Batalha de Munda

 Nota: Não confundir com a Batalha de Munda, de 214 a.C., travada durante a Segunda Guerra Púnica.

Batalha de Munda
Segunda Guerra Civil da República Romana

Campanha final de César na Hispânia
Data 17 de março de 45 a.C.[1]
Local Local desconhecido na Bética, Hispânia
Coordenadas 37° 21' N 5° 13' 0.12" E
Desfecho Vitória decisiva dos cesarianos[2]
Beligerantes
República Romana Cesarianos
  Reino da Mauritânia
República Romana Pompeianos
  Celtiberos[3]
Comandantes
República Romana Júlio César
República Romana Caio Otávio Turino
República Romana Marco Vipsânio Agripa
República Romana Quinto Fábio Máximo
República Romana Quinto Pédio
  Bogudes da Mauritânia
República Romana Tito Labieno 
República Romana Pompeu, o Jovem
República Romana Sexto Pompeu
República Romana Públio Ácio Varo 
Forças
Total:
~40 000 homens[4][5]
* 8 legiões romanas[4][6]
* 8 000 cavaleiros[7][6]
Total:
~70 000 homens[4][5][a]
* 13 legiões romanas[4]
* 6 000 cavaleiros[4][2]
* 6 000 auxiliares[4][2]
Baixas
1 000 mortos e 5 000 feridos[4] 30 000[4][5]–33 000[9] mortos (30 000 infantes e 3 000 cavaleiros)[10]
Munda está localizado em: Espanha
Munda
Localização aproximada de Munda no que é hoje a Espanha

A Batalha de Munda foi travada em 17 de março de 45 a.C. entre os exércitos cesarianos, comandados pelo próprio Júlio César, e os pompeianos, sob o comando de Tito Labieno e dos filhos do finado Pompeu, Cneu e Sexto Pompeu, numa planície perto da colônia romana de Munda, na Bética.[11] César derrotou definitivamente as forças pompeianas e praticamente encerrou a Segunda Guerra Civil da República Romana.

Segundo Apiano, foi a mais difícil e perigosa das batalhas de César. Segundo ele, "...conta-se que César manifestou que sempre havia lutado pela vitória, mas que, nesta ocasião, teve que lutar também por sua vida".[6] Ele teve que lutar em um terreno majoritariamente desfavorável, pois teve que atravessar um riacho e subir a elevação onde estava fortificado o exército de Pompeu, o Jovem. Apesar disto, a ferocidade com que lutou a Legio X Equestris (futura Gemina) impediu que os cesarianos fossem cercados e permitiu que César utilizasse sua cavalaria com eficiência. Tito Labieno movimentou suas tropas para interceptá-la, mas o movimento foi mal-compreendido por suas tropas, que imaginaram que se estava iniciando uma retirada; o resultado foi uma vitória completa para César.

Depois desta sangrenta vitória e da morte dos principais líderes pompeianos remanescentes (Labieno, Públio Ácio Varo e Pompeu, o Jovem), César conseguiu retornar para Roma para receber o título de "ditador perpétuo". O seu assassinato, menos de um ano depois desta vitória, deu início aos eventos que levaram à Terceira Guerra Civil da República Romana.

Localização

Tradicionalmente, os historiadores tem localizando a cidade de Munda e o cenário desta batalha, chamado "Campus Mundensis" nas crônicas antigas,[b] em diversos locais diferentes.[c] Entre eles, o que recebia mais apoio era a cidade de Monda (segundo a opinião de Ambrosio de Morales, Rodrigo Caro e Enrique Flórez), seguida por Montilla (defendida por Miguel Cortés y López e outros principalmente pela proximidade com as localidades de Córduba e Obulco). Ainda em 1861, os irmãos Oliver Hurtado defenderam a localidade de Ronda la Vieja, perto de Ronda, mas acabaram apoiando a "planície de Vanda", perto da moderna Montilla depois da proposta do coronel Eugène Stoffel, colaborador de Napoleão III em 1887,[13] uma proposta que depois foi fortemente defendida por Adolf Schulten em 1940,[14] sem mais discussões posteriores.

