Goleiro forte, comparado a gladiadores, era também ágil na saída de gol. Dotado de grande impulsão, recebeu da imprensa argentina o apelido de Batman pelos voos que executava para defender bolas altas, sabendo que eram o melhor tipo de tentativa dos atacantes adversários após ele bloquear-lhe os ângulos. Também não se eximia de sair do gol para tentar roubar-lhes a bola com carrinhos,[1] chegando inclusive a driblar os adversários.[2]
No novo clube, teria seu melhor momento em 1968, integrando a equipe conhecida como Los Matadores, que fez do San Lorenzo o primeiro time a sagrar-se campeão argentino de forma invicta.[4] Na final, os azulgranas bateram o forte Estudiantes de La Plata, campeão da Taça Libertadores da América daquele ano (e dos dois seguintes).[5]
Em 1971, o San Lorenzo encontrava-se em crise financeira. Buttice, que chegou a ter salários atrasados, adquiriu então passe livre. Apesar de propostas francesas e mexicanas, veio jogar no Brasil: por indicação de Zezé Moreira, o America acertou com Buttice.[3] Todavia, seria um dos goleiros americanos que, na visão do torcedor, foram atingidos por uma praga emitida por antigo goleiro dispensado pela equipe carioca. Fato é que não se firmou.[6] No ano seguinte, foi para o Bahia. Chegou a ser contestado pela torcida tricolor, sendo um dos bodes expiatórios da perda do campeonato baiano naquele 1972;[7] De fato, um dos três gols sofridos na decisão, contra o arquirrival Vitória, vieram de um pênalti que ele cometera.[8]
Em 1973, no entanto, viveu grande fase. Fez parte da espinha-dorsal montada pelo técnico Evaristo de Macedo da equipe que voltou a ser campeã estadual, abrindo caminho para uma série que culminaria em um heptacampeonato.[9] No campeonato brasileiro, por sua vez, teve grandes exibições e ficou próximo de faturar não só a Bola de Prata como melhor goleiro, como também a Bola de Ouro - seu compatriota Agustín Cejas, de quem fora reserva na Seleção Argentina, acabaria faturando ambos os prêmios.[10] O técnico Sylvio Pirillo, que já o havia indicado ao Bahia,[3] voltou a recomendar sua contratação, quando foi treinar o Corinthians.[11]
Buttice chegou ao Parque São Jorge para ser reserva de Ado, mas ganhou a posição.[11] Um dos novos colegas, Rivellino, ele já conhecia bem: ainda no San Lorenzo, em partida contra o próprio Corinthians, ele defendeu uma característica Patada Atômica em pênalti cobrado por Riva. O impacto fora tão forte que tatuou no peito do goleiro o crucifixo que carregava no pescoço.[12]El Batman teve boas atuações, mas acabaria marcado, junto com o próprio Rivellino, pela perda do Paulistão daquele ano, que encerraria um jejum de vinte anos do alvinegro.[13] Para piorar, a taça foi perdida para o rival Palmeiras, que venceu por 1 x 0 o segundo jogo da decisão (o primeiro terminara empatado em 1 x 1). Em um lance de bola parada do adversário, Leivinha subiu mais do que toda a defesa corintiana e cabeceou, com a bola caindo exatamente no pé direito de Ronaldo. O chute saiu forte, indefensável, no canto esquerdo de Buttice.[14]
Alegando problemas particulares, Buttice deixou o Corinthians, do qual ainda nutre carinho pela torcida, além de gabar-se de ser o argentino que mais enfrentou Pelé, com quinze jogos, sem nunca ter levado gol dele.[11] O goleiro regressou à Argentina, contratado pelo Atlanta. Já vetarano, passaria ainda por Gimnasia y Esgrima La Plata, Unión Española (clube do Chile)onde tambem foi campeao em 1977, Banfield (curiosamente, rival do Los Andes, onde ele começara a carreira) e Colón, onde encerrou em 1983 a carreira.
Juntamente de Miguel Ángel Brindisi, Carlos Babington e Oscar Más, a Argentina surpreendeu, vencendo o favorito e anfitrião Brasil na decisão - já havia derrotado os rivais também na primeira fase.[16][17] Buttice saiu como a grande figura, eleito o melhor jogador da competição. Prometera a Luciano do Valle que fecharia o gol na decisão e assim o fez. "Devemos metade da vitória ao Buttice", declarou o técnico argentino, Carmelo Faraone. "Nem quando jogava comigo lá no Corinthians esse gringo pegava tanto", admirou-se Rivellino.[18]"Passamos o jogo inteiro pressionando e o Buttice pegou tudo", afirmou Luciano. El Batman também participou da segunda edição da Copa Pelé, dois anos depois,[19] finalmente vencida pelos brasileiros. A competição de masters, inicialmente de grande repercussão, acabaria perdendo posteriormente o apelo comercial e de público e seria disputada pela última vez em 1995.[20]
↑ANDRADE, Aristélio (1 de junho de 1973). A praga de Pompeia. Placar n. 168. Editora Abril, pp. 26-27
↑MENDES, Roque (13 de novembro de 1981). Ba-Vi. Placar n. 600. Editora Abril, pp. 54-57
↑ESCARIZ, Fernando (30 de março de 1979). Três exus contra os Santos do Bahia (e um advogado que ninguém lembra). Placar n. 466. Editora Abril, pp. 32-33
↑RIOS, Nelson (28 de janeiro de 1988). Vejam quem voltou. Placar n. 921. Editora Abril, pp. 26-27
↑IV Bola de Prata (14 de dezembro de 1973). Placar n. 196. Editora Abril, pp. 36-37