Assassinato de João Hélio


Caso João Hélio

A principal vítima, João Hélio.
Local do crime Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ
Data 7 de fevereiro de 2007
Tipo de crime assalto
assassinato
Vítimas João Hélio Fernandes Vieites
Rosa Cristina Fernandes Vieites
Aline Fernandes
Mortos João Hélio Fernandes Vieites
Réu(s) Carlos Eduardo Toledo Lima
Diego Nascimento da Silva
Carlos Roberto da Silva
Tiago de Abreu Mattos
Ezequiel Toledo Lima
Advogado de defesa Carlos Salles e Celso Queiroz
Promotor José Luiz Ferreira Marques
Juiz Marcela Assad Caram
Local do julgamento 1ª Vara Criminal da Madureira, Rio de Janeiro (Carlos Eduardo, Diego, Carlos Roberto e Tiago) 2ª Vara de Infância e Juventude da Capital, Rio de Janeiro (Ezequiel)
Situação Carlos Eduardo Toledo Lima condenado a 45 anos de reclusão.
Diego Nascimento da Silva a 44 anos e 3 meses de reclusão.
Carlos Roberto da Silva e Tiago de Abreu Mattos condenados cada um a 39 anos de reclusão.
Ezequiel Toledo de Lima condenado a medida sócio-educativa em 3 anos em regime fechado e 2 anos em regime semiaberto.

O caso João Hélio refere-se ao crime ocorrido na noite de 7 de fevereiro de 2007 na cidade do Rio de Janeiro, quando João Hélio Fernandes Vieites (Rio de Janeiro, 18 de março de 2000 – Rio de Janeiro, 7 de fevereiro de 2007), de seis anos de idade, foi assassinado durante um assalto.

João Hélio estava no banco traseiro do carro abordado pelos assaltantes, que era dirigido por sua mãe. Depois de rendê-la e obrigarem-na a sair, os bandidos assumiram a direção e arrancaram com o carro sem que a mãe tivesse tempo de tirar o menino. Ele foi arrastado por várias ruas, preso ao cinto de segurança pelo lado de fora do veículo. O crime teve repercussão nacional e internacional[1] e foi seguido de protestos.

Assalto e assassinato

Em 7 de fevereiro, por volta das 21h30min, Rosa Cristina Fernandes voltava para casa com os filhos Aline Fernandes, de treze anos e João Hélio, de seis. Ao parar seu carro em um semáforo, foi rendida por três homens armados, que a abordaram dando ordem para que eles saíssem do veículo. O assalto ocorreu na rua João Vicente em Oswaldo Cruz, Zona Norte. No veículo estavam uma amiga da família e o filho João Hélio no banco traseiro. A filha adolescente viajava ao lado da mãe no banco dianteiro. No momento do assalto, a mãe, sua filha e a amiga conseguiram abandonar o carro. Ao sair, Rosa percebeu que João Hélio não havia conseguido se soltar do cinto de segurança e tentou soltá-lo. No entanto, os bandidos partiram em alta velocidade com o menino preso pela barriga ao cinto de segurança. João Hélio foi arrastado pelo lado de fora do veículo por sete quilômetros, passando pelos bairros de Oswaldo Cruz, Madureira, Campinho e Cascadura.

Motoristas e um motociclista que passavam no momento sinalizaram com os faróis. Os ladrões ironizaram dizendo que "o que estava sendo arrastado não era uma criança, mas um mero boneco de Judas", e continuaram a fuga arrastando o corpo do menino pelo asfalto. Segundo testemunhas, moradores gritavam ao ver a criança sendo arrastada pelas ruas. Os criminosos abandonaram o carro na rua Caiari, uma via sem saída no bairro de Cascadura, com o corpo do menino pendurado do lado de fora. O corpo do garoto ficou irreconhecível. Durante o trajeto, ele perdeu os dedos das mãos, os joelhos e a cabeça.[2]

A falta de policiais do 9º BPM (Rocha Miranda) nas ruas facilitou a fuga. Nesse percurso, os bandidos trafegaram pelas ruas João Vicente, Agostinho Barbalho, Dona Klara, Domingos Lopes, avenida Ernani Cardoso, Cerqueira Daltro, Florentina, entre outras. No trajeto, passaram em frente ao Quartel de Bombeiros de Campinho, por um quartel do Exército e pelo Fórum de Cascadura, mas não cruzaram com nenhuma viatura da polícia. Os criminosos passaram também, diante a dois bares, um na esquina das ruas Cândido Bastos com a Silva Gomes e outro na rua Barbosa com a Florentina.[3]