A estas possibilidades se somaram duas novas propostas: o "Cerro de La Atalaya" (1973)[15] e o "Alto de las Camorras" (1984-1986),[16] ambas perto da moderna Osuna, a cinco quilômetros uma da outra. Finalmente, há um cenário que localiza a batalha no local onde está o castelo de Alhonoz ou Aljonoz, uma antiga fortaleza árabe situada entre Herrera e Écija, às margens do rio Genil.

Todas estas localidades estão na antiga província romana da Bética, mas não é possível determinar com certeza qual delas seria a localização correta principalmente pela falta de inscrições geográficas probatórias. É possível inclusive que Munda estivesse em qualquer outro lugar da província perto dos rios e cidades citadas nas fontes antigas; por conta disto, o problema da localização exata de Munda permanece em aberto.[17]

Contexto

A Hispânia já estava sob o comando dos cesarianos desde a Batalha de Ilerda (2 de agosto de 49 a.C.),[18] Quinto Cássio Longino atuando como governador da Hispânia Ulterior.[19] Enquanto os pompeianos reuniam seu exército na África, César ordenou que Longino fosse ajudá-lo atacando o Reino da Numídia pelo oeste com suas quatro legiões com o apoio do rei Bogudes da Mauritânia.[20] Para isto, Longino reuniu uma frota com cerca de 100 navios,[21] mas duas de suas legiões, a maioria de seus auxiliares e a população local eram pompeianos até Ilerda e ainda nutriam grande simpatia pelo falecido general. Esta tensão foi agravada ainda pela atuação tirânica do próprio Longino[20] e acabou explodindo numa revolta em Córduba. O questor enviado para lidar com os rebeldes, Marco Cláudio Marcelo Esernino,[22] desertou, mas isto não impediu que ela fosse duramente sufocada.[23] No outono de 47 a.C., o legado Caio Trebônio, novo governador da Ulterior e recém-chegado do oriente, interveio com ordens de substituir Longino e restaurar a paz. Contudo, a revolta impediu que a manobra contra Juba I da Numídia fosse realizada; pouco depois, o próprio César desembarcou na África.[19] Duas novas revoltas irromperam quando Longino tentou escapar, já no final de 47 a.C., com o tesouro público da província e morreu, possivelmente assassinado ou afogado na foz do rio Ebro.[24] O evento marcou o colapso do controle cesariano na Hispânia,[25] com as quatro legiões de Longino se amotinando[18] em favor dos pompeianos.[2]

Enquanto isto, César estava ocupado lutando contra seus inimigos internos e externos no Mediterrâneo oriental. Pompeu foi vencido na Batalha de Farsalos,[26] o faraó Ptolemeu XIII na Batalha do Nilo,[27] Fárnaces II do Ponto na Batalha de Zela[28] e Metelo Cipião e Catão, o Jovem na Batalha de Tapso.[6] Esta sucessão de vitórias de César colocou os pompeianos em constante estado de fuga em busca de novos refúgios; com seus comandantes sendo sucessivamente mortos, os sobreviventes passaram a lutar cada vez mais por sobrevivência, honra e vingança do que pela manutenção da República Romana.[6]

Depois de Tapso, os pompeianos, liderados por Tito Labieno, um brilhante comandante de cavalaria que havia servido sob César durante as Guerras Gálicas,[29] e pelos filhos de Pompeu, Cneu, e Sexto Pompeu, fugiram para a Hispânia Ulterior.[30] Cneu tentou, sem sucesso, conseguir o apoio da Mauritânia,[31] mas acabou fugindo para as Baleares, conquistadas antes por Sexto, onde se encontrou com o irmão antes de partirem juntos para a Hispânia.[32] Ali, os dois conseguiram reunir um último grande exército com o qual pretendiam enfrentar César[30] aproveitando principalmente as legiões amotinadas de Longino.[6] Segundo os cronistas antigos, apenas quatro das legiões pompeianas tinham alguma experiência militar. As demais eram formadas principalmente por forças auxiliares, especialmente soldados celtiberos.[33] Apiano menciona que grande parte do exército pompeiano era composto de libertos com anos de treinamento em combate,[34] provavelmente não mais do 20 000 deles seriam cidadãos romanos da península Ibérica; o restante era formado por antigos soldados pompeianos, desertores cesarianos, escravos fugidos, auxiliares e civis romanizados sem cidadania.[35] A maior parte dos recrutas eram procedentes da própria Bética e da Hispânia Citerior,[36] com grande quantidade de celtiberos.[3] Os cavaleiros eram principalmente celtiberos, iberos e lusitanos com armamento leve.[2]

