Nos primeiros anos do transporte ferroviário em Portugal, a instalação das vias férreas não obedeceu a um plano específico, sendo normalmente usadas empresas concessionárias; este sistema predominou nas regiões do centro e Sul do país, enquanto que a Norte a expansão da rede ferroviária assentou principalmente na concessão directa do estado, tendo as Linhas do Minho e Douro sido desta forma construídas.[2] Assim, previa-se que a criação das linhas secundárias nesta região também fosse entregue ao estado, o que não sucedeu; em vez disso, voltou-se a utilizar o sistema das companhias concessionárias, o que viria a ter efeitos nefastos na formação da rede ferroviária.[2] Em 11 de Julho de 1871, o empresário Simão Gattai foi autorizado a construir um caminho de ferro, em sistema de carros americanos, utilizando vias sobre a estrada, ligando o Porto a Braga, passando por Santo Tirso e Guimarães.[1] Em 28 de Dezembro de 1872, as bases da concessão foram alteradas: a bitola a utilizar seria a métrica, e a linha seria apenas de Bougado à Trofa, com um ramal por Vizela até Fafe.[1][2] Em 17 de Outubro de 1874, a concessão foi transferida para uma companhia inglesa, e um despacho de 18 de Fevereiro de 1875 autorizou o uso da via larga e voltou a modificar o traçado, ficando apenas entre o Bougado e Guimarães.[2][1] A construção revelou-se extremamente morosa, tendo sido construídos apenas cerca de 6 km[1] quando a Minho District Railway Company Limited entrou em falência, em Janeiro de 1879.[3] O contrato foi revogado em 16 de Abril desse ano, e no mesmo dia foi autorizada uma linha de via larga entre Bougado e Guimarães a António de Moura Soares Velloso e ao Visconde da Ermida, que representavam uma nova empresa.[1]
Construção da Linha de Guimarães
No dia 5 de Agosto de 1880, foi aceite o pedido desta empresa para que a linha fosse construída em via métrica.[1] As obras começaram a partir da Trofa, tendo o primeiro troço, até Vizela, entrado ao serviço em 31 de Dezembro de 1883; o troço entre esta estação e Guimarães abriu em 14 de Abril do ano seguinte.[1]
Expansão até Fafe
Nos finais do século XIX, a Companhia conseguiu dar dividendo ao seu capital, estando por isso apta a novos investimentos.[4] Assim, em 12 de Julho de 1897, pediu autorização para construir e explorar o prolongamento da linha até Fafe, a partir de Guimarães.[5] Apesar do estado ter autorizado este projecto por um alvará de 2 de Julho de 1898, a empresa alterou o seu pedido em 14 de Julho do mesmo ano, de forma a ficar apenas com uma concessão provisória.[5] Em 1 de Agosto de 1899, o estado tornou definitiva a concessão, e, em 2 de Maio de 1900, a empresa pediu que fossem aplicadas várias vantagens previstas numa lei de 14 de Julho de 1899, pois o troço em questão tinha sido inserido no Plano da Rede Complementar ao Norte do Mondego.[5] Este pedido foi aceite em 23 de Junho de 1900, tendo um novo contracto, de carácter definitivo, entrado em vigor em 22 de Novembro de 1901.[5] A empresa emitiu vários títulos de dívida para financiar a expansão até Fafe e adquirir novo material circulante,[6] tendo este troço sido inaugurado em 21 de Julho de 1907.[1]
Em 3 de Junho de 1918, verificou-se uma greve dos ferroviários, na qual também participaram os empregados desta companhia.[7]
Ligação à Senhora da Hora e fusão com a Companhia da Póvoa
Em 1901, a Companhia do Porto à Póvoa e Famalicão requisitou a construção de quatro linhas: Mindelo a Lousado, Famalicão a Guimarães, Laundos a Fão, e Modivas a Leça; no entanto, em 1905, limitou o seu pedido às linhas de Laundos a Fão e Modivas a Leça.[4] No processo de inquérito que se abriu na sequência desta solicitação, o Conselho Superior de Obras Públicas considerou que o troço do Mindelo a Lousado também apresentava interesse, uma vez que permitiria a ligação entre as duas redes, condição desejável no caso de uma futura fusão das companhias.[4] Com efeito, desde cedo que o estado português procurou fundir esta empresa com a Companhia da Póvoa, que explorava a Linha do Porto à Póvoa e Famalicão, uma vez que se acreditava que não podiam sobreviver separadamente.