De biografia nebulosa, poucos fatos podem ser atestados sobre sua vida e obra. Chegou-se a atribuir-lhe duas outras obras, mais tarde de autoria revista.[1]
Vida
Existem poucas e confusas informações sobre a vida de Bento Teixeira. Alguns chegam a considerá-lo brasileiro, natural de Olinda. Sua biografia somente adquiriu contornos sólidos em 1929, com o exame os documentos chamados Denunciações de Pernambuco - o conjunto referente aos registros da Primeira Visitação do Santo Ofício às Partes do Brasil, de 1581-1592 - por Rodolfo Garcia, que encontrou neles menção de um depoimento ao Tribunal de um poeta cristão novo, batizado como Bento Teixeira. De acordo com o relato, o poeta teria nascido na cidade do Porto, em Portugal, filho de Manuel Alvares de Barros e Lianor Rodrigues, ambos criptojudeus.[2][3]
Outra versão dos acontecimentos diz que Bento Teixeira foi acusado pela esposa de ser judeu. O poeta teria, então, sido julgado e absolvido pelo ouvidor da Vara Eclesiástica da Inquisição, em 1589. Intimado posteriormente pelo visitador do Santo Ofício, acabou confessando ser seguidor da religião judia. Irritado com a denúncia da esposa, assassinou-a, refugiando-se no mesmo Mosteiro de São Bento. Localizado, foi preso e enviado para Lisboa, ca. 1595, onde permaneceu até a morte.
Assim como sua biografia, são confusas as informações relativas as obras escritas por Bento Teixeira. Muitas lhe foram atribuídas. As principais são:
Relações do naufrágio: De acordo com os estudos de Varnhagen, a obra é de autoria de Afonso Luís, piloto de uma nau chamada "Santo Antônio", citado em Prosopopeia.
Embora tenha sido originalmente publicada em Lisboa, na ocasião em que Bento Teixeira ali encontrava-se encarcerado, e a despeito de o autor ter nascido em Portugal, atribui-se à Prosopopeia o mérito de ser uma das primeiras obras da literatura brasileira, uma vez que Bento Teixeira estudou e fez carreira no Brasil.
Escrito em oitava rima, com noventa e quatro estrofes, o poema marcou o início do movimento barroco no Brasil. A obra foi fortemente influenciada pela epopeia Os Lusíadas, de Camões, cujos ecos se encontram na sintaxe e na estrutura do poema de Teixeira. Seu texto é altamente classicista, abundante em hipérbatos, e chega mesmo a incluir citações diretas do poeta lusíada. A estrutura, seguindo a obra de Camões, é constituída de proposição, invocação, oferecimento, narração, uma descrição do Recife de Pernambuco e o Canto de Proteu, mais longo dos trechos e o passo onde transcorre o texto épico propriamente dito.[1]
Na invocação, pede ajuda do Deus cristão para compor seu texto e dedica, em seguida, ao próprio Jorge d'Albuquerque, visando a ajuda financeira.
De caráter heroico, a suposta coragem e valentia dos i vai si suae é narrada em decassílabos. Os acontecimentos abordados dizem respeito às terras brasileiras e à região de Alcácer-Quibir, na África, onde os irmãos teriam se destacado em uma importante batalha. Ambos teriam também sofrido com um naufrágio, quando viajavam na nau Santo Antônio.
Por sua grande carência de originalidade e destreza poética, Prosopopeia é largamente relevado pelos críticos, restando ao poema apenas seu significado histórico na formação da literatura brasileira. De interesse é apenas o trecho descritivo, em que algum nativismo já pode ser visto, o que mais tarde seria marca fundamental do movimento árcade e romântico
Trecho de Prosopopeia:
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LX
Olhai o grande gozo e doce glória Que tereis quando, postos em descanso, Contardes esta larga e triste história, Junto do pátrio lar, seguro e manso. Que vai da batalha a ter vitória, O que do Mar inchado a um remanso, Isso então haverá de vosso estado Aos males que tiverdes já passado.