Metade do exército estava na Ulterior, incluindo um pequeno contingente de cavaleiros númidas sob o comando do príncipe Arabião, filho de Masinissa II.[37] Cartago Nova estava cercada pelos pompeianos porque, assim como Tarraco, era uma das poucas cidades locais que se mantiveram leais a César.[38] As fontes não mencionam o resultado do cerco e é possível que Cartago Nova jamais tenha sido conquistada pelos pompeianos.[39] Contudo, uma frota cesariana, sob o comando de Caio Dídio, enfrentou a frota pompeiana de Públio Ácio Varo na Batalha de Carteia, perto do estreito de Gibraltar. A batalha terminou de forma inconclusiva, com os cesarianos se retirando para Gades e os pompeianos, para Carteia.[40]

Os comandantes cesarianos na península, Quinto Fábio Máximo e Quinto Pédio, foram rapidamente vencidos e acabaram obrigados a pedir a ajuda de César enquanto se defendiam em Obulco.[6] César partiu de Roma em 5 de novembro e chegou em Córduba em 2 de dezembro,[25] percorrendo mais de 2 000 km em menos de um mês.[6] Em Obulco, César recebeu uma embaixada de cordubenses que afirmaram ter rendido a cidade aos pompeianos por não terem como resistir. Também chegaram mensageiros de Ulia, uma cidade turdetana que estava cercada pelos pompeianos, para onde foram enviadas seis coortes sob o comando de Lúcio Júnio Pacieco. Naquele momento, a região toda estava se revoltando principalmente por causa dos saques a Ategua e Veubi pelos pompeianos. Depois de enviar Pacieco a Ulia, César marchou para Córduba.[41]

César levou consigo oito legiões e 8 000 cavaleiros,[6] incluindo legiões veteranas das Guerras Gálias: Legio V Alaudæ, a VI Ferrata e a Legio X Equestris, além de outras novas, como a III Gallica e a XIII (futura Gemina).

O exército pompeiano estava ocupando Córduba e César iniciou um cerco. Pompeu, o Jovem, estava na cidade e teve que pedir que seu irmão, Sexto Pompeu, trouxesse suas tropas para enfrentá-lo; César assegurou o fornecimento de recursos para seu exército tomando Ategua em 19 de fevereiro.[6] Em 7 de março, uma escaramuça ocorreu em Soricaria e terminou com vitória de César. Depois desta vitória, muitos soldados pompeianos começaram a desertar, o que forçou a mão de Sexto. Além disso, a derrota bloqueou o caminho de volta para a fortaleza de Carteia e obrigou Sexto a seguir para Córduba.[42] Cneu se retirou para o sul e César o perseguiu até o ópido de Munda, alcançando-o em 16 de março.[6] Cneu havia cometido o mesmo erro que todos os generais que já haviam enfrentado César. Em suas campanhas, César sofria dos mesmos problemas que acometiam a todos os militares de seu tempo, especialmente a ineficiência das linhas de suprimento que obrigavam os exércitos em marcha a viveram dos recursos que conseguissem amealhar na região onde estavam. Por conta disto, os exércitos de César estavam sempre vulneráveis a táticas fabianas, ou seja, a táticas que evitavam o confronto direto para forçar a exaustão do exército inimigo.[43] Durante toda a guerra civil, os inimigos de César sempre tinham a vantagem numérica, em terra e no mar, o controle das fortalezas locais, das provisões e do território, mas nenhum deles tentou atacar este ponto mais vulnerável. Nunca recorreram a estratégias de terra arrasada ou ao ataque deliberado aos bandos que buscavam suprimentos; todos cederam e acabaram concedendo a César a batalha campal decisiva que ele tanto buscava.[43]

Batalha

Os dois exércitos se enfrentaram nos "Campus Mundensis", na Bética. O exército pompeiano estava acampado em uma suave elevação, uma posição desfavorável para um ataque de César. As duas forças permaneceram à vista uma da outra por vários dias até 17 de março, o dia que iniciou a batalha.

