Nasceu no seio de uma família tradicionalista, filho de um professor régio de humanidades, Francisco António Ferreira da Silva Beirão e de D. Raimunda dos Anjos Beirão, manteve-se fiel ao absolutismo durante toda a vida. Concluídos os estudos preparatórios em Lisboa, em 1824 matriculou-se na Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra e depois na Faculdade de Medicina, cujos três primeiros anos concluiu com brilhantismo.[1]
Frequentava o curso de Medicina quando se agudizaram os confrontos entre absolutistas e liberais, optando pela defesa do absolutismo na pessoa do rei D. Miguel I de Portugal. Quando a Universidade de Coimbra encerrou os seus cursos após o desembarque do Mindelo, foi um dos estudantes que foram excepcionalmente autorizados a exercer clínica sob a orientação de um professor.
Após o encerramento dos cursos, como apoiante activo do miguelismo, o ainda estudante acompanhou na visita de D. Miguel a Coruche, em 1833, na qualidade de comissário às ordens da Intendência da Polícia, tendo por missão estudar o estado sanitário da povoação e os meios de combater a epidemia de cholera morbus, localmente conhecida por cera, que então grassava no Ribatejo.[4][5] Essa visita levou a que nesse período se envolvesse profundamente no combate à epidemia de cholera morbus,[1] o que marcaria a sua posterior carreira profissional.
Terminada a guerra civil com a expulsão de D. Miguel, em 1834 voltou à Universidade, tendo concluído o curso de Medicina em 1836.
A sua ligação ao miguelismo derrotado dificultou sobremaneira a sua entrada na profissão, o que o obrigou a iniciar um conturbado percurso profissional nos hospitais de Lisboa. Depois de ter trabalhado nos Hospitais de São Lázaro, Marinha e Rilhafoles, conseguiu estabilizar a sua situação profissional neste último.
Na sua actividade clínica e hospitalar manteve o interesse pelo estudo da cólera, que iniciara ainda estudante em 1833, realizando trabalho de investigação pioneiro sobre a propagação daquela doença. Também se interessou pelo estudo da elefantíase dos gregos e da alienação mental. Foi um dos colaboradores da comissão encarregada de estuda viabilidade de converter o Hospital de Rilhafoles em hospital dos alienados.[1]
Apesar de ser considerado um médico distinto e um dos maiores conhecedores de Ciência Médica, teve grandes dificuldades políticas para ingressar como docente na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Contudo, as suas excepcionais qualidades permitiram que ao fim de 11 anos, contra a corrente dominante, chegasse a lente de Matéria Médica.[1] Membro das principais sociedades científicas do tempo e colaborador assíduo de vários jornais especializados, era considerado um eminente professor, incansável na difusão dos seus conhecimentos médicos.[3]
Para além da sua actividade como docente e como clínico, teve uma notável, e controversa, acção como deputado realista na Câmara dos Deputados das Cortes da Monarquia Constitucional. Defensor da conciliação entre absolutistas e liberais, considerava necessário inserir o miguelismo no sistema político liberal, posição que era considerada como traição pela maioria dos miguelistas, que continuava a defender a resistência sem compromisso ao novo regime, se possível pela via armada. Apesar disso, apresentou-se às eleições de Junho de 1842, sendo eleito deputado pelo círculo eleitoral da Estremadura, integrado nas listas da coalização anti-cabralista, para a 5.ª legislatura (1842-1845). Integrou, juntamente com Cipriano de Sousa Canavarro, eleito por Trás-os-Montes, o primeiro grupo de «miguelistas» a ter assento no parlamento liberal.
Esta eleição para o parlamento liberal provocou a ira dos seus correlegionários miguelistas, partidários do prosseguimento da resistência ao regime. Apesar de se assumir como a voz parlamentar dos vencidos da guerra civil, sofreu graves dissabores em resultado da hostilidade e escárnio dos liberais e da incompreensão dos miguelistas. Apelidado pela facção defensora da continuação do conflito como deputado urneiro (em vez de ordeiro) e activamente combatido pelo grupo miguelista liderado por António Ribeiro Saraiva, foi o primeiro deputado miguelista a intervir no parlamento e a primeira voz a defender tão dignamente quanto possível a sobrevivência e a dignidade política dos vencidos da guerra civil.[3] Mas também o lado liberal não lhe dava tréguas e em 1844 foi brevemente preso, acusado de estar envolvido na preparação de um levantamento de guerrilhas realistas em Amarante e Fafe.[1]
Ao contrário de Cipriano de Sousa Canavarro, o outro deputado miguelista, que não teve qualquer intervenção parlamentar, Caetano da Silva Beirão revelou-se um deputado interventivo, salientando-se na defesa dos interesses da vitivinicultura da Estremadura, para a qual propunha a constituição de uma companhia protectora dos interesses dos viticultores.
Foi novamente eleito deputado em 1861, desta feita pelo círculo eleitoral de São João da Pesqueira, para a 13.ª legislatura (1861-1864). Mantendo-se interventivo, destacou-se por defender corajosamente a reforma do ensino médico, na qual equiparava os graus a atribuir pelas Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e Porto aos conferidos pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, não obstante a sua apregoada fidelidade «aos seus colegas e mestres lentes da Universidade de Coimbra».[1] Também se destacou na defesa dos vínculos, alegando serem os morgadios importantes para a defesa da agricultura nacional.
Foi o quinto presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, tendo exercido o cargo por duas vezes, em 1847 e 1853. No início do seu primeiro mandato encontrou a Sociedade das Ciências Médicas «numa situação quase desesperada, sem relações externas e sem incitamento interno; parecia querer terminar de inanição». A sua acção como presidente muito contribuiu para a recuperação daquela Sociedade, a qual ainda perdura.[1]
Deixou uma importante obra científica, dispersa pelos periódicos médicos da época.