Batalha de Mursa Maior

A Batalha de Mursa Maior (em latim: Mursa Major) foi travada em 28 de setembro de 351 entre os exércitos do Império Romano do Oriente liderados por Constâncio II e as forças ocidentais que apoiavam o usurpador Magêncio.[1] Aconteceu em Mursa, perto da Via Militaris, na província de Panônia (atual Osijek, Croácia). A batalha, uma das mais sangrentas da história romana, foi uma vitória para Constâncio.[2]

Contexto

Após a morte de Constantino I em 337, a sucessão estava longe de ser clara. Constantino II, Constâncio II e Constante I eram todos Césares supervisionando uma região específica do império, embora nenhum deles fosse poderoso o suficiente para reivindicar o título de Augusto.[3] Alimentados pela crença de que Constantino desejava que seus filhos governassem em uma triarquia depois dele, os militares provocaram um massacre de membros da família Constantiniana.[4] Esse massacre precipitou um redivisionamento do império, pelo qual Constante conquistou a Gália, Hispânia, Itália, África e Grã-Bretanha; Constantino, Trácia, Mésia e Ilírica, e Constâncio, Ásia, Egito, Síria e as províncias da Grécia e Macedônia.

Depois de ter sido bloqueado por tentar impor sua autoridade sobre Cartago, Constantino II atacou seu irmão Constante em 340, mas foi emboscado e morto perto de Aquilia, no norte da Itália. Constante tomou posse das províncias do oeste e governou por dez anos mais de dois terços do mundo romano. Enquanto isso, Constâncio estava envolvido em uma guerra difícil contra os persas sob Sapor II.[4]

Em 350, a má administração de Constante alienou seus generais e oficiais civis, e Magnêncio autoproclamou-se Augusto do oeste, resultando no assassinato de Constante. Magnêncio rapidamente marchou com seu exército para a Itália, nomeando Fabius Titanius como o prefeito urbano, consolidando a influência daquele sobre Roma. À medida o exército de Magnêncio chegava, Vetrânio, tenente de Constante em Ilírico, havia sido declarado Augusto por suas tropas. Magnêncio tentou inicialmente um diálogo político com Constâncio e Vetrânio, mas uma rebelião do usurpador Nepociano mudou suas intenções: de ingressar na dinastia constantiana, quis substituí-la. Foi durante essa rebelião que Magnêncio promoveu seu irmão Decêncio a César.[5][4]

A reação de Constâncio foi limitada. Já envolvido em uma guerra com o Império Sassânida, ele não estava em posição de lidar com Magnêncio ou Vetrânio. Após a retirada de Sapor de Nísibis, Constâncio marchou seu exército para Serdica, encontrando Vetrânio com um exército. Em vez de travar uma batalha, Constâncio e Vetrânio negociaram, pelo qual Vetrânio concordou em abdicar. Constâncio então avançou para o oeste com seu exército reforçado a fim de encontrar Magnêncio.[4]

Batalha

O exército de Magnêncio, que consistia em legiões gaulesas, auxiliares palatinos, francos e saxões, colocou Mursa sob cerco com 36.000 homens, mas Constâncio expulsou os sitiantes.[6] Magnêncio recua e organiza seu exército na planície aberta a noroeste de Mursa, perto do rio Drava. O exército de Constâncio, que incluía cavalaria blindada e arqueiros montados, na quantidade de 80.000 homens, organizaram-se a fim de flanquear o flanco direito de Magnêncio.[6]

Antes da batalha, Constâncio enviou Flávio Filipo, o seu prefeito pretoriano oriental, a negociar com Magnêncio, formalmente, para negociar a paz, propondo-lhe retirar-se e preservar a Gália.[4] No entanto, a verdadeira missão de Flávio era reunir informações sobre as forças de Magnêncio e semear dissidência dentro do exército do usurpador.[6] Depois do discurso de Flávio ao exército de Magnêncio, uma revolta quase é desencadeada, na qual o comandante franco Cláudio Silvano, que liderava um regimento de cavalaria, desertou com os seus homens para se unir a Constâncio. Fracassado o plano, Magnêncio aprisiona Flávio e o executa.

Enquanto isso, a tentativa de Magnêncio de fazer uma emboscada em um estádio abandonado, onde foram destacadas quatro falanges gaulesas, foi descoberta pelos generais de Constâncio e erradicada, custando a Magnêncio todas as respectivas falanges.[6]

Constâncio abriu a batalha com as duas alas de cavalaria avançando contra os dois flancos do exército de Magnêncio.[6] Quando este percebeu que seu flanco direito estava quase envolto, fugiu do campo de batalha.[6][7] Apesar de ter sido abandonada pelo imperador, a infantaria gaulesa formou uma falange dupla em resposta à contra-carga da cavalaria de Magnêncio.[6] Tanto a infantaria gaulesa quanto a alemã se recusaram a se render, mesmo lutando furiosamente, sofrendo perdas terríveis.[6] Os arqueiros armênios e montados de Constâncio usavam uma versão do arco e flecha persa o qual causava desordem entre as tropas de Magnêncio. Isso, combinado com a cavalaria blindada do Oriente, provocou a queda do exército do usurpador.[6]