A batalha se prolongou por um tempo sem vantagem aparentemente para nenhum lado, o que forçou ambos os generais a deixarem suas posições de comando para se juntarem às tropas com o objetivo de levantar o moral. César assumiu o comando da ala direita, onde estava lutando ferozmente a X Equestris, e sua presença levou a um avanço de sua linha. Percebendo a manobra, Pompeu deslocou uma legião de sua ala direita para reforçar a esquerda, um erro fatal, já que o ataque da X Equestris era apenas um ímpeto momentâneo.

Assim que o flanco direito de Pompeu foi enfraquecido, a cavalaria de Césr lançou-lhe um ataque, o que precipitou o desastre para os pompeianos. Ao mesmo tempo, o rei Bogudes da Mauritânia, aliado de César, atacou o acampamento de Pompeu pela retaguarda. Tito Labieno, o comandante da cavalaria pompeiana, percebeu o ataque e seguiu para lá para interceptá-lo. Contudo, os legionários pompeianos, sob um forte ataque da X Equestris pelo flanco esquerdo e da cavalaria pelo direito, entenderam o movimento de Labieno como uma retirada e debandaram em fuga.

Muitos deles morreram durante esta fuga e outros morreram tentando chegar a Munda. Públio Ácio Varo e o próprio Labieno foram mortos, mas Sexto e Cneu Pompeu conseguiram chegar a Córduba, onde se refugiaram.

Eventos posteriores

As cabeças de Varo e Labieno, todas as águias das legiões derrotadas e as armas abandonadas pelos vencidos em fuga foram apresentadas a César.[44] Muitos dos pompeianos se refugiaram na cidadela de Munda e César ordenou que todas as rotas de fuga possíveis fossem bloqueadas com estacas fincadas nos corpos dos mortos.[45] Quinto Fábio Máximo recebeu a missão de conquistá-la e também a vizinha Urso.[44] Nove das treze legiões e todos os auxiliares sobreviventes fugiram para Córduba com os irmãos Pompeu.[46]

Pacificação da província

Os defensores da cidade de Córduba, cientes do grande afluxo de sobreviventes e temendo que os habitantes desertassem para o lado de César, atearam fogo à cidade.[47] Sabe-se que houve conflito aberto entre as duas facções pelo controle da cidade.[48] Quando César chegou, em 18 de março, a cidade não passava de ruínas e não tinha condições de receber seu exército; furiosos por não encontraram nada, os cesarianos massacraram 22 000 "cidadãos de todas as idades".[49] Além disto, os vencedores exigiram que os sobreviventes fossem vendidos como escravos.[47][50] As cidades de Híspalis, Hasta, Carteia e Gades foram subjugadas e as que estiveram envolvidas na revolta tiveram que pagar pesados resgates.[47] Depois de um célebre discurso recriminatório em Híspalis (em abril),[51] César castigou as cidades que se aliaram aos pompeianos reduzindo-as ao status de "municipium civium romanorum" e recompensando as que se mantiveram leais promovendo-as a "coloniæ civium romanorum".[d][53]

Pompeu, o Jovem, tentou fugir com sua frota de Carteia, mas o almirante Caio Dídio zarpou de Gades e obrigou que ele voltasse para a província, onde foi traído pelos habitantes locais perto de Lauro[44] e terminou executado por Lúcio Cesênio Lentão. Sua cabeça foi levada até Gades, apresentada a César[47] e depois levada até Híspalis, onde permaneceu exposta como um aviso aos seus inimigos.[54] Contente com suas vitórias, Dídio decidiu montar acampamento em terra para consertar seus navios, mas acabou emboscado e morto, juntamente com quase todos os seus homens, pelos lusitanos.[55]

