereiro de 2020, sob o título «Pandemia do arbítrio representa ameaça maior que o agente biológico do coronavírus», Magnoli defende que o isolamento social da província de Hubei, promovido pela China, em ocasião da pandemia da COVID-19, é um ato de xenofobia ineficaz, apoiado pela OMS por interesses políticos, que “representa ameaça maior que o agente biológico da doença” e não deriva do saber científico.
No mesmo artigo, Magnoli reporta a perseguição, por parte do governo chinês, ao médico que identificou as primeiras manifestações do vírus, e estima que a letalidade do coronavírus “talvez revele-se menor que a das gripes comuns”, sendo a consequência econômica da quarentena um “preço econômico incalculável” onde pânico e histeria representa o maior inimigo do povo.[26]
Obras
Demétrio Magnoli publicou seu primeiro livro, "O que é Geopolítica?", em 1986.[27] Em 1997, foi um dos finalistas do prêmio Jabuti, concorrendo com o livro "O Corpo da Pátria: imaginação geográfica e política externa no Brasil, 1808–1912" (UNESP).[28]
Lista de livros
O novo mapa do mundo. São Paulo: Moderna. 1993. 64 páginas. ISBN85-16-00820-7
União Européia: história e geopolítica. São Paulo: Moderna. 1994. 80 páginas. ISBN8516010147
Barbosa, Elaine Senise; et al. (1996). Formação do Estado Nacional: as capitais e os simbolos do poder politico. São Paulo: Scipione. 111 páginas. ISBN8526228102
O corpo da pátria: imaginação geográfica e política externa no Brasil: 1808-1912. São Paulo: UNESP / Moderna. 1997. 318 páginas. ISBN8516017877
O mundo contemporâneo: os grandes acontecimentos mundiais da guerra fria aos nossos dias. São Paulo: Atual. 2004. 320 páginas. ISBN8535705066
Relações internacionais: teoria e história. São Paulo: Saraiva. 2004. 370 páginas. ISBN8502046144
Araújo, Regina; et al. (2005). O projeto da Alca: hemisfério americano e Mercosul na ótica do Brasil. São Paulo: Moderna. 112 páginas. ISBN8516037096
Serapião Jr., Carlos; et al. (2006). Comércio exterior e negociações internacionais. São Paulo: Saraiva. 377 páginas. ISBN8502060090
O grande jogo: política, cultura e idéias em tempos de barbárie. Rio de Janeiro: Ediouro. 2006. 271 páginas. ISBN8500020695
Terror global. São Paulo: Publifolha. 2008. 77 páginas. ISBN9788574029306
História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2008. (Magnoli é o organizador dos textos.)
Uma gota de sangue: história do pensamento racial. São Paulo: Contexto. 2009. 398 páginas. ISBN9788572444446
Barbosa, Elaine Senise; et al. (2011). Liberdade versus igualdade, vol. 1: o mundo em desordem: 1914-1945. São Paulo: Record. 457 páginas. ISBN9788501092243
Liberdade versus igualdade, vol. 2: O leviatã desafiado (1946-2001). São Paulo: Record, 2013. 544 páginas. ISBN 978-8501099013. (Em coautoria com Elaine Senise Barbosa.)
História da Paz. São Paulo: Contexto, 2012. (Magnoli é o organizador dos textos.)