A espécie Cinnamomum cassia é uma árvore que cresce até 10-15 metros de altura, com folhas de filotaxia do tipo alterna a sub-oposta ou oposta, coreáceas, de coloração avermelhada quando juvenis, oblongas a lanceoladas, com cerca de 10-15 centímetros de comprimento, com uma longa ponta acuminada.[5]
O ritidoma (casca) é acinzentado externamente, castanho no interior. A casca dos ramos juvenis e as folhas são ricos em compostos aromáticos, com o típico odor a canela.
As flores são brancas, pequenas e unissexuais ou bissexuais, geralmente em panículas axilares. Os frutos são pequenos, carnudas, com cerca de 1 centímetro de comprimento, de coloração arroxeada quando maduros.[6]
Embora existam fortes variações em função da procedência da amostra, estima-se que C. cassia contenha entre 0,7 e 12,2 g de cumarina por kg de casca pulverizada, o que assume particular relevância dadas as propriedades de hepatotoxicidade e de anticoagulante da cumarina.[8][9]
Taxonomia
A primeira descrição científica da espécie foi publicada em 1753, sob o nome (basónimo) Laurus cassia, por Carolus Linnaeus na obra Species Plantarum, 1, p. 369.[10] Em resultado do reconhecimento do género Cinnamomum, a nova combinação Cinnamomum cassia(L.) D.Don foi publicada em 1825 por David Don em Prodromus Florae Nepalensis, p. 67.[11] São sinónimos as combinações Cinnamomum cassiaNees ex Blume 1826, Cinnamomum cassiaSiebold 1830, Cinnamomum cassia(L.) J.Presl 1825. Outros sinónimos para Cinnamomum cassia(L.) D.Don são Persea cassia(L.) Spreng. e Cinnamomum aromaticumNees.[12] Nesse mesmo ano Jan Svatopluk Presl publicou a mesma combinação em O Přirozenosti rostlin, aneb rostlinar 2: 44. 1825.[13] A espécie continua a ser frequentemente designada pelo sinónimo taxonómico Cinnamomum aromaticumNees, que apesar de obsoleto é utilizado frequentemente para fins comerciais.
O nome comum "cássia" e o epíteto específicocassia derivam de um antigo nome grego, κασία, kasia, já utilizado por Dioscórides.[14] Este termo grego é provavelmente um empréstimo tomada da língua dos mercadores semitas (antigo hebraico: קציעה qetsiiah) que introduziram o produto no Médio Oriente. Presume-se que esses vocábulos foram adoptados para esta especiaria a partir da sua área de origem, a China. Poderá ser uma ligação com os povos austroasiáticos de Khasi, que na actualidade têm apenas uma pequena área de povoamento no estado de Meghalaya (nordeste da Índia) e no Bangladesh, mas que anteriormente povoaram uma região bem mais vasta, que ida de Assam à actual Birmânia. Os povos Khasi podem ter tido um papel importante no comércio da cássia na antiguidade. O termo pode também ter origem na palavra sumeriana gazi (em acadiano: kasû), termo que refere especiarias cuja tradução pode ser canela, alcaçuz ou mostarda.[15]
A etimologia do nome genéricoCinnamomum provém do grego clássicokinnamon ou kinnamomon, que significa madeira doce. Este vocábulo grego provavelmente provém do idioma hebraicoquinamom, o qual terá origem numa versão anterior do termo kayumanis, que nas línguas da Malásia e Indonésia também significa "madeira doce".
A espécie apresenta larga sinonímia, a qual inclui:[16]
Os nomes "canela" e "cássia" causam confusão considerável, pois ambos são frequentemente usados sem distinção. Nos Estados Unidos, a especiaria vem da casca seca de uma das espécies chamadas de "canela", sem distinção entre todas espécies. Além de que o nome "canela" pode também se referir à especiaria da casca aromática de uma espécie não aparentada, a Canella winterana da família Canellaceae.[6] Em outras línguas europeias existem múltiplos nomes, sendo contudo frequente a confusão com a canela.[15][17][18]
A cássia, e outras formas de canela, foram usadas desde tempos muito antigos pelo seu sabor doce e ligeiramente picante. É amplamente utilizado na culinária, em diversas receitas como assados, pudins e sobremesas. A produção estimada de todas formas de canela foi de 155 mil toneladas métricas, colhidas de 186 mil hectares. A China, a Indonésia, o Sri Lanka e o Vietname correspondem conjuntamente a cerca de 98% da produção mundial de canela e seus derivados.[6]
A especiaria é obtida da remoção da casca da árvore, sendo que a casca interna é raspada, seca e moída.[6] Os botões também são usados como especiaria. Fortemente aromático, doce e quente, mas também um pouco amargo e viscoso, o sabor quando comparado com a canela-do-ceilão não tem a mesma "vivacidade".[15]
A casca seca é também usada em medicina tradicional como simples, designado, entre outros nomes, por Cinnamomi Cassiae Cortex, cassia lignea, cassiae cortex e ramulus cinnamomi.[20] A casca seca quando reduzida a um pó fino é comercializada em farmácia ctradicional como Cinnamomi cassiae corticis pulvis.[21] Estas drogas destinam-se principalmente a promover a motilidade, ser usada como antibacteriano, como fungistático e para reduzir o teor de lípidos e açúcares no sangue. É utilizado para combater a perda de apetite, os problemas digestivos, flatulência e como corrector do sabor em medicamentos.[20][22] existem indicações de que poderá ser útil no controlo de diabetes.[23]
A partir das folhas e dos resíduos da casca é obtido por destilação a vapor um óleo que é tradicionalmente comercializado como «oleum cinnamomi» ou, mais recentemente, «óleo de canela chinesa».[20][21] A madeira é inodora e pode ser usada como lenha.[24]
O pau-de-canela obtida da casca desta espécie (por vezes designada por xylocassia) é mais grosseira que o de canela-do-ceilão (obtida de Cinnamomum verum). Tende a enrolar ao contrário, formando dois rolos cilíndricos paralelos.[25]
Na medicina tradicional chinesa usa-se a casca (gui-pi) para actuar nos meridianos do coração, fígado, baço e rins. É utilizada para dores digestivos devidas a frio ou a má digestão, dores menstruais, dor lombar e artrite produzida pelo frio. Não deve ser usada quando há insuficiência evidente de yin ou calor. Também se usa a folhagem (gui-zhi) para actuar nos meridianos do coração, pulmão e bexiga. Abre os poros para a sudorese, sendo boa nos resfriados, torcicolo e dor muscular, dor peitoral e palpitações, artrites e dor das articulações. Não deve ser usada quando há febre ou calor.
Devido ao seu elevado teor em cumarina, que pode ocasionar danos à saúde em grandes quantidades, a agência de saúde alemã (Bundesinstitut für Risikobewertung ou BfR) fez um aviso sobre o consumo excessivo do produto.[26][27] Outras possíveis toxinas encontradas na casca e no pó são o cinamaldeído e o estireno.[28] O uso de cápsulas contendo o produto para controlo de diabetes também pode ter igual risco.[29]
↑Xi-wen Li, Jie Li & Henk van der Werff. «Cinnamomum cassia». Flora of China. Missouri Botanical Garden, St. Louis, MO & Harvard University Herbaria, Cambridge, MA. Consultado em 28 de Março de 2013
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Bibliografia
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