Come-Fogo é o clássico de futebol da cidade de Ribeirão Preto que envolve o Comercial e o Botafogo.
Até 2013, pensava-se que o primeiro jogo entre as equipes havia sido disputado em 1924. A grande discrepância entre os anos de criação dos dois clubes, sendo o Comercial Futebol Clube – apelidado "Leão do Norte" – fundado em 1911 e o Botafogo Futebol Clube – "Pantera da Mogiana" – em 1918, e a data da primeira partida instigavam debates sobre o clássico.
Segundo o jornalista Igor Ramos[1], o primeiro confronto ocorreu em 1 de Agosto de 1920, no Estádio da Rua Tibiriçá, que pertencia ao Leão, resultando em uma goleada de 8 a 0 para o Comercial e, sendo que nessa primeira fase da história os duelos aconteceram até 1936.[2]
Foram realizados 27 jogos entre 1920 e 1936, que é considerada como a fase amadora do confronto. À altura de 2015, a soma de todas partidas indica que o Botafogo possuí 61 vitórias; o delega 49 ao Comercial e constam 57 empates, tendo o Botafogo marcado 212 gols e o Comercial 208 gols.[3][4]
A origem do nome do clássico remonta a 9 de Novembro de 1954, quando o cronista esportivo Lúcio Mendes publicou no jornal Diário da Manhã que o jogo entre os dois principais times locais seria "um autêntico Come-Fogo!"[5]
O Comercial já cedeu três jogadores à Seleção Brasileira de Futebol e o Botafogo, dois. Por outro lado, os dois jogadores botafoguenses têm soma maior de jogos (dez) que os comercialinos (nove). Os três do Comercial foram utilizados na Copa América de 1963: o meia titular Marco Antônio, que jogou sete vezes pelo Brasil, marcando um gol no 5-1 contra a Colômbia e outro na derrota por 4-5 para a anfitriã e campeã (pela única vez) Bolívia; o atacante Amaury, usado só na derrota por 0-3 para a Argentina; e o defensor Píter, usado só no 2-2 com o Equador.
Os jogadores do Botafogo foram Zé Mário, usado em 1977 duas vezes, em amistosos contra a Inglaterra (0-0) e a seleção paulista (pela qual curiosamente atuou o colega Sócrates no 1-1); e Raí, que jogou oito vezes dez anos depois, em 1987, contra a Escócia (2-0 pela Taça Stanley Rous, com gol dele), Finlândia (3-2 em amistoso), Israel (4-0 em amistoso), Equador (4-1 com gol dele em amistoso), Paraguai (1-0 em amistoso), Venezuela (5-0 pela Copa América de 1987), Chile (0-4 pela Copa América e 2-1 em amistoso) e Alemanha Ocidental (1-1 em amistoso).
Além deles, outro jogador da rivalidade esteve na seleção, ainda que não na principal e sim na olímpica: o atacante Mattar, que jogou três vezes em 1964: 3-0 na Argentina em amistoso e, já nos Olimpíadas de Roma, nos 4-0 na Coreia do Sul e no 0-1 para a Tchecoslováquia.
Muitos jogadores e técnicos defenderam as duas camisas no clássico de Ribeirão. Casos como o do goleiro Machado e do técnico Alfredinho, são exemplos de como profissionais do futebol estiveram envolvidos no Come-Fogo hora de um lado, hora de outro.
Mas, a maior transação financeira para aquisição de um atleta por uma das partes no Come-Fogo, aconteceu em 1957, ao valor de 400 mil Cruzeiros. O mais curioso, é que essa contratação aconteceu logo depois de uma enorme polêmica. Um ano antes dessa transação, em 15 de janeiro de 1956, um empate em 3 a 3 no clássico ficou marcado por acusações de ambas as partes sobre ilegalidades. O jogo virou folclore na cidade, e torcedores comercialinos e botafoguenses passaram décadas alimentando histórias sobre suborno e venda de resultado. Curiosamente, um dos envolvidos na polêmica foi o atacante do Comercial, Mairiporã, que foi acusado de ter se vendido a diretoria botafoguense por 20 mil Cruzeiros. O grande problema dessa acusação, é que Mairiporã foi o responsável por marcar os três gols do Comercial naquele jogo, ou seja, não haveria fundamento ele ter se vendido, se acabou fazendo os gols. Porém, um ano depois da partida, em 1957, as histórias e lendas sobre aquele jogo ganharam mais ênfase, tudo porque o Botafogo comprou Mairiporã do Comercial pela exorbitante e recordista quantia de 400 mil Cruzeiros, o que fez dessa, a maior transação financeira por um atleta entre os clubes, até hoje.[6]
Na ocasião nenhuma das equipes de Ribeirão Preto disputava o Campeonato Brasileiro. A CBD decidiu então abrir apenas uma vaga para os dois times. Esta vaga seria então decidida entre a dupla Come-Fogo em 3 jogos. O time que obtivesse a melhor campanha se consagraria campeão e garantiria a vaga para o Brasileiro de 1978.
