Wilfred Edward Salter Owen (Plas Wilmot, Shropshire, 18 de março de 1893 – Batalha de la Sambre, 4 de novembro de 1918) foi um poeta e militar inglês. Estudou nas Universidades de Liverpool e Londres, e veio a morrer em combate, sete dias antes do armistício. As suas elegias sobre a guerra — Poems — publicadas por S. Sassoon, um de seus amigos mais próximos,[1] em 1920, revelam-nos um poeta, na linha de Keats, de gosto depurado e pleno de autenticidade, que veio a exercer um fascínio decisivo na poesia inglesa da década de 30. Alguns dos seus poemas inspiraram o War Requiem de B. Britten.
Infância e juventude
Wilfred Owen nasceu em 18 de março de 1893, em Plas Wilmot, perto de Oswestry, em Shropshire. Ele era o filho mais velho de Thomas e Harriet Susan Owen. Tinha três irmãos mais novos: Mary (nascida em 1896), Harold (nascido em 1897) e Colin (nascido em 1900). A família vivia confortavelmente até a morte do avô de Owen, Edward Shaw, e a situação financeira os obrigou a vender a casa e se mudar para Shrewsbury, onde Harold nasceu. Em 1900, a família se mudou para Birkenhead, onde Colin nasceu e onde Wilfred e Harold estudaram em Birkenhead Institute Grammar School. Eles se mudaram de volta para Shrewsbury em 1907.[2]
A família era muito religiosa, seguindo o Anglicanismo; Wilfred era especialmente devoto, principalmente por causa de seu relacionamento próximo com a mãe. Outro importante interesse seu era o Romantismo, especialmente poetas como Keats. Seus poemas continham inúmeras referências à Bíblia e a Keats e Shelley.
Em 1911, Owen fez a prova para ser aceito na Universidade de Londres, mas, apesar de ter passado, não atingiu a pontuação necessária para conseguir uma bolsa de estudos.[3]
Wilfred morou em Dunsden entre 1911 e 1913, onde era assistente de um reverendo, com o intuito de conseguir dinheiro o suficiente para pagar a universidade. Em Dunsden, Owen conheceu doentes, analfabetos e pessoas sofrendo com pobreza e outros males.[4] Isso despertou em Owen a compaixão por aqueles que sofrem e abalou sua fé, ao ver a Igreja falhar em ajudar seus fiéis necessitados. Tal compaixão se fortaleceria durante a guerra. Além disso, Owen começou a escrever poesia.[5]
Depois de sair de seu trabalho com o reverendo até se alistar em 1915, Owen morou na França, trabalhando em Bordeaux como professor de inglês e francês e depois como tutor dos dois filhos de uma família cristã francesa. Por causa de seu tempo na França, Owen desenvolveu um interesse na cultura francesa e conheceu e passou a escrever ao poeta Laurent Tailhade.[6]
A guerra foi declarada em agosto de 1914, mas Wilfred Owen se alistou apenas em 21 de outubro de 1915,[7] tendo considerado se alistar no exército francês, mas eventualmente retornando para a Inglaterra.[8]
Primeira Guerra Mundial
Wilfred Owen se alistou no Artists' Rifles Officers' Training Corps e passou sete meses treinando em Essex, no Campo Hare Hall. Saindo do treinamento em 1916 como um segundo tenente do Regimento de Manchester.[9] Owen chegou no Fronte Ocidental em primeiro de janeiro de 1917. No decorrer de janeiro, é transferido para a linha de frente perto do vilarejo Serre, onde ocorreram os acontecimentos narrados no poema "The Sentry".[10]
Inicialmente, Owen não gostava muito dos homens sob seu comando, comentando sobre eles em uma carta a sua mãe,[11] mas após os traumas que Owen viria a presenciar, ele começou a se identificar com os homens e seu relacionamento com eles passou a ser um de camaradagem e compaixão, como foi expresso na última carta que Owen escreveu, enviada a sua mãe.[12]
A ideia que Wilfred Owen tinha da guerra e como a guerra era realmente eram coisas completamente opostas. Antes, Owen escrevia poemas defendendo a glória das batalhas, como "An Imperial Elegy".[13] Logo no começo de sua experiência na guerra, Owen começa a perder seu idealismo e demonstra isso em suas cartas.[14]
Em abril de 1917, Wilfred sofreu um trauma terrível que contribuiu fortemente com o desenvolvimento de neurastenia, ou neurose de guerra, precursor do transtorno de estresse pós-traumático. Owen estava dormindo quando um explosivo explodiu perto dele e passou dias preso em um buraco com o tamanho exato para seu corpo e perto dele estava os pedaços do corpo de outro soldado.[15]
Em maio, ele foi diagnosticado com neurastenia[16] e depois foi encaminhado de volta para a Inglaterra, onde iria se tratar.[17] Em 25 de junho, Wilfred encaminhado para o hospital Craiglockhart, na Escócia.[18] Em agosto, Siegfried Sassoon, um soldado e poeta renomado de quem Owen era um admirador, chegou em Craiglockhart mas não estando sofrendo com neurastenia. Sassoon foi mandado para Craiglockhart por causa de sua declaração contra a guerra,[19] que chegou a ser lida na Câmara dos Comuns,[20] mas quase o levou a uma corte marcial, sendo salvo pela intervenção de seu amigo Robert Graves, e Sassoon foi declarado como tendo neurose de guerra.