Ao cair da noite, a batalha estava quase terminada, em que dois grupos do exército de Magnêncio fugiam desesperadamente: um em direção ao rio; o outro, ao acampamento. Ambos sofreram elevadas baixas.[6] Constâncio, que não esteve presente durante a batalha, ouviu falar do êxito de seu exército enquanto visitava a tumba de um mártir cristão.[8] Com essa notícia - revelada pelo bispo de Mursa -, Constâncio informou aos membros da comunidade cristã que a vitória se deu devido à ajuda de Deus.[8]

Rescaldo

Após os eventos em Mursa, Constâncio optou por não perseguir o fugitivo Magnêncio, passando os próximos dez meses recrutando novas tropas e retomando cidades reivindicadas pelo usurpador. No verão de 352, Constâncio rumou para o leste da Itália, apenas para descobrir que seu rival optara por não defender a península. Depois de aguardar até setembro de 352, ele nomeou Naeratius Ceralis prefeito urbano e destinou seu exército para os aquartelamentos de inverno em Milão. Somente no verão de 353 que Constâncio deslocaria seu exército para o leste para confrontar Magnêncio na Batalha de Mons Seleuco.[4]

Historiografia da batalha

Inúmeros escritores contemporâneos consideram a perda de vidas romanas em Mursa um desastre para o Império Romano, uma das mais sangrentas na história de Roma, e além disso, a primeira vez que os legionários romanos foram derrotados por cavalaria pesada.[6] De acordo com João Zonaras (xiii 8.17), Magnêncio perdeu dois terços das suas tropas; Constâncio, a metade do seu exército, um total de cinquenta e quatro mil soldados numa época na que o Império Romano tinha muitos inimigos externos. Syvanne compara as perdas em Mursa com as derrotas romanas em Canas e Adrianópolis, e Zósimo considera tal confronto um grande desastre, o qual deixou o exército tão enfraquecido que não conseguiria combater as incursões bárbaras.[8] Ademais, os acadêmicos modernos classificaram a batalha como uma vitória pírrica para Constâncio.[6][4]

Bibliografia

  • CAMERON, Averil, e Peter Garnsey ed., The Cambridge Ancient History, Cambridge University Press, 1988, Vol XIII, p. 20.

Referências

  1. Harrel, John S.. (2016). The Nisibis War 337-363 : the defence of the Roman East AD 337-363. [S.l.]: Pen & Sword Military. ISBN 9781473848306. OCLC 959710432 
  2. Nicholson, Oliver,. The Oxford dictionary of late Antiquity First edition ed. [Oxford]: [s.n.] ISBN 9780191744457. OCLC 1029736000 
  3. «Samuel N. C. Lieu and Dominic Montserrat, eds., Constantine: History, Historiography and Legend. London and New York: Routledge, 1998. Pp. xix, 238; 1 black-and-white figure. $75.». Speculum. 74 (04). 1146 páginas. Outubro de 1999. ISSN 0038-7134. doi:10.1017/s0038713400203801 
  4. a b c d e f g Woudhuysen, George (23 de agosto de 2018). «P. CRAWFORD, CONSTANTIUS II: USURPERS, EUNUCHS AND THE ANTICHRIST. Barnsley: Pen & Sword Books, 2016. Pp. xxx + 353, illus. isbn9781783400553. £25.00. - R. FLOWER, IMPERIAL INVECTIVES AGAINST CONSTANTIUS II: ATHANASIUS OF ALEXANDRIA, HILARY OF POITIERS AND LUCIFER OF CAGLIARI. Liverpool: Liverpool University Press, 2016. Pp. x + 225, map. isbn9781781383285. £19.99.». Journal of Roman Studies. 108: 310–312. ISSN 0075-4358. doi:10.1017/s0075435818000849 
  5. Barnes, Timothy David. (1993). Athanasius and Constantius : theology and politics in the Constantinian empire. [S.l.]: Harvard University Press. ISBN 0674050673. OCLC 441113378 
  6. a b c d e f g h i j k l Syvänne, Ilkka, author. Military history of late Rome 284-361. [S.l.: s.n.] ISBN 9781473871830. OCLC 922640299 
  7. Ettinger, David (1 de setembro de 2010). «Sources: A Global Chronology of Conflict: From the Ancient World to the Modern Middle East». Reference & User Services Quarterly. 50 (1): 83–83. ISSN 1094-9054. doi:10.5860/rusq.50n1.83.2 
  8. a b c Potter, D.S. (David Stone), 1957-. The Roman Empire at bay, AD 180-395. [S.l.: s.n.] ISBN 0415840554. OCLC 897055050 

Fontes