Demonstrando serem conhecedores da área, os assaltantes fecharam e abandonaram o carro ao final da rua Caiari, próximo à escadaria que dá acesso à Praça Três Lagoas.[4]

Durante parte do trajeto, os bandidos foram seguidos por um motociclista que presenciou o momento do roubo. Ele levou os policiais até a rua Cerqueira Daltro, próximo a um supermercado. Ali estavam parte da cabeça da vítima e massa encefálica, que foram recolhidas e colocadas em um saco plástico.[2]

Repercussão

Homenagens das escolas de samba

O crime foi lembrado também no Sambódromo, no Centro do Rio. A escola de samba Estácio de Sá, que abriu o desfile do Grupo Especial, entrou pedindo um minuto de silêncio em nome do menino João Hélio. Quinta escola a desfilar pelo Grupo Especial, Mocidade Independente de Padre Miguel, também homenageou João Hélio, antes mesmo de começar o esquenta da bateria. Durante o desfile da Escola de Samba Porto da Pedra, uma faixa foi exposta em memória a João. A comissão de frente da Estação Primeira de Mangueira, com coreografia comandada por Carlinhos de Jesus, também fez lembrança ao menino, estampando seu nome em um painel móvel onde os integrantes formavam palavras.[5][6]

Praça e parque

A prefeitura do Rio também homenageou a família em 12 de fevereiro de 2007. O prefeito César Maia assinou decreto mudando o nome da Praça Três Lagoas, em Cascadura, no subúrbio, para Praça João Hélio Fernandes Vieites. Área fica em local próximo de onde a criança foi encontrada.[7]

Em 3 de dezembro de 2007, foi inaugurado o parque Menino João Hélio, na cidade de Araruama, na Região dos Lagos. O espaço é parte da integração da Praça Antônio Raposo, onde funciona um complexo cultural e de lazer, ao Hotel Parque Araruama. Contando com uma área de 82 mil metros quadrados, possui diversas obras de esculturas que homenageiam João Hélio desde o seu nascimento até os 6 anos.[8]

Nota da UNODC

O Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC) divulgou uma nota em 15 de fevereiro, em que manifesta pesar pela morte do menino João Hélio Vieites, no Rio de Janeiro. O documento, entretanto, destacava que o simples aumento de penas não resolverá os problemas da violência, que estão ligados a questões sociais.[9]

Julgamento

Condenação

Em 30 de Janeiro de 2008, quatro dos cinco acusados pelo crime foram condenados por latrocínio, combinado com o artigo 9º da Lei de Crimes Hediondos, a penas que variam de 39 a 45 anos de prisão. Somadas, as penas totalizaram 167 anos de reclusão. Na sentença, a juíza Marcela Assad Caram, da 1ª Vara Criminal de Madureira, afirmou que "seria muita inocência" acreditar que os três jovens que estavam no interior do carro "trafegando com os vidros dianteiros do veículo roubado abertos, não ouviam o barulho alto produzido pelo constante atrito do corpo da pequena vítima contra o solo e a lataria do automóvel". Carlos Eduardo Toledo Lima foi condenado a 45 anos de prisão, Diego Nascimento da Silva a 44 anos e três meses, Carlos Roberto da Silva e Tiago de Abreu Mattos foram sentenciados cada um com 39 anos de prisão. Apesar da decisão da juíza, mesmo com penas entre 39 e 45 anos, constitucionalmente, o cumprimento das penas dos réus não excederá o tempo máximo de 30 anos. A decisão é em primeira instância e, portanto, ainda cabia recurso.[10]

Liberdade

Ezequiel Toledo de Lima, irmão de Carlos Eduardo, foi condenado pela 2ª Vara de Infância e Juventude da Capital a cumprir sócio-educativa em uma instituição de jovens infratores. Após cumprir três anos em regime fechado, foi beneficiado com a progressão de regime no dia 8 de fevereiro de 2010 e foi inscrito no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) do governo federal.[11] A inclusão de Ezequiel foi solicitada através de petição da ONG Projeto Legal, assinada pelos advogados Carlos Nicodemos, presidente da ONG, e Ana Utzeri.[12]