O Botafogo FC estava em grande fase, contando em seu elenco campeão da Taça Cidade de São Paulo com craques como Sócrates e Zé Mario.
O 1° jogo ocorreu no Estádio Santa Cruz, do Botafogo, no dia 6 de outubro de 1977, com vitória da equipe comercialina por 1 a 0, num gol de contra-aque anotado pelo lateral direito Marco Antônio que venceu o goleiro Aguilera, aos 38 minutos do segundo tempo.
A 2ª partida ocorreu a 9 de outubro de 1977, em Palma Travassos, casa do alvinegro. Se o Comercial vencesse, garantiria a vaga e o título. A partida terminou em 1 a 1, com gols de Marciano e Celso Orlandim, adiando o título do Comercial por mais alguns dias.
A 3ª e decisiva partida se deu a 16 de outubro de 1977, novamente em Santa Cruz. O Comercial só precisaria de um empate para comemorar , já que havia vencido a primeira partida e empatado a segunda. Para o Botafogo restava apenas vencer para provocar uma disputa de penaltis. O clima era tenso como nos dois jogos anteriores. O Santa Cruz estava completamente lotado. Depois de um grande jogo, o placar de 1 a 1 (gols de Sócrates e Jader).O Comercial estava garantido na primeira divisão do Campeonato Brasileiro de 1978.
Mas no que ficou conhecido na década de 70 como "inchaço do Brasileirão", dias depois da vitória do Comercial, a CBD cedeu mais uma vaga para Ribeirão Preto, e o Botafogo teve o direito também de participar do Brasileiro de 1978 como vice dessa seletiva.
Em 28 de janeiro de 2012, as duas equipes voltaram a se enfrentar pelo Paulistão - Série A1 depois de 26 anos. O clássico voltou com tudo e o Comercial de virada venceu o Botafogo por 2 a 1 em pleno Santa Cruz.
No dia 22 de dezembro de 2015, o camaronês Samuel Eto'o jogou um Come-Fogo[7] amistoso organizado pela rede social Twitter e pela emissora ESPN.[8] No clássico, disputado pelas equipes Sub-20 de Comercial e Botafogo, reforçadas por grandes ídolos dos dois clubes, Eto'o atuou 40 minutos pelo Comercial e marcou um gol, e depois atuou 50 minutos pelo Botafogo, marcando dois gols. O jogo, que aconteceu no Estádio Santa Cruz, terminou empatado em 3 a 3.[9]
Além de Eto'o, os ex-jogadores Raí, Marco Antônio Boiadeiro e Lucas atuaram pelo Botafogo, enquanto Mauricinho, Vagner Mancini, e Acleison atuaram pelo Comercial.
Apesar da festa, o jogo não entra para as estatísticas, pois não foi um Come-Fogo dos times profissionais.
A pesquisa mais completa e atualizada até aqui envolvendo o clássico Come-Fogo é do jornalista Igor Ramos (da Revista Lance), publicada em 2011. Este jornalista esportivo, que já havia atuado no jornal A Cidade de Ribeirão Preto, é autor de dois livros, ambos os mais importantes sobre as histórias respectivamente do Botafogo (publicado por ocasião dos 90 anos em 2008) e do Comercial (comemorativo ao centenário em 2011).
O Come-Fogo no Campeonato Brasileiro da 1ª Divisão:
O único Come-Fogo não disputado em Ribeirão Preto ocorreu a 21 de março de 1965, na cidade de Goiânia, terminando em 1 a 1.
Os demais clássicos foram disputados na Rua Tibiriçá (Estádio do Comercial, de 1911 a 1936), em Luiz Pereira (Estádio do Botafogo, de 1918 a 1968), Costa Coelho (Estádio do Comercial, de 1954 a 1964), Palma Travassos (Estádio do Comercial, desde 1964) e Santa Cruz (Estádio do Botafogo, desde 1968).
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