Cheikh Anta Diop (Diourbel, 29 de dezembro de 1923 — Dacar, 7 de fevereiro de 1986) foi um historiador, antropólogo, físico e político senegalês que estudou as origens da raça humana e cultura africana pré-colonial. Embora às vezes Diop seja referido como afrocêntrico, ele antecede o conceito e, portanto, não era um intelectual afrocêntrico. No entanto, o pensamento diopiano, como é chamado, é paradigmático para a afrocentricidade.[1] Ao longo da sua carreira, Diop defendeu que havia uma continuidade cultural partilhada entre os povos africanos que era mais importante do que o desenvolvimento variado de diferentes grupos étnicos demonstrado pelas diferenças entre línguas e culturas ao longo do tempo.[2] Seu trabalho foi bastante polêmico para a intelectualidade ocidental - algumas obras de Diop foram criticadas e compreendidas como revisionistas e pseudo-históricas.[3][4]
O trabalho de Diop apresentou questões importantes sobre o viés cultural inerente à pesquisa científica.[5] A Universidade Cheikh Anta Diop (antigamente conhecida como Universidade de Dakar) em Dakar, Senegal, leva o seu nome.[6][7]
Primeiros anos
Cheikh Anta Diop nasceu em Thieytou, na região de Diourbel no Senegal, no seio de uma família aristocrática lebu muçulmana. A família de Diop era parte da irmandade Mouride, uma grande tariqa e, de acordo com Diop, a única fraternidade muçulmana africana independente.[8] Deu seus primeiros passos acadêmicos em uma escola tradicional islâmica. Obteve o equivalente colonial do baccalauréat metropolitano francês no Senegal antes de se mudar para a França para estudar.[9] Com 23 anos foi para Paris para se converter em um físico. Permaneceu lá durante 15 anos, estudando física sob a direção de Frédéric Joliot-Curie, genro de Marie Curie, chegando a traduzir partes da Teoria da Relatividade de Einstein em seu idioma nativo, o uolofe.[10]
Em 1951, Diop apresentou sua tese de doutorado na Universidade de Paris onde defendeu que o Egito antigo havia sido uma cultura negra; a tese foi rejeitada. Nos nove anos seguintes, Diop trabalhou na tese, apresentando provas mais precisas do que as que defendia. Em 1960, teve êxito na defesa de sua tese e obteve o doutorado.
Em 1955, a tese havia sido publicada na imprensa popular como um livro chamado Nations nègres et culture (Nações negras e cultura). Este trabalho faria dele o historiador mais polêmico de sua época.
Após 1960 Diop voltou para o Senegal, e continuou escrevendo. A Universidade de Dakar estabeleceu um laboratório de radiocarbono para ajudar na sua investigação. Diop foi nomeado o presidente do laboratório (após sua morte, a universidade foi renomeada em sua homenagem: Universidade de Dakar Cheikh Anta Diop). Havia dito que:
Na prática é possível determinar diretamente a cor da pele e, portanto, a afiliação étnica dos antigos egípcios pela análise microscópica em laboratório; Tenho dúvidas se a sagacidade dos pesquisadores que têm estudado esta questão deixou essa possibilidade passar despercebida.[12]
Diop usou esta técnica para determinar o teor de melanina das múmias egípcias. Alguns críticos dizem que esta técnica é inapropriada para múmias egípcias antigas devido aos efeitos do embalsamento e da deterioração através do tempo.[13]
Em 1974, foi um de aproximadamente 20 participantes de um simpósio da UNESCO no Cairo, onde apresentou suas teorias a outros especialistas em egiptologia.[14] Também escreveu o capítulo sobre as origens dos egípcios na história geral da África da UNESCO.[15]
Obra
Com seu livro The African Origin of Civilization: Myth or Reality (A origem africana da civilização: mito ou realidade), publicado em 1974, ganhou uma ampla audiência para seu trabalho. Proclamou que evidências arqueológicas e antropólogicas apoiavam sua posição afrocêntrica de que os faraós eram de origem negroide. Alguns estudiosos se baseiam fortemente no trabalho inovador de Diop,[5] enquanto outros no mundo acadêmico ocidental não aceitam suas teorias.[16]
Egiptólogos como F. Yurco apontaram que entre os povos do lado de fora do Egito, os núbios eram os mais próximos geneticamente dos egípcios, compartilhavam a mesma cultura no período pré-dinástico e empregavam a mesma estrutura política faraônica.[17] Ele sugere que os povos do Vale do Nilo eram uma população regionalizada, compartilhando uma série de traços genéticos e culturais.[18] Os últimos descobrimentos do arqueólogo suíço Charles Bonnet em Querma trouxeram luz às teorias de Diop ao passo que mostram proximidade cultural entre a Núbia e o Egito Antigo, embora a relação tenha sido reconhecida há anos.[19] Isso não necessariamente implica que existisse uma relação genética.