No final de agosto, Wilfred Owen conheceu Siegfried Sassoon[21] e os dois se tornaram amigos próximos muito rapidamente através da poesia. Sassoon serviu como mentor de Owen e Sassoon logo percebeu que estava lidando com muito mais do que alguém com um pouco de talento.[22] A assistência de Sassoon fez com que Owen adentrasse seu período mais fértil de escrita, e seus melhores poemas foram escritos entre agosto de 1917 e sua morte em novembro de 1918.
Sassoon também apresentou Owen a uma elite literária e a outros poetas. Owen ficou amigo de C. K. Scott Moncrieff e Robert Graves, tendo ido para seu casamento em janeiro de 1918[23] (onde conheceu Moncrieff), além de ter conhecido Osbert e Sacheverell Sitwell, H.G. Wells, Robbie Ross, Arnold Bennett entre outros. Tais conhecidos e amigos fizeram Owen se sentir pela primeira vez como um poeta de verdade.[24]
Em novembro de 1917, Wilfred Owen recebeu alta do hospital. Ele foi mandado para Scarborough, e em março de 1918 foi transferido para Ripon, onde escreveu alguns de seus poemas, incluindo "Futility" e "Strange Meeting" e onde passou seu aniversário de 25 anos na Catedral de Ripon, dedicada a um santo com seu nome, Wilfrid.[25] Owen voltou ao serviço ativo em julho, apesar de ele ter podido escolher ficar na Inglaterra. Owen provavelmente escolheu retornar à França porque Siegfried Sassoon tinha sido mandado de volta à Inglaterra após um tiro na cabeça, e Wilfred Owen sentiu que era seu dever retornar para melhor expor os horrores da guerra. Sassoon era contra Owen retornar e Wilfred Owen só o informou quando chegou na França.[22] Ele sabia que tinha chance de morrer, e em 22 de setembro de 1918, pouco depois de chegar na linha de frente, Owen escreveu a Sassoon pedindo que ele visitasse sua mãe, Susan, caso ele não voltasse.
Em 1 de outubro de 1918, Wilfred Owen liderou seus homens perto da comuna francesa de Joncourt. Sua coragem e liderança nesse dia o fizeram ser indicado para receber a Cruz Militar, o prêmio só apareceu na London Gazette em 15 de fevereiro de 1919, dois meses após sua morte.[26][27] A medalha foi uma realização para Owen, pois ele se sentiu validado com poeta de guerra, sendo um soldado condecorado.