A Hispânia foi pacificada apesar da fuga de Sexto Pompeu, que ainda queria vingança. Em junho, César se reuniu com Otaviano em Calpia, perto da moderna Alicante, e, em meados de julho, voltou com ele para Roma,[56] onde chegaram em setembro. César celebrou seu quinto e último triunfo[57][e] e, em 15 de setembro, na villa de Lavico, alterou secretamente seu testamento adotando Otaviano, que era seu sobrinho-neto, e tornando-o seu herdeiro.[59]

Resistência de Sexto Pompeu

César deixou a Hispânia sob o comando de Caio Carrinas, governador da Hispânia Ulterior.[2] Sexto Pompeu, o último grande general pompeiano, escapou de Córduba e se refugiou entre os lacetanos.[60] Graças ao apoio deles, Sexto recrutou um poderoso contingente de guerreiros locais aproveitando do fato de César ter levado consigo boa parte de seu grande exército na volta para a Itália.[61] Depois de anos de guerra, a Hispânia estava a mercê de grupos armados adversários e de bandoleiros que contavam com a geografia montanhosa da região para se esconder, o que dificultava muito o controle dos governantes.[62] Sem muita dificuldade, Sexto venceu a reduzida força de Carrinas, conquistou a Lusitânia e invadiu a Bética no começo de 44 a.C.,[63] onde enfrentou o sucessor de Carrinas, Caio Asínio Polião,[64] que contava com duas legiões veteranas e mais uma formada por recrutas hispânicos.[65][64] Sexto contava com sete legiões[66] e conquistou muitas cidades, o que aumentou seu exército e debilitou a posição do governador cesariano. Seguro de sua capacidade militar, Sexto marchou até Cartago Nova,[67] a mais importante cidade da Hispânia Citerior, aproveitando que Lépido, o governador da província e da Gália Cisalpina, estava ausente.[65]

Este movimento, porém, desguarneceu a Bética e Polião aproveitou a oportunidade para atacar os redutos pompeianos. Quando Sexto voltou para a Ulterior,[68] aparentemente ele já havia conquistado Cartago Nova, onde estabeleceu sua nova capital. Os dois exércitos se encontraram em local desconhecido, possivelmente no vale do Guadalquivir,[65] e, no decorrer da batalha, os cesarianos, acreditando que Polião teria sido morto, se renderam em massa,[69] o que deu a Sexto a vitória e o consequente controle da província.[70]

Lépido saiu de Roma em abril ou maio de 44 a.C. e chegou à Hispânia em junho. Ele imediatamente ofereceu uma anistia a Sexto, o que permitiria que ele voltasse para Roma para reclamar a herança de seu pai.[70] Sexto aceitou e deixou a Hispânia sem ser derrotado.[71] As negociações foram facilitadas pelo ressurgimento dos pompeianos, que consideravam-no um herói. Em agosto ou setembro, Sexto partiu para Massília acompanhado por uma poderosa frota e por um grande exército,[72] possivelmente 6 000 homens,[73] o embrião da força que daria início à Revolta Siciliana.[74]

Sexto contava com forte apoio em Massília, uma cidade que havia sido beneficiada por seu pai[75] e que, por outro lado, havia sido privada por César de seus antigos direitos, de suas armas e máquinas de guerra, de sua marinha e até de seu tesouro pelo apoio dado aos pompeianos.[76] Depois da morte de César, Massília pediu aos seus sucessores que seus direitos fossem restaurados,[76] especialmente sua posição privilegiada no comércio entre a Gália e a Itália; Sexto via os massilianos como possíveis aliados e aguardava o desenrolar dos eventos em Roma para intervir.[75] Confiando na debilidade do governo sucessor de César, Sexto exigiu uma indenização de cinquenta milhões de dracmas e um mandato de procônsul sobre os oceanos,[73] mas seu plano foi frustrado pela ascensão de Otaviano em 43 a.C.[75]

Retorno a Roma

Depois da vitória em Munda e da pacificação da Hispânia, César não enfrentou mais oposição.[77] Ao chegar em Roma, ele assumiu o cargo de ditador perpétuo, mas foi assassinado em 15 de março de 44 a.C. por um grupo de senadores conservadores mais jovens liderados por Marco Júnio Bruto e Caio Cássio Longino; Na época, a facção dos optimates praticamente não tinha apoio, com a notável exceção de Sexto Pompeu. Um por um, os herdeiros políticos de César foram exterminando os culpados pelo assassinato e, com eles, quase todo o partido dos optimates. Sexto Pompeu foi finalmente capturado e executado em 35 a.C. em Mileto.