Após protestos contra a inclusão de Ezequiel no PPCAAM, o Ministério Público entrou com uma representação solicitando a anulação da inclusão de Ezequiel no PPCAAM, alegando irregularidades na inclusão pelo fato de não ter sido consultado.[13] Em audiência no dia 24 de fevereiro de 2010, o juiz Marcius da Costa Ferraz decidiu pela exclusão de Ezequiel do PPCAAM e o retorno ao cumprimento de medida socioeducativa em regime semiaberto por dois anos[14] no Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Adolescente (CRIAAD) de Conselheiro Paulino, distrito de Nova Friburgo.[15]

Em abril de 2011 Ezequiel voltou às ruas após decisão do juiz Marcius da Costa Ferreira concedendo-lhe o benefício de liberdade assistida.[16] Ezequiel foi preso em 20 de março de 2012 no município de Iguaba Grande, no estado do Rio de Janeiro, acusado dos crimes de posse ilegal de arma de fogo, tráfico e associação para o tráfico, receptação e corrupção ativa.[17] Ezequiel Toledo de Lima foi preso novamente em maio de 2019, sob acusação de furto.[18]

Ver também

Referências

  1. «6-Year-Old Brazilian Dragged to Death During Car Theft» (em inglês). Fox News 
  2. a b «VEJA on-line». veja.abril.com.br. Consultado em 6 de maio de 2012. Arquivado do original em 23 de dezembro de 2012 
  3. «Memória: João Hélio Morreu Após ser Arrastado Preso ao Cinto de Segurança na Zona Norte». oglobo.com. 6 de agosto de 2007. Consultado em 25 de setembro de 2011. Arquivado do original em 18 de dezembro de 2007 
  4. «Nunca Mais!». OGlobo.com. 13 de fevereiro de 2007. Consultado em 25 de setembro de 2011. Cópia arquivada em 14 de julho de 2012 
  5. Folha de S.Paulo, ed. (19 de fevereiro de 2007). «Mangueira e Estácio abrem desfile em tom emotivo». Consultado em 7 de novembro de 2024 
  6. Alba Valéria Mendonça (19 de fevereiro de 2007). G1, ed. «MOCIDADE TRAZ FAIXA LEMBRANDO MENINO JOÃO HÉLIO». Consultado em 7 de novembro de 2024 
  7. Fernanda Pontes (12 de fevereiro de 2007). Extra (jornal), ed. «Praça de Cascadura se chamará João Hélio Fernandes Vieites». Consultado em 7 de novembro de 2024 
  8. «Inauguração Parque Menino João Hélio na cidade de Araruama» 
  9. a b G1, ed. (15 de fevereiro de 2007). «EM NOTA, ESCRITÓRIO DA ONU LAMENTA MORTE DE JOÃO HÉLIO». Consultado em 7 de novembro de 2024 
  10. «Folha Online - Cotidiano - Juntos, acusados por morte de João Hélio são condenados a 167 anos de prisão - 30/01/2008». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 6 de maio de 2012 
  11. «Um dos assassinos de João Hélio é solto e participa de programa de proteção a menores - O Globo». oglobo.globo.com. Consultado em 6 de maio de 2012 
  12. «Proteção a jovem é reavaliada». odia.terra.com.br. Consultado em 6 de maio de 2012 [ligação inativa] 
  13. «MP não foi consultado na inclusão de assassino de João Hélio em programa de proteção». odia.terra.com.br. Consultado em 6 de maio de 2012. Arquivado do original em 24 de fevereiro de 2010 
  14. «Justiça decide devolver assassino de João Hélio ao regime de semi-liberdade - O Globo». oglobo.globo.com. Consultado em 6 de maio de 2012 
  15. «Câmara faz manifesto para tirar assassino de João Hélio da cidade - AVS Nova Friburgo». www.avozdaserra.com.br. Consultado em 6 de maio de 2012 
  16. «Jovem envolvido na morte de João Hélio ganha liberdade assistida no RJ». g1.globo.com. 14 de abril de 2011. Consultado em 5 de janeiro de 2013 
  17. «Condenado por morte de João Hélio é preso por outro crime, diz polícia». g1.globo.com. 20 de março de 2012. Consultado em 5 de janeiro de 2013 
  18. «Homem envolvido no caso João Hélio é preso por suspeita de furto a sítio no interior do RJ». G1. Rede Globo. 9 de maio de 2019. Consultado em 31 de julho de 2019. Cópia arquivada em 9 de maio de 2019 

Ligações externas