Wu wei (chinês tradicional: 無為 - wúwéi; chinês simplificado: 无为; traduzido para o português, significa não ação[2]) é o princípio prático central da filosofia taoista. Corresponde a um modo de viver que tem, por objetivo, reconquistar um estado de harmonia perfeita com o Tao (o princípio oculto que rege o universo, segundo a filosofia taoista). É um modo de viver que consiste em não fazermos nada de "artificial", convencional ou exclusivamente voluntário, e em nos comportarmos sem tentarmos forçar as coisas a serem como desejamos, ou seja, em termos uma conduta completamente serena, sem esforço e sem tensão, sem interferência no curso natural dos acontecimentos.[3] Em outras palavras, consiste em se evitar qualquer ação desnecessária.[2]
Wu pode ser traduzido por "não", "nunca", "sem", "nada", "vazio" ou "não existência"; wei pode ser traduzido por "fazer", "agir", "servir como", "governar". O significado literal de wuwei pode, portanto, ser traduzido como "sem acção" ou "sem agir" e é, muitas vezes, incluído na expressão paradoxal wei wu wei (爲無爲 ou 为无为): "ação sem ação" ou "agir sem agir".
Se entendermos bem a natureza das coisas e conseguirmos esquecer tudo o que aprendemos que tenta ir contra ela, conseguimos fazer tudo o que é possível, com o mínimo esforço. Porque acabamos por deixar as coisas seguirem o seu curso natural. Não fazemos nada (claramente por nossa vontade própria) mas nada fica por fazer.
Na busca do conhecimento, todos os dias algo é adquirido,
Na busca do Tao, todos os dias algo é deixado para trás.
E cada vez menos é feito
até se atingir a perfeita não ação.
Quando nada é feito, nada fica por fazer.
Domina-se o mundo deixando as coisas seguirem o seu curso.
Devemos agir de acordo com a nossa vontade apenas dentro dos limites da nossa natureza e sem tentar fazer o que vai para além dela. Devemos usar o que é naturalmente útil e fazer o que espontaneamente podemos fazer sem interferir na nossa natureza. E não tentar fazer aquilo que não podemos fazer ou tentar saber aquilo que não podemos saber. A felicidade é essa "não ação" perfeita (wu wei 無為 ).
Para conseguirmos entender o curso natural das coisas e seguirmos o Caminho, temos que conseguir desaprender muitos conceitos. Para os podermos desaprender, é preciso que, antes, os tenhamos aprendido. Mas temos que passar a um estado muito parecido com o estado inicial em que estávamos antes de o termos aprendido.[3]
Se abrirmos os olhos de repente, há um brevíssimo momento durante o qual o nosso cérebro ainda não analisou o que está a ver. Ainda não distinguiu as cores e as formas nem decodificou o que se está a passar à nossa frente. Os taoistas procuram viver o mais perto possível desse estado. É uma renúncia à análise, sempre imperfeita, da realidade.
A coisa mais macia e flexível no universo
Consegue vencer a coisa mais dura.
E só o que não tem substância
pode entrar onde não há uma fenda por onde entrar.
↑WU, J. Tai chi chuan: a alquimia do movimento. 5ª edição. Rio de Janeiro. Mauad. 2010. p. 26.
↑ abBLOFELD, J. Taoismo: o caminho para a imortalidade. p. 24.
↑ abAntónio M. de Campos, Tao Te King - Livro do Caminho e do Bom Caminhar (tradução direta do Chinês para o Português, comentários, introdução à filosofia taoista, glossário completo de caracteres). Editora Relógio d'Água, 2010.