Otaviano terminaria a obra de seu pai adotivo e converteria a República Romana em um principado em 27 a.C.[78]

Notas

  1. De cinquenta a sessenta mil pompeianos segundo estimativas modernas[8].
  2. Veja o apêndice com a relação dos textos antigos que citam esta campanha, ordenados por localidade, a bibliografia essencial e os principais lugares onde já foi localizada "Munda" (até 1973) no artigo de C. Pemán, "Nuevo ensayo de interpretación de la topografía del «Bellum Hispaniense»", de 1973, publicado postumamente em Gerión I, 1988, pp. 35-80.
  3. Todas as opções, do século XIII até 1861, podem ser consultadas no Apêndice III da "Memoria de los Hermanos Oliver Hurtado"[12].
  4. Segundo uma recente nova tradução e reinterpretação de uma famosa passagem de Dião Cássio, História Romana XLIII, 39, 5[52].
  5. César já havia celebrado triunfos sobre o gaulês Vercingetórix, sobre os númidas de Juba I, sobre a princesa egípcia Arsínoe IV e sobre os pônticos de Fárnaces II. Por respeito, César não triunfou sobre Pompeu e Catão, o Jovem, depois de suas vitórias na Batalha de Farsalos e na Batalha de Tapso, mas não hesitou em exibir seu poder e glória nesta última grande vitória em Munda[58].