Morte
Wilfred Owen foi morto em combate na manhã de 4 de novembro de 1918, uma semana antes do armistício que acabaria a guerra. Ele estava tentando cruzar o Canal Sambre-Oise durante a Batalha de la Sambre, perto de Ors, na França.[28] Sua família recebeu o telegrama informando de sua morte no dia 11 de novembro, enquanto os sinos da cidade batiam e os outros celebravam o fim da guerra. Owen foi promovido a tenente um dia após sua morte.[29] Siegfried Sassoon só soube da morte de Owen meses depois, e foi uma perda com a qual ele nunca conseguiu lidar.[22]
Referências
- ↑ «Owen The Poet | The Wilfred Owen Association». www.wilfredowen.org.uk. Consultado em 7 de novembro de 2017. Arquivado do original em 21 de novembro de 2017
- ↑ «Wilfred Owen's Family | The Wilfred Owen Association». www.wilfredowen.org.uk. Consultado em 14 de novembro de 2017. Arquivado do original em 14 de novembro de 2017
- ↑ Owen, Wilfred (14 de julho de 2000). «Wilfred Owen». Wilfred Owen (em inglês)
- ↑ «Dunsden | The Wilfred Owen Association». www.wilfredowen.org.uk. Consultado em 14 de novembro de 2017. Arquivado do original em 14 de novembro de 2017
- ↑ Foundation, Poetry. «Wilfred Owen». Poetry Foundation (em inglês)
- ↑ Sitwell, Osbert (1950). Noble Essences: A Book Of Characters. Londres: Macmillan
- ↑ «This item is from The First World War Poetry Digital Archive, University of Oxford (www.oucs.ox.ac.uk/ww1lit); © [Copyright notice]». www.oucs.ox.ac.uk (em inglês)
- ↑ Stallworthy, Jon (2004). Wilfred Owen: Poems selected by Jon Stallworthy. Londres: Faber & Faber
- ↑ «This item is from The First World War Poetry Digital Archive, University of Oxford (www.oucs.ox.ac.uk/ww1lit); © [Copyright notice]». www.oucs.ox.ac.uk (em inglês)
- ↑ Bates, Stephen (25 de fevereiro de 2004). «Researchers' find brings Wilfred Owen poem to life». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077
- ↑ «This item is from The First World War Poetry Digital Archive, University of Oxford (www.oucs.ox.ac.uk/ww1lit); © [Copyright notice]». www.oucs.ox.ac.uk (em inglês)
- ↑ «This item is from The First World War Poetry Digital Archive, University of Oxford (www.oucs.ox.ac.uk/ww1lit); © [Copyright notice]». www.oucs.ox.ac.uk (em inglês)
- ↑ «An Imperial Elegy by Wilfred Owen»
- ↑ «This item is from The First World War Poetry Digital Archive, University of Oxford (www.oucs.ox.ac.uk/ww1lit); © [Copyright notice]». www.oucs.ox.ac.uk (em inglês)
- ↑ «This item is from The First World War Poetry Digital Archive, University of Oxford (www.oucs.ox.ac.uk/ww1lit); © [Copyright notice]». www.oucs.ox.ac.uk (em inglês)
- ↑ «This item is from The First World War Poetry Digital Archive, University of Oxford (www.oucs.ox.ac.uk/ww1lit); © [Copyright notice]». www.oucs.ox.ac.uk (em inglês)
- ↑ «This item is from The First World War Poetry Digital Archive, University of Oxford (www.oucs.ox.ac.uk/ww1lit); © [Copyright notice]». www.oucs.ox.ac.uk (em inglês)
- ↑ «Craiglockhart | The Wilfred Owen Association». www.wilfredowen.org.uk. Consultado em 14 de novembro de 2017. Arquivado do original em 14 de novembro de 2017
- ↑ «Sassoon's Protest Statement». exhibits.lib.byu.edu
- ↑ «PEACE PEOPLE - SIEGFRIED SASSOON». www.ppu.org.uk. Consultado em 14 de novembro de 2017. Arquivado do original em 8 de fevereiro de 2018
- ↑ «This item is from The First World War Poetry Digital Archive, University of Oxford (www.oucs.ox.ac.uk/ww1lit); © [Copyright notice]». www.oucs.ox.ac.uk (em inglês)
- ↑ a b c Sassoon Siegfried (1920). Siegfrieds Journey 1916-1920. [S.l.: s.n.]
- ↑ «This item is from The First World War Poetry Digital Archive, University of Oxford (www.oucs.ox.ac.uk/ww1lit); © [Copyright notice]». ww1lit.nsms.ox.ac.uk (em inglês)
- ↑ «This item is from The First World War Poetry Digital Archive, University of Oxford (www.oucs.ox.ac.uk/ww1lit); © [Copyright notice]». ww1lit.nsms.ox.ac.uk (em inglês)
- ↑ «Welcome to Ripon Cathedral». 3 de junho de 2010
- ↑ «"No. 31480"». The London Gazette. 14 de fevereiro de 1919
- ↑ «"No. 31480"». The London Gazette. 30 de Julho de 1919
- ↑ «This item is from The First World War Poetry Digital Archive, University of Oxford (www.oucs.ox.ac.uk/ww1lit); © [Copyright notice]»
- ↑ «This item is from The First World War Poetry Digital Archive, University of Oxford (www.oucs.ox.ac.uk/ww1lit); © [Copyright notice]»