O Cerco da Lapa foi um episódio militar envolvendo o Exército Brasileiro , a Guarda Nacional , a Polícia Militar do Paraná e voluntários, que ocorreu durante a Revolução Federalista no início de 1894, quando a cidade de Lapa tornou-se arena de um sangrento confronto entre as tropas republicanas, os chamados pica-paus (legalistas), e os maragatos (federalistas ), contrários ao sistema presidencialista de governo. Os legalistas resistiram ao cerco por 26 dias, mas sucumbiram pela falta de munição e comida.[ 2]
A batalha deu ao Marechal Floriano Peixoto , chefe da República, tempo suficiente para reunir forças e deter as tropas federalistas. Ao todo foram 938 homens entre forças regulares e civis voluntários, lutando contra as forças revolucionárias formadas por três mil combatentes. Os restos mortais do General Carneiro, assim como de muitos outros que tombaram durante a resistência, estão sepultados no Panteão dos Heróis .
Contexto histórico
Panteão dos Heróis , onde jazem os corpos dos legalistas que combateram no Cerco da Lapa
Os meios da política do Paraná não se sentiram com entusiasmo a partir do princípio pela ideia da república . O manifesto republicano de 1870 , favorável ao regime republicano, divulgado na província paulista , mais precisamente na Convenção de Itu , não era grandemente repercutido na província paranaense.[ 3]
As ideias da república só ganharam força em 1888, na época em que um líder local de prestígio, Vicente Machado da Silva Lima , fez sua adesão estardalhaçando maiormente a causa da república, pregando ser necessária a descentralização da administração pública para proporcionar maior autonomia às províncias . Os meios de comunicação que difundiam as ideias da república foram o jornal A República , o Clube Republicano de Curitiba, fundado em 1885, e o Clube Republicano de Paranaguá, em 1887.[ 3]
Diversos fatores foram favoráveis à difusão das ideias da república: a terceira idade do Imperador do Brasil Dom Pedro II ; o isolamento do Império do Brasil , única monarquia na parte meridional da América Latina ; e a atitude indiferente com que os fazendeiros passaram a tratar o regime monárquico depois de 13 de maio de 1888 , data de assinatura da abolição da escravatura , que lhes trouxe prejuízo com sensibilidade .[ 3]
Assim se explica a inexistência prática de qualquer reação popular à nova forma de governo : a população do Paraná continuou com indiferença, recebendo o regime republicano sem se manifestar, e estranha a tudo o que mudava na política.[ 3]
Situação paranaense
Cerco da Lapa.
O número de deputados que defendiam o desejo pela república no Paraná era de apenas um, dos 20 monarquistas de que era composta a antiga Assembleia Provincial .[ 4]
Relato do Cerco da Lapa pelo Coronel Libero Guimarães , em mural localizado ao lado do Panteão dos Heróis.
Ambos os maiores partidos políticos que existiram em tempos imperiais, o Partido Liberal e o Partido Conservador , foram adaptados às novas condições circunstanciais. O Partido Conservador, cujo líder era Ildefonso Pereira Correia , o futuro Barão do Cerro Azul, este autorizando depois a chefia por desejo de seu colega Vicente Machado da Silva Lima , foi transformado no Partido Republicano Federal , e os antigos liberais, cujo chefe era Generoso Marques dos Santos , foram os fundadores do Partido Republicano Paranaense. Os antigos liberais, que receberam afastamento do governo em 1889 com a Proclamação da República no Brasil , voltaram ao poder nas eleições estaduais no Paraná em 1891, em que se elegeu como presidente do Estado o doutor Generoso Marques dos Santos, substituindo a junta de governo dirigente estadual que esteve no poder a partir de 15 de novembro . Mas seu governo durou pouco tempo, por causa da mudança que ocorreu na política do Brasil , quando Manuel Deodoro da Fonseca renunciou, após o golpe de Estado que não teve êxito. De qualquer maneira, este governo que durou pouco tempo, deu assinatura à primeira constituição do Paraná , em 1891.[ 4]
Reviravolta de Floriano
O então vice-presidente Floriano Peixoto , que assumiu o cargo de presidente da República dos Estados Unidos do Brasil , como era assessor do então presidente Manuel Deodoro da Fonseca, deu afastamento do poder aos poderes executivo e legislativo de todos os 20 estados brasileiros da época que tinham apoiado a Proclamação da República . O estado paranaense foi administrado pela segunda vez por uma junta militar . Esta tinha a intenção de convocar segundas eleições de acordo com novas regras de eleição, com características bem marcantes da república:[ 4]
As mesas de eleição receberiam fiscalização dos partidos políticos que tivessem interesse.[ 4]
O governador venceria as eleições por voto direto .
Os grupos minoritários seriam representados no poder legislativo estadual , por meio de um terço dos representantes no estado .[ 4]
A nova administração , tanto governadoria como Assembleia Legislativa , tomou posse no mês de fevereiro do ano de 1892 . Deste modo, passou a chefiar no poder o Partido Republicano Federal , do qual se elegeu governador o doutor Francisco Xavier da Silva , cujo vice foi o doutor Vicente Machado da Silva Lima , este o líder de maior prestígio do estado na época.[ 4]
Partidários do Partido Federalista do Rio Grande do Sul em território gaúcho
O então presidente da República dos Estados Unidos do Brasil Floriano Peixoto desconfiava das tendências da política da monarquia imperial e do sistema parlamentar de governo de Silveira Martins, embora Castilhos tenha apoiado o ex-presidente Manuel Deodoro da Fonseca.[ 5]
Nas eleições estaduais no Rio Grande do Sul, em 1893, foi eleito governador , com a maioria absoluta dos votos válidos, o jornalista Júlio de Castilhos . Os partidários do Partido Federalista do Rio Grande do Sul , liderados por Gaspar Silveira Martins , que estiveram insatisfeitos com a derrota, resolveram invadir o Paraná em 1893 , com tropas que vieram do Uruguai , onde se organizaram.[ 5]
Então começou a Revolução Federalista , a mais bárbara já ocorrida em território brasileiro , que se ensanguentou por muito tempo em diversas unidades federativas do Brasil .[ 5]
Dia Nacional do Cerco da Lapa
Em 21 de dezembro de 2017, foi sancionado pelo Presidente Michel Temer o projeto de Lei que criou o Dia Nacional do Cerco da Lapa (Lei 13.570, de 21 de dezembro de 2017) a ser comemorado todo dia 9 de fevereiro.[ 6]
Ver também
Referências
Bibliografia
WACHOWICZ, Ruy Christovam (1995). História do Paraná 7ª ed. Curitiba, PR: Vicentina
Lacerda, Francisco Brito de (1985). Cerco da Lapa: do começo ao fim . Curitiba, PR: Lítero-Técnica. 157 páginas
Ligações externas