Referências

  1. Rendu (1840), pp. 38.
  2. a b c d e f Amela Valverde, 2002: 1897
  3. a b Amela Valverde, 2002: 1778; 1792
  4. a b c d e f g h Tucker, 2009: 128
  5. a b c Marin, 2009: 162
  6. a b c d e f g h i j k Sheppard, 2009: 89
  7. Fields, 2008: 161
  8. Amela Valverde, 2002: 1897
  9. Gabriel, 2002: 18
  10. Beltrán Fortes, 2010: 238
  11. Plínio, História Natural III, 11.
  12. Disponível online
  13. A. Blanco Freijeiro, “La Munda del coronel Stoffel”, anexo a Ategua, Noticiario Arqueológico Hispánico nº 15, 1983, pp. 130-132
  14. "Die Schlacht bei Munda" en Deutsche Zeitschrift für Spanien, 27/10 e 10/11 de 1923 (tradução em espanhol no Boletín de la Academia de Ciencias, Letras y Artes de Córdoba, 1924; e em "Fontes Hispaniae Antiquae" (FHA), tomo V: Las guerras del 72-19 a C., Barcelona, 1940, pp. 136 e ss.)
  15. R. Corzo Sánchez, "Munda y las vías de comunicación en el Bellum Hispaniense", Habis, 4, 1973, pp. 241-252.
  16. V. Durán Recio y M. Ferreiro López, "Acerca del lugar donde se dio la batalla de Munda", Habis, 15, 1984, pp. 229-235 y, M. Ferreiro López, "Acerca del emplazamiento de la antigua ciudad de Cárruca", Habis, 17, 1986, pp. 265-270.
  17. Segura Ramos, Bartolomé (2003). “Munda”. Faventia. Vol. 25, No. 1, pp. 179-183.
  18. a b Sheppard, 2009: 36
  19. a b Mommsen, 1911: 473-474
  20. a b Mommsen, 1911: 473
  21. Roth, 1999: 194
  22. Mommsen, 1911: 473; Sheppard, 2009: 36, 87
  23. Silva, 2013
  24. Sheppard, 2009: 36, 87
  25. a b Sheppard, 2009: 20
  26. Sheppard, 2009: 81
  27. Sheppard, 2009: 86
  28. Sheppard, 2009: 87
  29. Sheppard, 2009: 26
  30. a b Sheppard, 2009: 27
  31. Mommsen, 1911: 474
  32. Soler, 1777: 57
  33. Amela Valverde, 2002: 1791
  34. Amela Valverde, 2002: 1816
  35. Amela Valverde, 2002: 1812, 1899
  36. Amela Valverde, 2002: 1778; 1792; 1812; 1897
  37. Amela Valverde, 2002: 1899
  38. Arrayás Morales, 2006: 184
  39. Soler, 1777: 57-58
  40. Sabau y Blanco, 1817: 300-301
  41. Aldama, 1860: 135
  42. Dodge, 2012
  43. a b Sheppard, 2009: 22
  44. a b c Carcopino, 2004: 517
  45. Sheppard, 2009: 89-90
  46. Amela Valverde, 2002: 1810
  47. a b c d Carcopino, 2004: 518
  48. González de la Llana, 1867: 15
  49. Carcopino, 2004: 518; Madoz, 1847: 647
  50. Madoz, 1847: 647
  51. Novillo, 2011: 264
  52. Alicia M. Canto, Algo más sobre Marcelo, Córduba y las colonias romanas del año 45 a. C., Gerión 15, 1997, págs. 253-282, espec. 276 e ss.
  53. Amela Valverde, 2002: 1928
  54. Sheppard, 2009: 90
  55. Corpus Cesariano, Guerra de Hispania, 40, 1-6
  56. Novillo, 2011: 193
  57. Carcopino, 2004: 518; Sheppard, 2009: 90
  58. Carcopino, 2004: 518-519
  59. Novillo, 2011: 181, 264
  60. Dião Cássio, História Romana XLIII, 10, 1.
  61. Dião Cássio, História Romana XLIII, 10, 2.
  62. Amela Valverde, 2001: 90
  63. Alcalá Galiano, 1844: 48
  64. a b Amela, 2001: 87
  65. a b c Amela, 2001: 88
  66. Cícero, Cartas a Ático XLI, 4, 2.
  67. Dião Cássio, História Romana XLIII, 10, 3.
  68. Dião Cássio, História Romana XLIII, 10, 4.
  69. Dião Cássio, História Romana XLIII, 10, 5
  70. a b Dião Cássio, História Romana XLIII, 10, 6.
  71. Amela, 2001: 89
  72. Apiano, História Romana, Guerras Civis IV, 84.
  73. a b Duruy, 1884: 421
  74. Amela, 2001: 90
  75. a b c Amela, 2011: 94
  76. a b Amela, 2011: 93
  77. Sheppard, 2009: 91
  78. Alajarín, 2011: 40