[8] Por outro lado, esta fusão permitiria a unificação de toda a rede secundária do Minho, constituída pelas linhas da Póvoa e de Guimarães; assim, desde os princípios do século XX que se encetaram esforços para a união.[1] Por volta de 1905, o estado procurou esclarecer a situação em termos jurídicos das duas companhias, que nessa altura não tinham um fim definido para as suas concessões; assim, estabeleceu-se que as mesmas não podiam ser perpétuas, e que o estado podia determinar um término fixo em novas concessões.[4] Em 1908, a Companhia da Póvoa voltou a interessar-se pela construção do troço entre Mindelo e Lousado, uma vez que, naquela altura, estava a ser preparada a fusão entre as duas companhias e a concessionária das Linhas do Alto Minho, do Vale do Lima e de Braga a Guimarães, Canha & Formigal; o governo abriu um inquérito sobre aquele troço, o qual favoreceu a sua classificação, o que não chegou a ser feito.[4][1] Entre 1908 e 1909, as três empresas pediram a fusão e a construção da linha entre Mindelo e Lousado, o que foi autorizado, em princípio, por um despacho ministerial de 22 de Junho de 1909, com várias condições.[4] Este processo foi atrasado por uma disposição legislativa sobre o traçado da Linha do Vale do Lima e a Ponte de Lanheses, tendo estas modificações sido autorizadas por uma lei de 20 de Junho de 1912, que também estabeleceu as condições para a fusão.[4] Entre os requisitos, destaca-se a alteração da via na Linha da Póvoa para a bitola métrica, e a construção do troço do Mindelo ao Lousado; após a fusão, seria lavrado um novo contrato, com a duração de oitenta anos, no qual a empresa resultante da fusão seria responsável pelas linhas já construídas ou projectadas das 3 companhias que a procederam.[9] Entretanto, as três empresas iniciaram negociações para a obtenção do financiamento necessário, que estavam quase concluídas quando se iniciou a Primeira Guerra Mundial, cujos profundos efeitos económicos impossibilitaram a obtenção dos capitais indispensáveis ao projecto.[1][4] Uma lei de 17 de Setembro de 1915 procurou reduzir o investimento necessário, ao permitir o aproveitamento do leito das estradas para o assentamento das vias férreas, mas não chegou a entrar em vigor.[4]
Em 20 de Fevereiro de 1920, a Junta Consultiva de Caminhos de Ferro emitiu um parecer em que defendeu a construção de vários troços na região, incluindo entre o Mindelo e Lousado, e a fusão entre as empresas concessionárias.[4] Em 5 de Julho de 1926, a Companhia da Póvoa pediu, com a colaboração da Companhia de Guimarães, autorização para construir um ramal entre a Trofa e um ponto da Linha da Póvoa entre a Senhora da Hora e Pedras Rubras, de forma a ligar ambas as linhas.[2] A fusão foi concretizada, com publicação dos novos estatutos, em 14 de Janeiro de 1927, que foram aprovados por uma portaria, datada do dia 25 do mesmo mês; a nova empresa denominou-se de Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal.[1] O troço entre Trofa e a Senhora da Hora abriu à exploração em 14 de Março de 1932, sendo considerada como parte da Linha de Guimarães[10]
↑ abcdefghij«Parte Oficial»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 39 (934). Lisboa. 16 de Novembro de 1926. p. 343-344. Consultado em 30 de Março de 2014
↑ abcd«Parte Official»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 15 (337). 1 de Janeiro de 1902. pp. 3–5. Consultado em 3 de Setembro de 2013
↑NUNES, Nuno (2005). «Locomotivas da série E 61 a E 62». Foguete. Ano 4 (13). Entroncamento: Associação de Amigos do Museu Nacional Ferroviário. p. 11-12. ISSN124550Verifique |issn= (ajuda)
MARTINS, João Paulo; BRION, Madalena; SOUSA, Miguel de; LEVY, Maurício; AMORIM, Óscar (1996). O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. [S.l.]: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas
REIS, Francisco Cardoso dos; GOMES, Rosa Maria; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. [S.l.]: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN989-619-078-X
Legenda: †entidade extinta ‡entidade extante mas sem gestão atual *apenas afluentes à rede geral da operadora Infraestruturas de Portugal, excl. sistemas isolados q.v. apud operadores