Amélia Cardia dos Santos Costa nasceu a 1 de novembro de 1855, na freguesia dos Mártires, em Lisboa. Era filha do tabelião Francisco António da Costa e de Justa Matilde de Carvalho, parteira diplomada pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e irmã da parteira da Família Real Portuguesa, Alice Rosa da Assunção Costa (1850-1908), que assistiu ao nascimento dos Príncipes D. Luís Filipe e D. Manuel. Recebeu o apelido Cardia de sua madrinha de baptismo, Maria Teresa Cardia.[5][1]
Amélia Cardia viveu num internato até aos 14 anos de idade, idade em que saiu para casar. A 20 de agosto de 1870, na Igreja dos Mártires, ao Chiado, casou com o comerciante, negociante e corretor José Joaquim Barbosa da Costa, natural de Lisboa e 28 anos mais velho que Amélia, tinha, portanto, 42 anos à data do casamento e Amélia, apenas 14. Desta união nasceu apenas um filho, Manuel da Costa Cardia (1884-1903), jornalista, que se suicidou aos 19 anos.[6][1][7]
A 12 de outubro de 1883 matriculou-se na Escola Politécnica de Lisboa, na classe de aluno ordinário e, até julho de 1887, frequentou e obteve aprovação em cinco disciplinas, finalizando o curso secundário, já casada. Matriculou-se na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa a 15 de outubro de 1886, com 30 anos. A sua entrada na Escola mereceu algumas críticas de jornalistas na imprensa nacional e regional, a que Amélia Cardia respondia com argumentos imbatíveis. Enquanto frequentava o 4.º ano de Medicina, foi criado o internato nos Hospitais onde foram trabalhar os quintanistas Câmara Pestana e Moreira Júnior. No ano seguinte, juntou-se-lhes Amélia Cardia que mereceu, pelo seu desempenho, uma portaria de Louvor da Direcção Hospitalar no fim do curso que concluiu, com alta classificação, a 20 de julho de 1891, com 36 anos. Um jornal da época faz referência ao facto em tom jocoso, demonstrando bem a forma de pensar da sociedade da época e a forma como eram vistas as mulheres que lutavam pela igualdade de género. Na legenda da rubrica Homens da Semana pode ler-se: "Figura, no reino das mulheres mais uma clinica, a primeira facultativa portugueza: D. Amelia Cardia, que agora deffendeu these na Escola Medica, e se acha habilitada, legalmente, para remediar os que soffrem. Muita clientela - é o que desejamos a V. Ex.ª, doutora...". A 30 de abril de 1893, enviuva de seu primeiro marido, que falece aos 64 anos, em Lisboa, na freguesia da Encarnação.[8][1][9]
Foi das primeiras senhoras que se formaram em Medicina em Portugal, a primeira em Lisboa, e ficou célebre a sua tese de DoutoramentoA Febre Hysterica. Dedicou-se ao estudo das doenças nervosas, o que a levou a interessar-se pelo hipnotismo e histeria. Visitou hospitais no estrangeiro e adquiriu conhecimentos e material para o consultório modelo que montou na Praça Luís de Camões, em Lisboa, onde as consultas eram gratuitas aos sábados, sendo muito procurada pelo sexo feminino.[1]
Teve mais um filho, Pedro Cardia da Silva Coutinho (1896-1958), que foi primeiramente baptizado como filho de pais incógnitos, visto ser filho ilegítimo de Amélia Cardia e de Alfredo da Silva Coutinho, tendo o progenitor só reconhecido a paternidade do filho em 1923. Pedro Cardia iniciou-se como latoeiro, tornando-se mais tarde agente comercial e gerente da Sociedade de Pneus e Lubrificantes, casando em 1912, aos 16 anos, com Inês Ferreira Pinto do Couto (1872-1967), parteira, natural de Miragaia e 24 anos mais velha que o esposo, tendo-se tratado, provavelmente, de um casamento arranjado.[1][10][11]
A 15 de julho de 1901, na Igreja da Encarnação, ao Chiado, casou com o funcionário público Francisco de Azevedo Coutinho, natural de Lisboa e 12 anos mais novo que Amélia, tendo, à data do casamento, 33 anos e Amélia, 45.[12] Mais tarde irá casar, depois de enviuvar novamente, com José Alves Ribeiro Tróni, falecido em 1924.[13]
Em 1908, construiu um prédio para fundar uma casa de saúde na Estrela, onde operavam os cirurgiões mais ilustres de Lisboa e continuaram as consultas gratuitas. Dedicou muito do seu tempo à clínica de senhoras. Dirigiu a Casa de Saúde durante oito anos, até que deixou de exercer clínica. Estava, então, disponível para se dedicar aos estudos espíritas e filosóficos que a vinha interessando desde há muito tempo. Fez parte da Liga Nacional contra a Tuberculose e da Associação das Ciências Médicas, onde lutou por um acesso mais fácil das mulheres à Medicina.[1]
Publicou diversos escritos em periódicos na sua área e não só, como folhetins nas páginas do Diário de Notícias, e os romances A Judia, Episódios da Guerra (contos), Na Atmosfera da Terra, de cariz neo-espiritualista, e Pecadora: romance psicológico (1934). Também se encontra colaboração assídua da sua autoria na revista Illustração Portuguesa, O Século, Revista de Espiritismo, tendo dirigido o periódico O Mensageiro Espírita, colaborando com inúmeras figuras femininas da época. Foi uma das fundadoras da Federação Espírita Portuguesa.[14]
Amélia Cardia falece a 30 de abril de 1938, aos 82 anos, na sua residência, em Lisboa, freguesia de São Jorge de Arroios, no rés-do-chão do número 67 da Rua de Passos Manuel, vítima de síncope cardíaca, sendo sepultada no Cemitério do Lumiar, em Lisboa.[13]