Bibliografia

  • Alajarín Cascales, Carlos. “Las monedas emitidas en Hispania durante la guerra civil entre Pompeyo y César”. OMNI (Objetos y Monedas No Identificados), no. 3
  • Alcalá Galiano, Antonio (1844). Historia de España desde los tiempos primitivos hasta la mayoría de la Reina doña Isabel II. Tomo I. Madrid: Imprenta de la Sociedad Literaria y Tipográfica.
  • Aldama, Dionisio S. de & Manuel García González (1860). Historia general de España desde los tiempos primitivos hasta fines del año 1860: inclusa la gloriosa guerra de África. Madrid: Manuel Tello.
  • Amela Valverde, Luis (2001). “C. Asinio Polión en Hispania”. Iberia. Revista de Antigüedad . No. 4. Universidad de La Rioja. ISSN 1575-0221.
  • Amela Valverde, Luis (2002). Las clientelas de Cneo Pompeyo Magno en Hispania. Barcelona: Edicions Universitat Barcelona. ISBN 978-8-44752-735-9.
  • Amela Valverde, Luis (2011). “Sobre unos bronces massaliotas y su relación con Sexto Pompeyo”. Acta Numismática. No. 41. Societat Catalana d’Estudis Numismàtics.
  • Arrayás Morales, Isaías (2006). "La instauración del modelo imperial en "Hispania": la obra de César y Augusto". En War and territory in the Roman world: Guerra y territorio en el mundo romano. John and Erica Hedges Ltd., pp. 176-201. Edición de John & Erica Hedges. Coordinación de Antoni Ñaco del Hoyo e Isaías Arrayás Morales. Prólogo de Paul Erdkamp. ISBN 9781841717524.
  • Beltrán Fortes, José; Jorge Maier Allende; Javier Miranda Valdés; José Antonio Morena López & Pedro Rodríguez Oliva (2010). El Mausoleo de los Pompeyos de Torreparedones (Baena, Córdoba): análisis historiográfico y arqueológico. Baena: Real Academia de la Historia. ISBN 9788460651406.
  • De Morales, Ambrosio & Florián de Ocampo (1791). Crónica general de España que continuaba Ambrosio de Morales. Madrid: Librería de Quiroga en la Oficina de Don Benito Cano.
  • Dodge, Theodore Ayrault (2012). Caesar: A History of the Art of War Among the Romans Down to the End of the Roman Empire. Tales End Press. ISBN 9781623580339.
  • Duruy, Victor & Sir John Pentland Mahaffy (1884). History of Rome and the Roman People: From Its Origin to the Establishment of the Christian Empire. Volumen 3. Número 2. Kelly & Company.
  • Fields, Nic (2008). Warlords of Republican Rome: Caesar Versus Pompey. Barnsley: Pen and Sword. ISBN 978-1-78340-364-6.
  • Gabriel, Richard A. (2002). The Great Armies of Antiquity. Westport: Greenwood Publishing Group. ISBN 978-0-27597-809-9.
  • González de la Llana, Manuel (1867). Crónica de la provincia de Córdoba. Madrid: Rubio y Compañía.
  • Jérôme Carcopino (2004). Julio César: el proceso clásico de la concentración del poder. Madrid: Ediciones Rialp. ISBN 9788432135101.
  • Kamm, Antony (2006). Julius Caesar: A Life. Routledge. ISBN 9781134220335.
  • Ligt, Luuk de (2011). "Roman manpower and recruitment during the Middle Republic". En A Companion to the Roman Army. Chichester: John Wiley & Sons. Editador por Paul Erdkamp. ISBN 9781444393767.
  • Madoz, Pascual (1847). Diccionario geográfico-estadístico-histórico de España y sus posesiones de Ultramar. Tomo VI. Madrid: Establecimiento literario-tipográfico de P. Madoz y L. Sagasti.
  • Marin, Pamela (2009). Blood in the Forum: The Struggle for the Roman Republic. A&C Black. ISBN 9781847251671.
  • Mommsen, Theodor (1911). History of Rome: The Revolution. Tomo IV. Nueva York: Charles Scribner's sons. Edición de C. Bryans y F.J.R. Hendy.
  • Novillo López, Miguel Ángel (2011). Breve historia de Julio César. Ediciones Nowtilus. ISBN 9788499670324.
  • Rendu, Victor (1840). Leçons espagnoles de littérature et de morale précédés d'une noticie sur la litterature castillane. París: Librairie Europeenne.
  • Roth, Jonathan P. (1999). The Logistics of the Roman Army at War: 264 B.C. - A.D. 235. BRILL. ISBN 9789004112711.
  • Sabau y Blanco, José (1817). Historia General de España. Tomo II. Madrid: Imprenta de Leonardo Núñez de Vargas.
  • Sheppard, Si (2009) [2006]. César contra Pompeyo. Farsalia. Traduccción inglés-español de Eloy Carbó Ros. Barcelona: Osprey Publishing. ISBN 9788447363797.
  • Silva, Luis (2013). Viriathus: and the Lusitanian Resistance to Rome 155-139 BC. Pen and Sword. ISBN 9781473826892.
  • Soler, Leandro (1777). Cartagena De España Ilustrada: Su Antigua Silla Metropolitana Vindicada Su Hijo S. Fulgencio, Doctor, Y Su Prelado, Defendido. Tomo I. Benedito.
  • Tucker, Spencer C. (2009). A Global Chronology of Conflict: From the Ancient World to the Modern Middle East. Santa Bárbara: ABC CLIO. ISBN 978-1-85109-672-5.