Publicações
Rousseau, Madeleine e Cheikh Anta Diop (1948), "1848 Abolition de l'esclavage – 1948 evidence de la culture nègre", Le musée vivant, issue 36–37. Special issue of journal "consacré aux problèmes culturels de l'Afrique noire a été établi par Madeleine Rousseaux et Cheikh Anta Diop". Paris: APAM, 1948.
(1954) Nations nègres et culture, Paris: Éditions Africaines. Second edition (1955), Nations nègres et culture: de l'antiquité nègre-égyptienne aux problèmes culturels de l'Afrique noire d'aujourd'hui, Paris: Éditions Africaines. Terceira edição (1973), Paris: Présence Africaine, ISBN978-2-7087-0363-6, ISBN978-2-7087-0362-9. Quarta edição (1979), ISBN978-2-7087-0688-0.
(1959) L'unité culturelle de l'Afrique noire: domaines du patriarcat et du matriarcat dans l'antiquité classique, Paris: Présence Africaine. Second edition (c. 1982), Paris: Présence Africaine, ISBN978-2-7087-0406-0, ISBN978-2-7087-0406-0. Edição inglesa (1959), The Cultural Unity of Negro Africa Paris. Subsequent Edição inglesa (c. 1962), Paris: Présence Africaine. Edição inglesa (1978), The Cultural Unity of Black Africa: the domains of patriarchy and of matriarchy in classical antiquity, Chicago: Third World Press, ISBN978-0-88378-049-7. Subsequent Edição inglesa (1989) Londres: Karnak House, ISBN978-0-907015-44-4.
(1960) L' Afrique noire pré-coloniale. Étude comparée des systèmes politiques et sociaux de l'Europe et de l'Afrique noire, de l'antiquité à la formation des états modernes, Paris: Présence africaine. Second edition (1987), ISBN978-2-7087-0479-4. (1987), Precolonial Black Africa: a comparative study of the political and social systems of Europe and Black Africa, from antiquity to the formation of modern states. Translated by Harold J. Salemson. Westport, Conn.: L. Hill, ISBN978-0-88208-187-8, ISBN978-0-88208-188-5, ISBN978-0-88208-187-8, ISBN978-0-88208-188-5.
(1960) Les Fondements culturels, techniques et industriels d'un futur état fédéral d'Afrique noire, Paris. Segunda edição revista e corrigida (1974), Les Fondements économiques et culturels d'un état fédéral d'Afrique noire, Paris: Présence Africaine.
(1967) Antériorité des civilisations nègres: mythe ou vérité historique? Series: Collection Préhistoire-antiquité négro-africaine, Paris: Présence Africaine. Second edition (c. 1993), ISBN978-2-7087-0562-3, ISBN978-2-7087-0562-3.
(1968) Le laboratoire de radiocarbone de l'IFAN. Series: Catálogos e documentos, Institut Français d'Afrique Noire No. 21.
(1974) The African Origin of Civilization: Myth or Reality (tradução de seções de Antériorité des civilisations négres and Nations nègres et culture). Translated from the French by Mercer Cook. Nova York: L. Hill, ISBN978-0-88208-021-5, ISBN978-0-88208-022-2
(1974) Physique nucléaire et chronologie absolue. Dakar: IFAN. Initiations et études Africaines no. 31.
(1977) Parenté génétique de l'égyptien pharaonique et des langues négro-africaines: processus de sémitisation, Ifan-Dakar: Les Nouvelles Éditions Africaines, ISBN978-2-7236-0162-7.
