Introduzida na Europa no século XVIII, a planta é cultivada em regiões livres de geadas intensas para fins ornamentais, geralmente em bermas de caminhos e estradas e em taludes. Também é utilizada como planta envasada para decoração de interiores.
Apresenta fortes semelhanças com diversas espécies do género Hippeastrum, da América tropical, cujas flores são comercializadas sob o nome comum de amarílis.
Nomes comuns
Além de «amarílis», esta espécie dá ainda pelos seguintes nomes comuns: beladona-falsa[4], beladona-bastarda[5] e amarílide.[6]
O nome genéricoAmaryllis foi adoptado por Lineu, com base no étimo latino Ămăryllis[7], que constitui um nome convencional de camponesa, usado nas Éclogas de Virgílio[8], bem como em obras de Teócrito e Ovídio.[9] Este nome próprio, por seu turno provém do étimo grego clássico αμαρυσσω[10] (latinizado como amarysso), que significa «cintilante; reluzente; deslumbrante».[9]
O epíteto específico, belladonna, foi usado pela primeira vez por Andrea Mathioli, no séc. XVI, para aludir à erva de beladona.[11] Trata-se de uma aglutinação dos étimos latinos belle[12], que significa «bonito; bem-feito; harmonioso», e donna, do italiano clássico, que significa «dama, senhora».[13] Esta designação vinha por alusão à utilidade cosmética, associada à beladona, cujo sumo era usada no Renascimento, como um colírio cosmético, dilatando as pupilas das damas.[11]
Quanto aos nomes comuns: «amarílide» trata-se de uma aportuguesamento do nome genérico[6], ao passo que os nomes comuns «beladona-falsa»[14] e «beladona-bastarda»[5] existem por alusão ao epíteto específico, que por seu turno serve para fazer menção das semelhanças desta espécie com a Atropa belladonna.[14]
Descrição
A planta desenvolve-se a partir de um bolbo arredondado, semelhante a uma cebola, de 5 a 10 cm de diâmetro, revestido por escamas acastanhadas. O bolbo instala-se próximo da superfície do solo e apresenta taxa de crescimento moderada, mantendo-se activo durante múltiplos anos. O bolbo permanece em dormência durante o verão, perdendo as folhas e escapos florais logo que se desenvolvem condições de secura no solo. O bolbo é tóxico quando ingerido por humanos devido à presença de diversos alcalóides, entre os quais licorina, o qual afecta o coração, pelo que se os bolbos forem ingeridos em quantidade podem ser fatais.[15]
As folhas são simples, de coloração verde a verde-escuro, baças, lineares a sublanceoladas, paralelinervadas, com 30 a 50 cm de comprimento e 2 a 3 cm de largura, com desenvolvimento basípeto, agrupadas em duas filas opostas. As folhas surgem no final do outono, após o fim da estiagem, e secam no final da primavera, o que marca a entrada em dormência do bolbo. O bolbo permanece em dormência até às primeiras chuvas, quebrando a latência com a emissão do escapo floral, o que precede em algumas semanas o aparecimento das folhas.
As flores surgem numa inflorescênciaumbeliforme instalada sobre um escapo floral com até 60 cm de altura a partir do solo, de consistência herbácea, oco, liso e de cor castanho-avermelhado brilhante. Cada inflorescência pode conter até 9-12 flores, agrupadas em trímeros rodeados por brácteas, e tende a orientar-se na direcção em que recebe mais radiação solar. A floração tende a ocorrer entre Setembro e Outubro.[14]
As flores têm formato de trombeta, com até 10 cm de comprimento e corola com 8 cm de diâmetro[14], exibindo uma alargada paleta de colorações que vai desde o rosa, o branco e o vermelho até ao lilás ou ao alaranjado. Embora a maioria das flores apresente cores pálidas, inicialmente tendendo para o rosa-claro, escurecem para o rosa-escuro ou vermelho com o envelhecimento. Existem cultivares com coloração floral mais acentuada, incluindo tons de lilás e de alaranjado. A flor emite um odor agradável, mais intenso ao anoitecer. As flores são hermafroditas, com os 6 estames e estilete fortemente encurvados para cima.
A forma mais comum de cultivo é através do transplante de bolbos, o que deve ser feito na primavera, quando estes iniciam a sua fase de dormência. O plantio é feito em covetas estreitas e profundas para facilitar o enraizamento. O solo ideal para o crescimento desta planta é uma mistura de terra de jardim e solo mineralizado.
