O acidente do Curtiss C-46 prefixo PP-VCF em 1957 foi um acidente aéreo ocorrido em 7 de abril daquele ano, no aeroporto de Bagé, no Rio Grande do Sul. O acidente causou a morte de todos os quarenta ocupantes do avião.[1][2][3]
Aeronave
O Curtiss C-46 Commando foi desenvolvido entre 1937 e 1940 para ser uma aeronave de transporte de 24 a 34 passageiros. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi largamente utilizado como transporte de tropas e material bélico, tendo sido produzidos mais de 3 mil exemplares. Após o fim da guerra, a maior parte foi vendida pelo governo dos Estados Unidos como material excedente de guerra para dezenas de empresas aéreas do mundo que o converteriam para transporte de passageiros e, sobretudo, carga. A Viação Aérea Rio Grandense (VARIG) adquiriu 22 aeronaves Curtiss C-46 que operariam entre 1948 e 1971. Nove aeronaves seriam repotencializadas, recebendo os motores Pratt & Whitney R-2800-83 AM4 de 2100 hp (enquanto os motores originais ,Pratt & Whitney , R-2800-75, possuíam apenas 2000 hp) e seriam renomeadas Super 46C[4]. A aeronave acidentada foi fabricada em 1944 e recebeu o número de série 30283. Ao chegar ao Brasil, a aeronave recebeu o prefixo PP-VCF.[5]
Acidente
O Curtiss C-46 faria a rota Livramento – Bagé - Porto Alegre. Composto por uma tripulação de 5 membros formada pelo piloto Fernando Silva Leandro, co-piloto Antônio Aniceto Silva Filho, radiotelegrafista Joésio Cruz e comissários Nicanor Ferreira e Dietrich Engl, transportava 35 passageiros[6]. Após decolar do Aeroporto de Santana do Livramento às 8h00 min, chegou a Bagé. Por volta das 8h30 min decolou rumo a Porto Alegre[7]. Três minutos após a decolagem ,a tripulação declarou emergência à torre do Aeroporto de Bagé, causada por fogo no motor esquerdo. Durante o retorno ao aeroporto de Bagé, a tripulação combateu o fogo utilizando os 4 extintores de emergência do motor. Durante a primeira tentativa de aterrissagem, a tripulação do Curtiss, foi informada que o trem de pouso não havia sido completamente baixado, o que colocaria em risco os tripulantes e passageiros por conta do risco de incêndio. Por conta desse problema o pouso seria abortado e uma nova tentativa seria executada, de forma que o incêndio parecia ter sido controlado e o pouso de emergência ocorreria apenas por precaução. [7].
Antes de executar a segunda tentativa, a aeronave perdeu a asa esquerda e caiu sobre a pista do aeroporto, explodindo logo em seguida. A queda e o incêndio posterior mataram todos os ocupantes da aeronave, apesar de todos os esforços das equipes de resgate em combater o incêndio. Liberato Salzano Vieira da Cunha era um dos passageiros do PP-VCF [8][9] e sua morte causou grande comoção no Rio Grande do Sul. Jornalista, político e diplomata, exercia o cargo de Secretário de Educação do Rio Grande do Sul até a data de sua morte. [7].
Consequências
O inquérito apontou que o motor esquerdo não havia sofrido danos, de forma que o incêndio havia sido originado na região inferior da asa localizada entre o motor e a fuselagem. Esse ponto era completamente invisível à tripulação, que ao ver envolvida a asa e o motor esquerdo pelo fogo, julgou se tratar um incêndio no motor, acionando os extintores de incêndio do motor.[7].
O Curtiss C-46, assim como muitas aeronaves de sua época, havia sido projetado para operar tanto em aeroportos modernos quanto em pistas improvisadas de terra batida. Por conta das chuvas, a terra batida se transformava em lamaçal, impossibilitando as operações de pouso e decolagem. Para impedir esses problemas, muitos aeroportos rústicos e ou pequenos aeródromos de terra batida recebiam finas camadas de cascalho e ou pedregulhos, que diminuíam os efeitos das chuvas sobre a terra batida. Os aeródromos gaúchos da época não eram exceção, e também recebiam esse tratamento viário. A comissão de investigação, baseada em evidências, descobriu que durante pousos e decolagens em pistas revestidas com pedregulhos e cascalho, as rodas do trem de pouso da aeronave projetavam pedregulhos e cascalho para dentro do compartimento do mesmo. As pedras pontiagudas poderiam romper dutos de combustível (desgastados pela ação do tempo[6]). Feitos de duralumínio, esses dutos interligavam os tanques de combustível das asas. O combustível que jorrava desses dutos danificados se acumulou na asa (que nos primeiros modelos do C-46 não possuía drenos para expelir esse combustível que vazara) e jorrou sobre o escapamento do motor, inflamando-se rapidamente. As chamas atingiram a longarina principal da asa esquerda, que não resistira ao calor intenso, desprendendo-se da fuselagem e causando o desastre.[7].
O Curtiss C-46 sempre foi tido como avião problemático, devido ao desempenho sofrível , principalmente em voo monomotor(sendo que diversas companhias aéreas substituíram os motores originais motores originais Pratt & Whitney R-2800-75 de 2000 hp pelos Pratt & Whitney R-2800-83 AM4 de 2100 hp) seu alto consumo de combustível e aos frequentes vazamentos ocorridos nos tanques localizados nas asas. Diversas aeronaves sofreram incêndios ou quedas misteriosas[7]. até que fosse descoberta a fragilidade do sistema de dutos de combustível, fabricado em duralumínio. A falta de drenos nas asas (corrigido em versões posteriores da aeronave), causava um acúmulo de combustível que vazava desses dutos, transformando a asa numa bomba relógio, que poderia ser detonada à qualquer momento por uma fagulha.
Após o acidente, a Varig implantou drenos nas asas dos seus Curtiss e substituiu todos os dutos de duralumínio por dutos similares de aço inoxidável [7]. As pistas do aeroporto de Bagé receberam pavimento de concreto somente em meados dos anos 1960. Os últimos Curtiss C-46 da Varig foram substituídos em 1971 pelo Hawker Siddeley HS 748.[4]
Bibliografia
SILVA, Carlos Ari Cesar Germano da; O rastro da bruxa: história da aviação comercial brasileira no século XX através dos seus acidentes; Porto Alegre Editora EDIPUCRS, 2008, pp 190-193.
↑ abcdefgSILVA, Carlos Ari Cesar Germano da (2008). O rastro da bruxa: história da aviação comercial brasileira no século XX através dos seus acidentes. [S.l.]: Editora EDIPUCRS, Porto Alegre. pp. 153–158. ISBN978-85-7430-760-2