Primeira voz feminina, registrada pelos historiadores, a se expressar na poesia brasileira diante dos intelectuais da época, Ângela do Amaral Rangel era cega de nascimento e deixou fama de talento. Foi a única mulher a participar da Academia dos Seletos onde, em 1752, quando foi recebida entre as mais altas figuras do estado (juízes, médicos, eclesiastas de categoria, etc.), que formavam o especial grupo dos Seletos- fato raríssimo de acontecer com qualquer figura do sexo feminino.
Filha de Antônio Marcos Vale e Custódia Rangel, representantes de uma família ilustre no Rio de Janeiro, as informações a respeito de sua vida de tal maneira são escassas que não é possível sequer identificar com precisão a data de seu falecimento.
Cega de nascimento, sendo conhecida como Ceguinha, compôs sonetos e romances líricos em espanhol em louvação a pessoas gradas. O fato de alguns poemas seus terem sido incluídos na antologia Júbilos da América (que a Academia dos Seletos dedicou ao governador do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, e foi editada em Lisboa, em 1754), deu a Ângela Rangel a oportunidade de sobreviver na memória da literatura brasileira.
Estilo
Segundo a crítica, apesar de seu artificioso cultismo do claro-escuro, a poetisa revela em seu diminuto acervo, capacidade de versificar corretamente e com alguma espontaneidade. Vale a pena notar que seus poemas apresentam uma linguagem singela, direta e profundamente melodiosa, deixando fluir uma certa erudição, elogiada por intelectuais seus contemporâneos.
Embora alguns estudiosos de literatura não lhe reconheçam grandes méritos, é incontestável que a sua existência é um fato notável, digno de registro, numa sociedade em que as mulheres eram mantidas, por via de regra, na ignorância absoluta e quando não havia meios de viabilizar uma instrução pública aos que eram privados da visão.