(1978) Black Africa: the economic and cultural basis for a federated state. Translation by Harold Salemson of Fondements économiques et culturels d'un état fédéral d'Afrique noire. Westport, Conn.: Lawrence Hill & Co, ISBN978-0-88208-096-3, ISBN978-1-55652-061-7. Nova edição expandida (1987) ISBN978-0-86543-058-7 (Africa World Press), ISBN978-0-88208-223-3.
Simpósio da UNESCO sobre o povoamento do Egito Antigo e a decifração da escrita meroítica. Cheikh Anta Diop (ed.) (1978), The peopling of ancient Egypt and the deciphering of Meroitic script: proceedings of the symposium held in Cairo from 28 January to 3 February 1974, UNESCO. Edição subsequente (1997), Londres: Karnak House, ISBN978-0-907015-99-4.
(1989) Nouvelles recherches sur l'égyptien ancien et les langues négro-africaines modernes, Paris: Présence Africaine, ISBN978-2-7087-0507-4.
(1989) Egypte ancienne et Afrique Noire. Reprint of article in Bulletin de l'IFAN, vol. XXIV, series B, no. 3–4, 1962, pp. 449 à 574. Université de Dakar. Dakar: IFAN.
(c. 1990) Alerte sous les tropiques: articles 1946–1960: culture et développement en Afrique noire, Paris: Présence africaine, ISBN978-2-7087-0548-7. Edição inglesa (1996), Towards the African renaissance: essays in African culture & development, 1946–1960. Traduzido por Egbuna P. Modum. Londres: Karnak House, ISBN978-0-907015-80-2, ISBN978-0-907015-85-7.
Joseph-Marie Essomba (ed.) (1996), Cheikh Anta Diop: son dernier message à l'Afrique et au monde. Series: Sciences et connaissance. Yaoundé, Cameroun: Editions AMA/COE.
Présence Africaine (ed.) (1989), Hommage à Cheikh Anta Diop – Homage to Cheikh Anta Diop, Paris: Special Présence Africaine, New Bilingual Series N° 149–150.
Prince Dika-Akwa nya Bonambéla (ed.) (2006), Hommage du Cameroun au professeur Cheikh Anta Diop, Dakar: Panafrika. Dakar: Nouvelles du Sud. ISBN978-2-912717-35-1, ISBN978-2-912717-35-1.
↑Molefi Kete Asante, "Cheikh Anta Diop: An Intellectual Portrait" (Univ of Sankore Press: 30 de dezembro de 2007)
↑Cheikh, Anta Diop, The Cultural Unity of Negro Africa (Paris: Présence Africaine, 1963), versão em inglês: The Cultural Unity of Black Africa: The Domains of Patriarchy and of Matriarchy in Classical Antiquity (London: Karnak House: 1989), pp. 53–111.
↑Diop, Cheikh Anta, Bernard Nantet (ed.), Dictionnaire de l'Afrique, Paris: Larousse, page 96.
↑Chris Gray, Conceptions of History in the Works of Cheikh Anta Diop and Theophile Obenga (Karnak House:1989) 11-155,
↑Chris Gray, Conceptions of History in the Works of Cheikh Anta Diop and Theophile Obenga (Karnak House, 1989), 11–155.
↑Alain Froment, 1991. "Origine et evolution de l'Homme dans la Pensée de Cheikh Anta Diop: une Analyse Critique", Cahiers d'Etudes africaines, XXXI-1-2: 29–64.
↑Lefkowitz, M. R. (1996), Not Out of Africa: How "Afrocentrism" Became an Excuse to Teach Myth as History, pp. 27–193.
↑F. J. Yurco, "Were the ancient Egyptians black or white?", Biblical Archaeology Review (Vol 15, no. 5, 1989), pp. 24–9, 58.
↑Frank Yurco, "An Egyptological Review", 1996, in Mary R. Lefkowitz and Guy MacLean Rogers, Black Athena Revisited, 1996, The University of North Carolina Press, pp. 62–100.
↑Charles Bonnet and Dominique Valbelle, The Nubian Pharaohs: Black Kings on the Nile (AUC Press: 2007), pp. 34–183.