Väinämöinen (AFI: [ˈʋæinæˌmøinen]) é um semideus, um herói e o personagem central do folclore finlandês, personagem principal da epopeia nacional Kalevala. Seu nome vem da palavra finlandesa väinä, que significa algo como "grande e largo rio que corre".[1] Väinämöinen é descrito como um velho e sábio homem, que possui uma potente e mágica voz.[2][3]
No folclore finlandês
A primeira menção ainda existente de Väinämöinen na literatura é na lista de deuses de Tavastia (província histórica da Finlândia), escrita por Mikael Agricola, em 1551. Ele e outros escritores descreveram Väinämöinen como um deus de cânticos, músicas e poesia; em muitas histórias, Väinämöinen é a figura central do nascimento do mundo. No poema épico nacional, Kalevala, conta-se a respeito de seu nascimento durante as primeiras partes do mito de criação. O mito tem também elementos comuns a outros mitos de criação, tais como o caos e o ovo cósmico.[3][4]
No início, eram apenas as águas primordiais e o Céu. Mas o Céu também tinha uma filha, chamada Ilmatar. Um dia, buscando um lugar para repousar, Ilmatar submergiu nas águas, onde ela nadou e flutuou livremente por 700 anos, até notar um belo pássaro que buscava um lugar para pousa. Ilmatar ergueu seu joelho para que o pássaro pudesse pousar e assim ele o fez. O pássaro então botou seis ovos feitos de ouro e um feito de ferro. Conforme os ovos chocavam, Ilmatar foi acometida de um crescente calor. Eventualmente, ela começou a se queimar e acabou por mover sua perna, o que deslocou os ovos, que caíram nas águas. A terra começou a se formar na parte de baixo das cascas e na parte de cima o céu. As claras se tornaram a lua e as estrelas e as gemas viraram o Sol.[4]
Ilmatar continuou flutuando pelas águas por várias centenas de anos, admirando o resultado daqueles eventos, mas ela não podia resistir ao desejo da criação. Suas pegadas se tornaram piscinas naturais para os peixes e apenas por apontar, ela começou a criar contornos na terra. Assim, Ilmatar criou o mundo e um dia, ela deu à luz Väinämöinen, o primeiro homem, cujo pai era o oceano. Väinämöinen nadou até encontrar terra firme, mas foi impedido de pisar nela. Assim ele pediu ao grande urso no céu por ajuda. Sampsa Pellervoinen, carregando sementes, veio em sua ajuda e Sampsa passou a semear plantas por toda a terra.[4]
No século XIV, alguns folcloristas, principalmente Elias Lönnrot, o escritor da Kalevala, contestava o passado mitológico de Väinämöinen, alegando que ele era um antigo herói ou xamã de grande influência, que teria vivido em algum momento do século IX.[5] Lönnrot tornou Väinämöinen o filho da primitiva deusa Ilmatar, que ele mesmo criou, inclusive tendo inventado a história sobre o pássaro que botou os ovos em seu joelho.[3][5]
Väinämöinen, ainda segundo Lönnrot, possuía uma sabedoria de eras desde seu nascimento, já que ele ficou no ventre da mãe por 730 anos, enquanto ela flutuava no oceano e a terra se formava. Depois de orar para o sol, a lua e para o grande urso (as estrelas da constelação da Ursa Maior), ele foi capaz de sair do ventre e vagar pelo oceano.[5]
Väinämöinen é apresentado com um bardo eterno, que exerce ordem sobre o caos, tendo estabelecido as terras de Kalevi, onde muitos eventos da Kalevala ocorrem. Sua busca por uma esposa o leva para as terras de Kalevi, que entram em contato com um vizinho, primeiramente amigável e depois hostil, no norte, os Pohjola. O conflito culmina com a criação e o roubo de Sampo, um artefato mágico feito por Ilmarinen; há então uma busca subsequente para recuperá-lo, o que leva à uma batalha que acaba por partir Sampo em vários pedaços, que são dispersos pelo mundo, em locais desconhecidos.[4][5]
Ele também é conhecido por uma voz mágica e poderosa, que transformou o impetuoso Joukahainen, seu rival, em um garotinho. Väinämöinen também mata um grande peixe, do qual ele se utiliza dos ossos para fazer uma mágica kantele.[5]
No último poema da epopeia, Väinämöinen examina um bebê, filho da donzela Marjatta, que engravido depois de comer uma amora.[6][5] Seu veredito é que o bebê, nascido sob condições tão estranhas, seja morto. O bebê, então com apenas duas semanas, rebate a decisão de Väinämöinen e o critica por diversas decisões, como o de permitir que a donzela Aino, irmã de Joukahainen, se afogasse. O bebê então é por fim batizado e nomeado rei de Kalevala. Derrotado, Väinämöinen vai para a beira do mar, onde canta para chamar para si um barco de cobre, com o qual ele navegada para os abismos mortais. Em suas últimas palavras, Väinämöinen promete que chegará um dia em que ele retornará, quando suas habilidades serão mais uma vez necessárias.[3][5]
“
Deixe o tempo, os dias passarem
e necessário novamente um dia serei, necessário eu serei, ansiado, procurado Para forjar a nova Sampo, para construir uma nova kantele para mover a nova lua, para mudar um novo dia.[6]
”
O último poema ecoa a chegada do cristianismo à Finlândia e a subsequente queda dos cultos pagãos. É um tema bastante comum aos contos épicos, como no conto do Rei Artur, onde Artur declara uma promessa semelhante ao partir para Avalon.[3][4]
Väinämöinen em outras culturas
No épico nacional da Estônia, o Kalevipoeg, um herói similar é chamado de Vanemuine. Pela Escandinávia, Odin divide muitos atributos com Väinämöinen, como sua ligação com a poesia e a música.[3]
J. R. R. Tolkien
Väinämöinen foi identificado como sendo a fonte de Tolkien para a criação do mago Gandalf, em The Lord of the Rings.[7] Outro personagem de Tolkien também tem diversas semelhanças com Väinämöinen: Tom Bombadil. Tal como o herói finlandês, ele é um dos mais poderosos seres do universo de Tolkien e são ambos antigos e seres naturais. Tanto Bombadil quanto Väinämöinen possuem poderes para a canção e para a sabedoria. Barbárvore e os Ent em geral foram todos sinonimizados como sendo inspirados na figura de Väinämöinen.[8]
Referências
↑Behind the name (ed.). «Väinämöinen» (em inglês). Behind the name. Consultado em 21 de outubro de 2017
↑Siikala, Anna-Leena (2013). Itämerensuomalaisten mytologia. Helsinque: Finnish Literature Society. p. 500. ISBN978-952-222-393-7