A cultura não necessita de quaisquer cuidados, podendo manter-se indefinidamente sem qualquer intervenção humana. Contudo, em regiões sujeitas a geadas, há que ter em atenção a sensibilidade das gemas dos bolbos à congelação, pois se esta danificar a gema o bolbo degenera e morre. Nessas regiões, para evitar os danos pelo frio, os bolbos devem ser recobertos com palhas, manta morta ou detritos vegetais.
A planta é resistente à secura, permanecendo dormente até a humidade no solo permitir o seu desenvolvimento. Por essa razão apenas necessita de rega em situações de secura extrema ou quando ocorram secas outonais ou invernais após chuvas que tenham quebrado a dormência.
As necessidades de luz variam segundo a época do ano, mas a espécie prefere locais bem expostos ao sol, preferencialmente em taludes voltados para o equador ou em zonas bem drenadas e despidas de vegetação de grande porte que possa causar ensombramento. Apesar disso tolera alguma sombra, embora perca vigor e reduza a floração.
Toxicidade
Todas as partes da planta contêm alcalóides tóxicos, sendo que a maior concentração ocorre no bolbo e nas sementes. O principal alcalóide presente é a amelina, mas também estão presentes em concentração significativa os alcalóides licorina (o principal tóxico para os humanos), caranino, acetilcaranino e undulatin. Algumas fontes apontam a licorina como o principal alcalóide. Poderão existir diferenças regionais e sazonais na concentração relativa dos diversos alcalóides. As espécies do género Hippeastrum contêm alcalóides similares.
Dada a sua toxicidade, extractos da planta foram utilizados como veneno, incluindo para envenenar flechas e outras armas perfurantes.
Em humanos, os sintomas de envenenamento incluem náuseas, vómitos, tonturas e sudorese. Também pode ocorrer diarreia e insuficiência renal. Na intoxicação grave, a morte ocorre por insuficiência respiratória.
Os alcalóides presentes em A. belladonna são citotóxicos, razão pela qual são classificados como «muito tóxicas» (classe de toxicidade Ib). Já foi documentada a morte de crianças africanas após o consumo de bolbos. O LD50 para ratos é de 5 mg/kg de peso corporal quando em aplicação intraperitoneal. Foi demonstrado que a ingestão de 200 g de material fresco do bolbo é letal para ovelhas. Para pessoas uma dose de 2-3 g de material fresco do bolbo pode ser mortal.[17]
Para cães, o LD50 da licorina pura é de 41 mg/kg de peso corporal, sendo o alcalóide citotóxico, com efeito emético e diurético.
A amelina tem uma eficácia analgésica comparável à morfina, mas o alcalóide é considerado demasiado tóxico para utilização em medicina.
Em caso de intoxicação, como medida imediata de primeiros socorros e terapia clínica deve ser induzido o vómito, a que se deve seguir a a administração de carvão activado e sulfato de sódio, acompanhado de abundante ingestão de líquidos, especialmente chá. Ao mesmo tempo deve ser realizada a profilaxia necessária para evitar a entrada em choque.
No tratamento clínico é usada a lavagem gástrica, possivelmente recorrendo a uma solução de permanganato de potássio. Além disso, é aconselhável a administração de um electrólito de reanimação e o tratamento da acidose com bicarbonato de sódio. Além disso, é necessário o controlo da função renal. Caso ocorram cólicas pode ser administrado um diazepam. Em caso de intoxicação grave é necessária a intubação e a ventilação mecânica.
Em termos de naturalidade é introduzida nas duas regiões atrás referidas.
Protecção
Não se encontra protegida por legislação portuguesa ou da Comunidade Europeia.
Propriedades medicinais
Vários compostos foram encontrados em bulbos de A. belladonna, incluindo, 1,4-dihidroxi-3-metoxi powellan, que é um alcalóide. Observou-se que os alcalóides deste bulbo vegetal têm propriedades para combater a malária causada por P. falciparum.
↑Morell, Thomas (1823). Thesaurus linguæ latinæ compendiarius (em latim). [S.l.]: C.&J. Rivington. p. 124. 1150 páginas. Ămăryllis, lidis, f.The name of a country girl mentioned by Theocritus and from him by Virgil, Ecl. 1 !CS1 manut: Data e ano (link)
Wink, Michael; Ben-Erik van Wyk; Coralie Wink, Handbuch der giftigen und psychoaktiven Pflanzen, Wissenschaftliche Verlagsgesellschaft, Stuttgart, 2008. ISBN 3804724256